Aqua
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Por: Richard_Sa
Capítulo I: Atraso

  Frio. Apenas o frio me fazia companhia naquela manhã de segunda. Apenas o frio era o que eu sentia. A melhor parte de se viver em Santa Catarina era isso, ser cercado pelo frio. Curiosamente o orfanato tinha uma onda quente o que as vezes me deixava com uma sensação claustrofóbica, não que o orfanato fosse extremamente quente, mas eu gostava do frio, sempre gostei.

- Beto, vamos, a gente tá atrasado.

 Esse era Carlos, famoso por interromper momentos de reflexão e por sempre se preocupar com horários.

  - Vá na frente, vou depois. – falei em um tom monótono.

  -Mas...deixa, você que se arque com suas consequências, só não diga que não avisei. - falou ele claramente irritado.

  Carlos era assim, com uma personalidade difícil e que sempre ficava sem paciência em menos de cinco minutos em uma conversa. Ele era um ano mais novo que eu e mesmo assim parecia ter o dobro de maturidade. Ele era alto, alto do tipo que pode virar jogador de basquete e também era magro, o que sentenciava totalmente sua futura profissão. 

  Olhei o relógio de pulso rapidamente me dei conta de que Carlos estava certo, estávamos muito atrasados, peguei rapidamente minha mochila e corri na esperança de alcançar Carlos.

  Havia uma van que levava os órfãos para a escola e esta já estava bem longe quando eu finalmente saí dos arredores do orfanato. Droga. A van dava um total de dois circuitos, o que significava que teria que esperar a sua segunda volta, chegando assim no segundo horário. 

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  Assim que coloquei os pés na escola percebi que não era o único que tinha chegado atrasado, na última cadeira encostada na parede tinha uma menina sentada, automaticamente pensei que deveria ser novata, nunca tinha visto ela pelos corredores e eu me lembraria se tivesse visto. A garota em questão era particularmente linda, do estilo que nunca esquecemos quando vemos tamanha beleza. 

  -Com licença, você é nova por aqui? – perguntei me sentando a duas cadeiras de distância( muita proximidade poderia deixala desconfortavel).

  -Sim, eu sou.

  -Hã...eu sei como é- falei sendo solidário a situação dela.

  -Como é o que? – ela falou um pouco mais alto evidenciando o doce tom de sua voz, que soava de uma forma angelical. 

  -Sei como é ir pra um lugar novo e estranho, com pessoas novas e estranhas.

  -É realmente muito ruim- falou transparecendo mais calma em sua voz. – Quando você se mudou pra essa escola?

  -Já faz um ano e meio. 

  -E por que aqui? 

  -Meu pai morreu há dois anos em um acidente, como eu não tinha mais ninguém na família, fui morar num orfanato aqui perto, por isso me colocaram aqui.

  -Sinto muito, deve ter sido uma péssima experiência.

  -É, foi mesmo. – Ainda me lembro nitidamente, meu pai caído em baixo do carro e o sangue vermelho escuro escorrendo por toda a rua, manchando-a. Balancei a cabeça tentando afastar esses pensamentos. – Mas então. Qual seu nome?

  -Meu nome é Lúcia e o seu?

  -Roberto, mas deixo você me chamar de Beto. – sorri pra ela que devolveu o sorriso e por um momento me perdi nas curvas de sua boca.

O sinal tocou tirando-me de meu devaneio.

  -O que foi isso? - Lúcia perguntou parecendo assustada.

  -É só o sinal da escola, começou o segundo horário- disse me levantando- De qual turma você é? 

Ela verificou os papéis em suas mãos.

  -Segundo ano, turma B.

  -Ótimo, você é da minha turma, vamos.

  -Vamos, estou empolgada pra finalmente ter aulas. – ela disse animada, prova de que o nervosismo já se fora. 

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  Quando chegamos na sala, o professor Henrique já estava lecionando e quando nos viu na porta parou imediatamente.

  -Chegando atrasado novamente Sr. Chavez? Vejo que já conheceu a aluna nova, gostaria de apresenta-la a turma?

  Não era por causa da matéria- porque eu adorava matemática- mas esse professor era sem sombra de dúvida, insuportável, visto que sua aparência não era nada boa, era magro e alto – por isso o chamavam de bicho-pau-, sua pele era de cor madeira e seus óculos redondos não combinavam nada com o formato achatado de seu rosto feio.

  -Claro Sr. Bich-opa, digo Sr, Henrique... Pessoal essa é a nossa nova colega Lúcia, ela veio de...de onde você veio mesmo? - virei pra ela. 

  -Amazônia. – ela disse me surpreendendo, as pessoas de lá eram mais bronzeadas e os tons de cabelo não variavam muito de preto para castanho escuro, mas lúcia tinha uma beleza incomum pra quem veio do Amazônia, ao invés de ter sua pele bronzeada, era extremamente pálida e seus cabelos eram ruivos.

  -Amazônia? Porra, isso é bem longe.-    De repente me senti curioso: por que alguém teria vindo de tão longe?

  -É, eu sei. 

  -Bom pessoal, como eu ia dizendo: ela veio da Amazônia e é o primeiro dia dela aqui, não a encham de perguntas, ok?

  -Muito bem Sr. Chavez- disse o bicho-pau- Pode ir para o seu lugar. Quanto a você Srta....- ele olhou um momento para os papéis em sua mesa- Srta. Franco, sente-se ao lado de Roberto, na carteira vaga.

Olhei para Carlos, tentando chamar sua atenção.

  -Ei, psiu, psiu, Carlos, ei. - sussurrei.

  -Que foi, caramba? - ele falou claramente irritado.

  -Foi mal, quase fiz você se atrasar. 

  -É, exatamente, quase. Mas de qualquer forma você que se atrasou, mas dessa vez você deu sorte.

  -Sorte?

  -Quer dizer, você a conheceu, não acha que valeu a pena? - ele apontou com o lápis para Lúcia que encarava o Sr. Henrique com atenção.

  Era verdade, foi bom conhecer Lúcia, ela parecia ser bem diferente das outras meninas e algo me dizia que eu iria descobrir mais sobre ela.

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