Helena congelou. Lorenzo, por outro lado, ficou com o rosto imediatamente fechado.
— Estela, que absurdo é esse?! Somos da mesma família! Eu sou como um irmão pra ela! — Disse, exaltado.
Estela curvou os lábios num sorriso de puro sarcasmo.
É sempre assim. Quem tem a consciência suja é quem mais se irrita.
— Então dá pra outra pessoa usar. — Respondeu com desdém. — De qualquer forma, eu não vou usar.
Lorenzo franziu o cenho.
— O que você quer dizer com isso?
— Meu significado sempre foi claro. — Disse ela, levantando o queixo. — Eu não quero mais me casar com você. E amanhã, no altar, você vai estar sozinho.
— Vai começar de novo com esse joguinho de fazer charme...
Lorenzo começou a falar, impaciente, mas ao encarar o olhar frio de Estela, engoliu as palavras.
Seus olhos desceram até a perna dela, toda enfaixada.
A lembrança da noite anterior voltou — Estela, preferindo cravar uma tesoura na própria coxa do que deixar ele tocar.
A irritação voltou com força.
— Estela, o casamento tá aí. Chega de drama, tá bom?
Ela só estava fazendo isso porque estava magoada por ele não lhe dar atenção.
Logo, logo, ela voltaria atrás. Voltaria a correr atrás dele, ansiosa pelo casamento.
— Quanto ao vestido... — Disse, olhando de relance para a peça jogada ao lado.
Estela achou que ele fosse repetir o mesmo de antes: forçar ela a caber na roupa de Helena.
Mas ele a surpreendeu.
— Se você prefere aquele modelo original, tudo bem. Use ele.
Helena ergueu a cabeça, assustada.
— Lorenzo...
— Tudo bem. — Disse ele, fazendo um carinho leve na cabeça da garota. — Você pode desenhar outro da próxima vez.
O rosto dela empalideceu, mas ainda assim assentiu, obediente.
Lorenzo saiu levando Helena.
Mas não demorou muito, e Helena voltou.
Parou diante de Estela com um olhar firme, direto, e disse em tom seco:
— Estela, ontem no carro, você viu tudo, não viu?
Já não havia nada de tímido nela.
O que havia ali era puro desafio.
Estela não respondeu diretamente.
— Foi você quem se drogou?
— Foi. — Admitiu, sem rodeios. — Lorenzo sempre me amou. Eu só dei o empurrãozinho que ele precisava.
Estela entendeu tudo.
Na vida passada, ela nunca soube se aquilo entre os dois era unilateral ou mútuo.
Agora, tinha certeza.
— Felicidades pra vocês. — Disse, sincera.
Mas Helena explodiu.
— Ah, para com essa ironia barata! Mas tenho que reconhecer... você tá mais esperta agora.
Ela deu uma risada amarga.
— Antes era só uma tola apaixonada. Agora aprendeu a fingir nobreza? Acha que só porque ontem você preferiu se ferir a transar com ele, ele vai te olhar diferente? Sonha! Hoje eu vou te mostrar quem ele ama de verdade!
Dito isso, avançou, pressionando um pano contra o rosto de Estela.
O cheiro era forte.
Estela tentou resistir, mas a dor na perna a deixava fraca.
As empregadas, já afastadas por acharem que a conversa era privada, não estavam por perto.
Sem força para reagir, Estela desmaiou.
...
Acordou sentindo calor.
Ao abrir os olhos, viu-se cercada por chamas. Helena estava deitada ao lado dela.
— Você tacou fogo na minha casa?! Você tá louca?! — Gritou, tentando se levantar.
— Você não dizia que o Lorenzo ainda gostava de você? Hoje eu vou te mostrar o quanto ele me ama. — Disse Helena, com um sorriso insano.
Logo depois, uma voz desesperada ecoou do lado de fora.
— Helena! Onde você tá?!
Num segundo, Helena assumiu uma expressão de vítima, lágrimas nos olhos.
— Lorenzo! Eu tô aqui! Me ajuda!
Lorenzo invadiu o cômodo em chamas. Ao ver Estela caída, hesitou por um momento.
Mas Helena gritou de dor — a chama a tocara de leve — e imediatamente ele correu até ela.
— Helena!
A pegou no colo. Ao passar por Estela, parou por um segundo e disse, apressado:
— Eu levo a Helena pra fora e volto pra te tirar daqui.
E saiu correndo, sem olhar para trás.