— Lorenzo... — Helena sussurrou, com os olhos marejados antes de se lançar nos braços dele.
Do lado de fora do quarto, Estela ficou completamente pálida.
De repente, a lembrança veio como um golpe.
Na vida passada, Lorenzo havia dito que mandara preparar um suplemento especial, feito sob medida para ela — vitaminas, segundo ele.
Estela ficou emocionada, achando que era sinal de carinho. Todos os dias, tomava aquelas cápsulas com dedicação.
Os anos passaram e eles nunca tiveram filhos. Fizeram exames. O diagnóstico caiu sobre Estela: desequilíbrio hormonal.
Ela começou o tratamento. Injeções para estimular a ovulação, uma após a outra. Seu ventre ficou coberto de hematomas. O corpo inchado pelos hormônios. Mesmo assim, nada de engravidar.
A médica chegou a perguntar se havia algo na dieta ou em suplementos que pudesse estar interferindo.
Estela considerou mil possibilidades. Mas jamais... jamais desconfiou das "vitaminas" que Lorenzo lhe dava.
Agora, a verdade estava nua diante dela.
Deu um passo para trás, cambaleante.
— Lorenzo... como você pôde... — Murmurou, a voz embargada.
Nesse instante, um segurança apareceu.
— Srta. Estela? — Ele pareceu surpreso ao ver ela ali.
Estela enfiou apressadamente o pingente de jade nas mãos do homem.
— Entregue isso ao Lorenzo. — Disse, sem olhar para trás enquanto ia embora.
...
Naquele dia, Estela fazia aniversário.
Como logo iria embora, resolveu — pela primeira vez em muitos anos — dar uma festa.
Ela, que sempre detestara aglomerações, abriu as portas para os amigos.
O que não esperava era que Lorenzo aparecesse. E ainda por cima… acompanhado de Helena.
— Um presente. — Disse Lorenzo, jogando uma caixinha em suas mãos, frio como sempre.
Estela olhou. Era um anel de diamante.
Igualzinho ao da vida passada.
Que piada cruel.
Um anel que deveria simbolizar um pedido de casamento... dado como presente de aniversário.
Uma lembrança clara de que, para ele, aquele casamento sempre fora apenas uma obrigação.
Na outra vida, ela chorou de emoção por esse mesmo anel. Agora, não hesitou em devolvê-lo.
— o pingente de jade que mandei de volta com o segurança… você não recebeu?
Se tivesse visto o pingente de jade da família Bastos, Lorenzo deveria entender que ela não queria mais se casar com ele.
Lorenzo franziu o cenho.
— Não. Eu já falei: não preciso de presente nenhum. Nem abri o pacote.
Estela parou por um instante.
Claro. Ele devia ter presumido que era um presente, e por isso nem teve a curiosidade de ver o que havia dentro.
Lembrou-se então de algo.
Na vida passada, quando arrumava os pertences dele, encontrou um depósito cheio de caixas empoeiradas.
Eram todos os presentes que ela lhe dera.
A corrente que ela mesma talhou, à mão, para os 25 anos dele.
O amuleto que buscou rezando por três dias seguidos numa igreja, quando ele ficou doente aos 33.
O aromatizador que ela estudou durante um ano para aliviar suas dores de cabeça aos 40.
Todos ignorados. Esquecidos. Selados em caixas. Nem sequer abertos.
Enquanto isso, as dobraduras toscas que Helena fazia, uma gravata barata, até mesmo bilhetinhos — todos cuidadosamente guardados no cofre.
Com um sorriso cínico nos lábios, Estela não disse mais nada. Apenas foi receber os convidados.
No meio da festa, Helena cambaleou e caiu nos braços de Lorenzo.
— Lorenzo... minha cabeça... está girando...
Lorenzo empalideceu na hora.
— Será que foi alguma coisa que comeu? Eu te levo ao hospital agora. — Disse, pegando-a nos braços sem dar espaço para protestos.
Estela franziu o cenho.
A festa era dela. Se algo acontecesse com Helena, a responsabilidade cairia sobre ela. E prestes a partir para o instituto, não queria escândalos.
Então decidiu acompanhar.
Mas assim que se aproximou do Bentley preto de Lorenzo, ouviu algo que a fez parar em seco.
— Lorenzo... tô com tanto calor... — Gemeu Helena, com a respiração entrecortada.