Karina entrou cambaleando no quarto do hospital, quase perdendo o equilíbrio.
O médico havia acabado de examinar Otávio e, ao ver Ademir, disse:
— Sr. Ademir, o senhor chegou. O Sr. Otávio está temporariamente fora de perigo, apenas bastante fraco. Ele precisa cuidar bem da saúde, prestar atenção à alimentação e ao descanso. O mais importante é manter o bom humor e não sofrer choques emocionais.
Terminando de falar, o médico saiu.
Otávio estava meio deitado e acenou com a mão.
— Ademir, Karina, vocês tiraram a certidão de casamento hoje. Não disse ao Ademir para aproveitarem a lua de mel e não virem me ver?
— Sr. Otávio. — Karina estava um pouco nervosa. — Desculpe...
Otávio ficou confuso:
— Ainda me chama de Sr. Otávio? Por que está se desculpando comigo?
— Eu...
Com um aperto no pulso, Ademir interrompeu suas palavras:
— Karina quer dizer que, com o senhor ainda no hospital, não temos cabeça para aproveitar a lua de mel. Por isso, tivemos que desobedecer a sua vontade.
Karina ficou surpresa. Ademir não iria revelar sua verdadeira face?
— Haha, eu sabia que Karina era uma boa garota. — Otávio riu alto. — Só de virem me ver já está bom. O médico disse que estou bem, há médicos e enfermeiras aqui. O mais importante para mim é que vocês dois estejam bem juntos. Hoje é um dia especial para vocês, vão logo aproveitar. Ademir, tome a iniciativa.
— Sim, avô, descanse bem.
Ademir segurou a mão de Karina e os dois saíram do quarto juntos.
A intimidade durou apenas um momento.
Assim que saíram do quarto, Ademir soltou a mão de Karina e afrouxou o nó da gravata.
— O avô não pode sofrer choques emocionais, então vamos esconder isso dele por enquanto.
Se o avô soubesse que insistiu para que Ademir se casasse com uma mulher assim, certamente desmaiaria de raiva!
Karina compreendia sem que ele precisasse dizer.
O olhar de Ademir era frio e suas palavras feriam:
— Só o fato de seu nome estar no registro da família Barbosa por um segundo a mais, já me enoja.
Mesmo que fosse um casamento de conveniência, ela não era digna!
Karina estremeceu, apertando as mãos, sentindo as palmas frias e suadas.
Parecia que estava sendo despida e humilhada em público.
Mas ela não tinha como argumentar; tinha vendido seu corpo e ainda confundido a pessoa! Ela era uma vergonha! Realmente, ela era suja!
Ademir desviou o olhar, desprezando-a a ponto de não querer vê-la mais.
— Primeiro, vamos resolver o divórcio. Espere meu aviso e vá ao cartório de registro civil pontualmente. Quanto ao avô, até ele se recuperar, você vai interpretar direitinho o papel de neta. Entendido?
— Entendi. — Karina assentiu atônita.
Ademir se virou e foi embora, sua postura exalando uma arrogância solitária.
Karina ficou ali parada, sorrindo amargamente.
Ela não o culpava por estar tão zangado.
Mesmo assim, Karina se sentia injustiçada e insatisfeita.
Qual mulher não sonha em casar-se por amor? No passado, ela também teve alguém que a considerava um tesouro.
Mas nesta vida, isso nunca mais aconteceria...
Ao sair do hospital, Karina voltou para o dormitório da Universidade J, sem ir para a mansão Mission Hills. Ela pensou que, dado o grau de aversão de Ademir, provavelmente não precisariam mais morar juntos.
À noite, Karina recebeu um telefonema de Júlio.
— Irmã, você pode ir ao cartório de registro civil na próxima quarta-feira para resolver o divórcio?
— Posso sim. — A voz de Karina era suave, com um toque de sorriso. — Estarei lá pontualmente.
Ao desligar o telefone, Karina mantinha uma expressão tranquila.
Era um casamento de conveniência, não havia motivo para tristeza, apenas não esperava que terminasse tão rapidamente.
Após vários dias de cansaço e tensão, naquela noite, Karina finalmente teve uma boa noite de sono.
Acordou de manhã se sentindo renovada.
Depois de se arrumar, Karina caminhou até o Hospital J.
Ela estava cursando Medicina na Universidade J e atualmente fazia estágio em Cirurgia no Hospital J.
Naquele dia, ela estava de plantão na clínica ambulatorial e, felizmente, o número de pacientes não era grande, permitindo que saísse no horário.
Trocou o uniforme de trabalho e foi para o Restaurante Ocean.
Quando chegou, Simão Nogueira e Patrícia Santos já estavam lá.
Os três eram colegas desde a escola primária, e continuaram juntos até a universidade.
Patrícia e Karina estudavam medicina, mas em especialidades diferentes. Já Simão estudava finanças e se formou um ano antes delas. Todos estavam ocupados e fazia algum tempo que não se reuniam. Recentemente, Simão foi para o exterior e, ao voltar, marcou um jantar com elas.
— Karina chegou!
Karina se aproximou e viu que a mesa já estava cheia de comida.
— Por que pediu tanta comida?
Patrícia respondeu:
— Simão quis comer, mas ele não consegue comer tudo sozinho. Ainda bem que estamos aqui. Ele é terrível, nos chantageia emocionalmente!
— Tá bom, eu não te chantageio. — Simão arqueou uma sobrancelha com um ar travesso e mostrou os dentes para Karina. — Eu só chantageio a Karina. Karina, coma mais. Não vamos deixar nada para a Patrícia!
— Você é irritante!
Os dois riram e brincaram, e Karina se sentiu mais relaxada.
— Karina. — Simão observou a expressão de Karina e perguntou: — Você me ouviu falar?
Karina pegou um pedaço de comida e perguntou:
— Ouvir falar de quê?
Patrícia e Simão trocaram olhares e colocaram um pedaço de carne no prato dela:
— É que Túlio Martins está voltando.
Karina parou por um momento, seu rosto mudou ligeiramente e ela balançou a cabeça:
— Eu não sabia.
— Ele mandou uma mensagem no grupo de bate-papo, dizendo que quando voltasse, queria reunir todo mundo.
O grupo de bate-papo do qual Simão falou, Karina também fazia parte.
Depois que Karina e Túlio terminaram, ela o removeu dos contatos e saiu do grupo, então não sabia sobre isso.
Simão perguntou novamente:
— Karina, você vai?
Karina deu um sorriso, mas sem muita alegria:
— Pra quê eu iria?
— Não é uma reunião de colegas? É uma oportunidade rara... — Patrícia disse em voz baixa.
Karina balançou a cabeça novamente:
— Encontrar meu ex? Desde o dia em que terminamos, não tenho intenção de vê-lo novamente nesta vida.
Ao falar, Karina apertou a mão involuntariamente.
— Karina, não fique brava. — Patrícia rapidamente deu um olhar repreensivo para Simão. — Eu disse para você não mencionar isso! Não vamos vê-lo. Ninguém quer ver aquele canalha!
— Minha culpa. — Simão também ficou um pouco irritado e olhou para Patrícia. — Naquela época, se Túlio não tivesse atrapalhado meus planos, Karina já estaria comigo! Ele nem sabia valorizar Karina.
Patrícia estava bebendo água e, ao ouvir isso, quase se engasgou:
— Simão, você não tem vergonha?
— Estou muito satisfeito com essa minha cara. — Simão sorriu maliciosamente e perguntou: — Karina, a velha bruxa andou te incomodando ultimamente?
A velha bruxa era Eunice. Eles cresceram juntos, então sabiam bem da situação de Karina.
Dessa vez, Karina não tinha contado nada a eles e nem pretendia contar. Ela sorriu e balançou a cabeça:
— Está tudo bem, estou aqui, não estou?
— Parece estar bem. — Simão não percebeu nada de errado e disse: — Se tiver algum problema, me avise. Estou aqui para te ajudar.
— E eu também! — Patrícia levantou a mão, apressada.
— Tudo bem. — Karina sorriu e acenou com a cabeça.
No entanto, Karina não contaria qualquer problema a eles. Eles tinham mais ou menos a mesma idade que ela e dependiam da ajuda de suas famílias. Embora fossem gentis com ela, Karina sabia que não podia abusar disso. Além do mais, a situação já havia sido resolvida.
Após o jantar, Simão tinha outros compromissos e saiu primeiro. Karina seguiu Patrícia até o apartamento alugado.
Naquela noite, Karina teve insônia. Ela se revirou na cama, sem conseguir dormir, e, ao fechar os olhos, a imagem de um rosto delicado aparecia em sua mente...
“Túlio está voltando? Há quanto tempo não nos vemos? Já faz três anos.”
...
No fim de semana, Karina tinha folga e foi para a Casa de Repouso Castelo Verde. Ela costumava visitar Catarino todas as semanas, fazendo companhia ao seu irmão, embora ele vivesse em seu próprio mundo e raramente respondesse a ela.
No ônibus, Karina recebeu uma notificação do WhatsApp sobre um novo pedido de amizade. Ela deu uma olhada rápida, não reconheceu o nome e ignorou a solicitação.
Ao chegar na Casa de Repouso Castelo Verde, Karina entrou com os presentes que comprou para Catarino.
— Chora! Anda, chora! Coisa inútil!
Uma voz feminina aguda soou, cheia de insultos. Um estalo, seguido de uma risada estridente, ecoou pela sala.
— Idiota! Nem sabe chorar quando te batem! Para que serve uma aberração como você? Hahaha...
O sangue de Karina ferveu, e ela se aproximou silenciosamente.