Rodrigo
Droga!... Como sou estúpido!
As ondas se desmancham na areia, levanto os olhos para o céu e os raios do sol ofuscam minha vista. Não deveria ter voltado a esse assunto, mas ela precisa saber que não me esqueci da promessa!
— Rodrigo! Vem jogar com a gente! — Alice grita jogando o frisbee em minha direção.
— Vou dar um mergulho — respondo devolvendo o disco.
Preciso me acalmar, não me conformo de ter deixado Luana triste, ainda estou aprendendo a controlar minha impulsividade, pois muitas vezes magoo as pessoas ao meu redor.
Não sei quanto tempo fiquei na água, quando volto a me juntar a eles encontro todos conversando animadamente, sinto os olhos de Luana fixos em mim.
— Está tudo bem? — Luana pergunta, me oferecendo uma cerveja.
— Sim, só estou pensando... — O que não era mentira, preciso descobrir o que está acontecendo com a gente e terá que ser hoje. Decido que logo após o jantar vou chama-la para conversar.
***
Luana
— Vou matar meu irmão! Ele não podia ter convidado alguém para jantar sem nos consultar. — Alice esbraveja.
— Olha quem fala! Você fez a mesma coisa comigo — debocho apontando para ela sentar, pois vou arrumar seu cabelo.
— Tá bom, mas ele vai me pagar. Ah, isso vai! — Não consigo segurar a risada com sua atitude.
— Ele não tem culpa, ninguém sabe da sua história com Daniel.
— Vai ficar defendendo meu irmão? Grande amiga você é! — diz sentando emburrada.
Depois de alguns minutos, estamos prontas, Alice continua sentada no mesmo lugar, desde que terminei de arrumar seus cachos.
— Vamos descer Ali, já estou pronta — falo chamando-a
— Sim, e que comece o meu pior pesadelo. — Sorrio e minha atitude, deixa Alice mais emburrada.
— Deixa de ser dramática! Quem sabe vocês não conversam e acabam se entendendo.
— Não existe nada para ser conversado, ele fez a escolha dele anos atrás ao desaparecer e depois retornar com uma vadia diferente a cada dia.
— É amiga... acho que você está apaixonada — Falei e sai do quarto, deixando uma Alice furiosa para trás.
Assim que descemos encontramos os garotos conversando e bebendo, Rodrigo foi o primeiro a nos avistar e parar a conversa, Daniel que estava de costas se vira e olha para minha amiga que retribui o seu olhar penetrante, quase caindo das escadas.
— Boa noite, meus amores! — Rodrigo fala em tom carinhoso. — Vocês estão lindas! Esse é o Daniel, nosso novo vizinho, ele vai se juntar a nós essa noite, espero que não se importem.
— Imagina, irmãozinho é sempre bom conhecer pessoas, prazer em conhecê-lo, sou Alice e essa é minha amiga Luana — Alice fala olhando fixamente para Daniel.
— O prazer é todo meu! — responde Daniel, usando o mesmo tom que Alice acaba de usar.
Que comecem os jogos!
Conversamos por algum tempo e mesmo com a tensão que se instalava quando algum comentário sobre a faculdade aparecia, tudo estava correndo bem.
No meio do jantar, Alice inventa uma dor de cabeça e se retira, sem saber o que fazer no meio dos meninos decido ajeitar as coisas na cozinha e enquanto arrumava uma coisa aqui outra ali, me perco em meus pensamentos. Lembranças sobre conversa com o Rodrigo não sai da minha cabeça, preciso descobrir o que está acontecendo, ele está muito diferente comigo.
— Deixa essas coisas aí, depois te ajudo. — Me assusto e acabo derrubando uma panela no chão, viro em direção a porta e vejo Rodrigo apoiado no batente rindo do meu susto. — Me desculpa, não queria te assustar.
— Tá bom, faz de conta que acredito — respondo rindo também.
— Vem, vamos andar na praia.
— Onde estão todos? — pergunto percebendo que a casa está silenciosa.
— Beto já foi deitar dizendo que quer acordar bem cedo pra ir pegar onda e Daniel foi embora.
Caminhamos na beira da praia e por alguns minutos o silencio paira entre nós. Paramos em frente a uma grande pedra onde costumávamos brincar quando crianças e volto no tempo com tantas lembranças que tenho daquele lugar
***
— Por aqui, Lu. Ali eles nunca vão nos encontrar! — diz Lice enquanto me puxa, o lugar é realmente escondido, uma grande pedra e ao andar ao redor avistamos uma pequena árvore e uma entrada, realmente o esconderijo perfeito! Os meninos nunca vão nos encontrar.
Ficamos escondidas por mais de vinte minutos e nada dos meninos, quando resolvemos ir embora, vimos que os dois estavam do outro lado da pedra discutindo.
— Já falei Rodrigo! Elas devem ter voltado para casa.
— Não voltaram! Tenho certeza que não!
Rimos muito e acabamos dando um susto neles, mostramos nosso esconderijo que acabou se tornando nosso cantinho, era ali que sempre íamos quando estávamos tristes ou simplesmente para pensar.
***
— Esse sempre foi nosso cantinho — A voz de Rodrigo, me tira do devaneio.
— Verdade, faz tanto tempo, será que ainda tem nossos nomes gravados?
— Acho que sim, vamos ver?
— Mas está escuro, não vamos conseguir ver nada! — Rodrigo riu, ligando a lanterna do celular, pega minha mão me guiando para o lugar onde está nossos nomes gravados e mais uma vez o silêncio toma conta.
— Aqui! Nossos nomes ainda estão gravados — diz animado.
— Nossa que letra horrível eu tinha!
— Você só tinha 9 anos, Luana! Aposto que hoje sua letra é maravilhosa.
— Letra de médica você quer dizer.
— Letra de uma médica maravilhosa! — diz dando um sorriso que mal consigo ver devido a escuridão, porém o som de sua risada é contagiante, passo o dedo em cima das nossas assinaturas e uma música começa a tocar.
“Sabe, o meu coração
Guarda um tanto de amor
É o fruto do que você semeou
Você pode regar
Que o que der é só teu
Benza a Deus que você apareceu”
Começo a sentir um frio na barriga ao prestar atenção na letra da música.
— Lu, sei que esse lugar sempre foi nosso porto seguro. É para cá que a gente corria sempre que um problema aparecia ou quando simplesmente queríamos ficar sozinhos por um tempo, esse lugar guarda um pouco de todos nós: alegrias, segredos, tristezas e tudo mais que guardávamos no coração, foi por isso que te trouxe aqui. — Me viro para ele devagar e agora ficamos frente a frente, ao fundo a música continua tocando.
Teu amor me mudou
Fez o homem que eu sou
Sabe dar tudo que eu quero
Você me trouxe a paz
Mal de amor nunca mais
Quero amor eterno
Amor Eterno – Jeito Moleque
Não consigo me conter e meus olhos estão tomados por lágrimas, lembro-me de todas as vezes que estive aqui. Rodrigo segura as minhas mãos firmes e respira fundo antes de continuar.
— Eu não sei quando isso aconteceu, ou se sempre existiu e nunca quis enxergar o que estava na minha frente, Luana eu... eu gosto muito de você e posso afirmar que o que sinto aqui — coloca minha mão em seu coração. — Não é sentimento de irmão, saiba que ele é maior, é amor. Eu te amo, Luana e quero ter você na minha vida para sempre!
Sua declaração é uma surpresa para mim, e fico sem saber como agir ou o que falar, mas sinto que lágrimas correm pelo meu rosto.
Rodrigo
Luana me olha, sem dizer nada e não sei o que pensar.
Será que me antecipei?
— Diz alguma coisa, por favor! — Lágrimas correm por seu rosto e não sei o que fazer.
— Eu... eu... você...
— Tudo bem, eu entendo — falo triste, cortando-a.
— Não. Não é isso, Rodrigo! — Luana solta a minha mão, ela anda de um lado ao outro e depois de algum tempo para em minha frente.
— Lua... — Ela coloca o dedo na minha boca, me impedindo de continuar.
— Só estou surpresa, nunca pensei... ou melhor, acho que também estou sentindo algo por você, acho que também amo você. — Luana passa a mão levemente em meu rosto, fecho os olhos aproveitando esse contato.
Puxo-a para meus braços e com minha cabeça em seu pescoço, sinto o cheiro dos seus cabelos, Luana começa a soluçar e me afasto limpando suas lágrimas
— Hey, não chore! — Beijo seu rosto onde havia lágrimas — Estou aqui. — Beijo seus olhos. — Para sempre... — Beijo seus lábios, a princípio levemente e aprofundo aos poucos, quero que esse momento seja perfeito.
Nos afastamos somente quando precisamos de ar, mas continuamos nos braços um do outro.
— Precisamos voltar... — ela sussurra em meu ouvido, concordo e a beijo levemente, que abre um pequeno sorriso.
Caminhamos de volta para casa de mãos dadas e conversamos sobre os mais variados assuntos, meu coração parece que vai explodir a qualquer momento, tamanha é minha felicidade, porém o que aconteceu na boate, volta em meus pensamentos.
— Lu... o que aconteceu ontem? Aquele cara tentou fazer alguma coisa com você? — Sinto Luana estremecer ao meu lado, mas ela continua a andar como se não tivesse perguntado nada. — Promete que vamos conversar sobre isso? — Insisto.
Luana apenas concorda com a cabeça, puxo-a para meus braços tendo certeza que esse assunto é desconfortável para ela.
***
— Acorda, Rodrigo. Já são dez horas. — Acordo assustado com Beto esmurrando a porta do meu quarto. — As meninas já estão prontas e o café já está na mesa, vamos nos atrasar para o vôlei de praia
— Que saco, Beto! Isso são jeitos de acordar alguém — resmungo sentando na cama.
— Credo, Rodrigo! Não preciso saber como você acorda, veste isso. — Brinca rindo jogando uma bermuda em minha direção, como dormi somente de cueca minha ereção matinal está bem visível.
— Não enche o saco e para de invadir o quarto alheio sem ser convidado. — Vou me trocar e já desço — respondo caminhando em direção ao banheiro.
Faço um lembrete mental de ligar para meus pais, eles ficarão felizes por ter enfim, conversado com Luana. Sempre tive o apoio deles e meu pai sempre me aconselhou a prestar mais atenção em meus sentimentos, pelo jeito ele sempre soube o que sentia por Luana mesmo quando eu não fazia a mínima ideia.