A mão de Estela, que já se estendia para bater na janela, parou no ar.

Até ela que não estava dentro do carro percebeu o que havia de errado. Imagina Lorenzo, ali do lado.

Logo em seguida, ouviu a voz dele, ansiosa e séria:

— Helena, você foi drogada com algum afrodisíaco. Vou te levar pro hospital agora!

Mas, de dentro do carro, Helena o abraçou com força e começou a chorar.

— Lorenzo... tá doendo... por favor, me ajuda...

A voz doce, embargada, carregada de desejo, foi como um raio nos nervos mais sensíveis do homem.

Lorenzo já estava se controlando com toda a força que tinha. Mas ao ouvir a súplica da menina, toda sua resistência desmoronou.

Num impulso, jogou-se sobre ela.

Estela encarava o carro à frente. Ficou ali, imóvel, até ouvir os soluços abafados de Helena.

Lorenzo... ainda não tinha parado.

Um sorriso amargo se desenhou nos lábios de Estela.

Na vida passada, estiveram casados por vinte anos. E os momentos de intimidade cabiam nos dedos de uma mão.

Mesmo no final, quando o relacionamento já era só rotina, ainda assim ela precisou pedir.

No seu aniversário de trinta e cinco anos, a única coisa que pediu foi uma noite com ele.

Ele cedeu. Uma única vez.

Ela achava que Lorenzo simplesmente não ligava para sexo.

Mas agora entendia — ele só não ligava para isso com ela.

Estela se virou e foi embora.

Talvez... fosse melhor assim.

Dessa vez, cada um estava conseguindo exatamente o que queria.

...

Duas horas depois, a festa estava chegando ao fim. Como anfitriã, Estela precisava dizer algumas palavras.

Subiu até o camarim no andar de cima, tomou um suco para refrescar a garganta e foi retocar a maquiagem.

Mas, de repente, sentiu uma onda quente se espalhar pelo baixo ventre.

Algo estava errado.

Estava prestes a chamar alguém, quando uma voz fria cortou o ar, vindo da porta:

— E aí, Estela, não é nada bom ser drogada, né?