- Às 0:30 em Cidade J, um avião indo para Cidade B sofreu um acidente ao pousar. O número de mortos já subiu para 136, com apenas três sobreviventes até o momento.

O noticiário exibido na tela grande do hospital trouxe Jasmim Barros de volta à realidade.

Como uma das sobreviventes, ela jazia em uma cama de UTI, suas pernas envoltas em ataduras, com ferimentos por todo o corpo.

O celular que ela segurava em sua mão vibrava constantemente:

- O número que você discou está desligado, por favor tente mais tarde.

Desde o momento do acidente, Henrique Lopes, seu marido apenas em nome, não atendeu a uma única chamada.

Ela não podia acreditar que ele estivesse completamente alheio a um desastre aéreo que chocou a nação inteira.

O local do acidente estava repleto de corpos, e o pavor de ter quase perdido a vida ainda apertava sua garganta, deixando-a sem fôlego.

E o homem com quem ela se casou há três anos estava desaparecido justo quando ela mais precisava dele.

Um calafrio percorria o íntimo de Jasmim.

Depois de algum tempo, o celular tocou abruptamente. Ela recuperou seus sentidos, verificou o identificador de chamadas e seu brilho interior se desvaneceu ao ver o nome "Avó" piscando na tela.

- Alô... - Sua voz estava rouca.

Ouviu uma voz envelhecida mas carinhosa do outro lado da linha:

- Jasmim, você me assustou demais, minha querida! Como você está? Henrique está com você?

Esta era a avó d Henrique, a única pessoa na extensa família Lopes que realmente se importava com ela.

- Ele...

Seu silêncio foi o suficiente para Nanda Lopes perceber.

- Aquele moleque irresponsável! Você, sendo esposa e Secretária, estava viajando a trabalho para ele, e agora que você se acidentou, ele some? Espere só, vou acertar as contas com ele! - Nanda continuou. - Em qual hospital você está? Vou mandar alguém te buscar agora mesmo!

Depois de fornecer o endereço, Jasmim desligou o telefone.

Ela baixou a cabeça e, silenciosamente, retirou a agulha do soro do seu braço. Ignorando a dor todo o corpo, ela se levantou da cama.

- O que você pensa que está fazendo? Suas pernas ainda não estão curadas; você precisa de repouso.

A enfermeira que entrou para fazer a ronda não conseguiu detê-la.

- Traga-me duas muletas, quero dar alta.

O olhar de Jasmim era resoluto e não admitia contestação.

Ela acreditava que a Mansão dos família Lopes seria um lugar mais adequado para sua recuperação.

Além disso, ela era a secretária do presidente do Grupo Lopes, e voar até a Cidade DB era precisamente para representar o grupo na organização e verificação de uma exposição médica. O relatório que ela elaboraria teria de ser imediatamente enviado ao Grupo Lopes.

O que mais a intrigava era descobrir o que Henrique estava realmente fazendo e onde ele se encontrava.

Impaciente, Jasmim conseguiu convencer a enfermeira a trazer-lhe duas muletas. Sem hesitação, deixou o quarto e mancou rumo ao setor de pagamento do hospital, apoiando-se nas paredes. No entanto, ao chegar próximo às grandes janelas de vidro do saguão, seus olhos captaram uma placa de carro familiar. Atrás dela, uma fila de carros luxuosos.

Era a frota interna do Grupo Lopes.

Descendo dos carros, várias pessoas se aglomeravam em torno de um homem vestido em um terno preto que carregava nos braços uma mulher. Era visível o quanto ele valorizava a mulher em seus braços, cujas pernas despidas estavam envoltas em um sobretudo preto.

O homem, apressado, caminhou em direção ao saguão principal do hospital.

Ele nem sequer notou a presença de Jasmim.

Ela permaneceu onde estava, observando-o à distância, enquanto ele entrava diretamente na clínica do especialista médico com a mulher nos braços.

Em três anos de casamento, ela nunca o vira demonstrar tanta paixão.

Quem era essa mulher?

Não importava quem fosse, uma dor indescritível se espalhou pelo peito de Jasmim.

Uma dor que a sufocava.

Pouco depois, enfermeiras passavam por ela no longo corredor do hospital, cochichando entre si:

- Meu Deus, é Henrique, o herdeiro do Grupo Lopes que sempre aparece nas notícias financeiras! Ele é tão lindo! E está aqui para um exame de gravidez com a namorada!

- Exame de gravidez? Você tem certeza?

- Claro! O relatório dizia que o feto já tem 12 semanas! Eles vieram porque houve um sangramento, é por isso que o Sr. Henrique a trouxe nos braços.

"12 semanas, então foi há dois meses atrás..."