A porta fechou com um clique seco, como um selo final sobre tudo o que eles haviam construído. Ethan continuou ali, parado, encarando o vazio como se ainda pudesse vê-la. Como se houvesse tempo. Como se ela pudesse voltar.Mas não voltou e nem voltaria.A pasta azul ainda estava sobre a mesa, aberta. Os papéis assinados por ela gritavam uma verdade que ele não queria ouvir: ela estava indo embora. Helen estava deixando-o. E, dessa vez, não havia súplica que pudesse impedi-la.As mãos dele tremiam, a garganta ardia e o mundo que tanto lutara para controlar parecia ter desabado com um simples gesto, a entrega de uma pasta.Ele caminhou em direção ao pequeno bar dentro de seu escritório, abriu uma das garrafas mais caras que possuía e, sem pensar duas vezes, serviu-se de um copo cheio. Engoliu de uma vez só. O uísque queimou sua garganta, mas não o suficiente para anestesiar o que sentia.— Maldita hora que eu deixei tudo chegar nesse ponto… — murmurou, servindo outro copo. E depois mais
Três dias depois... O apartamento era pequeno, mas havia algo reconfortante naquela simplicidade. Foi o lar de Helen antes dela se casar com Ethan e ela amava aquele lugar. As paredes claras refletiam a luz suave do entardecer, enquanto Helen organizava as últimas caixas com uma calma quase estranha. Não era felicidade. Ainda não. Mas era paz. E paz, depois de tanto caos, já era um começo.A campainha tocou.Helen caminhou até a porta e a abriu. Do outro lado, Melissa sorria com uma caixa de bolo em mãos e uma sacola com uma garrafa de vinho. Mas seu sorriso não era tão leve quanto de costume.— Trouxe açúcar e álcool. E antes que diga que está tudo bem, eu conheço aquele olhar vazio seu melhor do que ninguém — disse, entrando sem cerimônia. — Vai me deixar cuidar de você hoje ou tenho que te amarrar?Helen riu de leve, fechando a porta.— Entra. Não tenho forças pra discutir com você.Melissa colocou o bolo na bancada da pequena cozinha americana e olhou ao redor do novo espaço.
Faz três dias desde que deixei o apartamento. Três dias desde que virei as costas para a história que tentei sustentar por tanto tempo. Três dias de silêncio absoluto. Nenhuma ligação. Nenhuma mensagem. Nenhuma notícia de Ethan.E, mesmo que eu tentasse convencer a mim mesma de que isso não me importava, a verdade era que cada minuto sem saber como ele estava apertava meu peito um pouco mais.Hoje, decidi almoçar sozinha.Precisava de ar, de espaço.Precisava ir ao apartamento que um dia foi meu buscar umas coisas, precisava criar coragem para ir lá. Estar naquele apartamento me sufocava. Tudo lá ainda tinha o cheiro dele. E cada canto parecia me lembrar da forma como ele se ajoelhou diante de mim, bêbado, implorando…Eu precisava me preparar antes de ir. Escolhi um restaurante discreto no centro. Já havia ido lá algumas vezes, geralmente em dias em que queria silêncio e comida simples. Pedi uma mesa nos fundos, algo afastado, onde pudesse respirar e pensar. Apenas isso.Mas antes qu
A chave girou na fechadura com um clique abafado.Helen empurrou a porta devagar, como se não quisesse que a casa percebesse sua chegada. A luz do fim da tarde tingia o corredor com tons dourados, e o silêncio que preencheu o ambiente ao seu redor foi como um alívio imediato.Nada de passos pesados no corredor. Nenhum murmúrio grave vindo da sala. Nenhum olhar azul capaz de deixá-la sem chão.— Graças a Deus… — murmurou, encostando-se na porta por um breve instante.Ela ainda não estava pronta para encará-lo. Não depois do que tinha descoberto hoje.O coração ainda doía, confuso, bagunçado. A conversa que ouvira no restaurante entre Miranda e aquele homem reverberava em sua mente como um sussurro cruel e persistente: “Ele foi lá pra terminar comigo… eu forcei o beijo.”Helen fechou os olhos com força.Ele não mentiu, Ethan tinha dito a verdade desde o início e ela duvidou dele.O acusou, o feriu. O chamou de hipócrita, de canalha, quando na verdade… ele apenas tinha sido pego em uma ar
O bar já estava cheio, mas Zoe, com seu sorriso confiante e o cabelo preso num coque displicente, fazia parecer que nada ali podia tocá-la. Seu olhar estava afiado sobre a amiga, ou melhor, a cunhada que, à sua frente, girava o copo de gin como se o mundo estivesse contido ali dentro.Helen suspirou pela terceira vez em menos de cinco minutos. Zoe arqueou uma sobrancelha.— Se você suspirar mais uma vez, eu vou jogar esse copo pela janela.Helen soltou um riso fraco, meio trêmulo.— Eu ainda o amo, Zoe.— E você já falou isso quatro vezes — disse Zoe, empinando a taça de gin. — E sabe o que é pior? Eu sei que meu irmão está balançado por você. Helen abaixou o olhar. Sentindo os olhos marejarem.— Eu fui tão estúpida.— É, foi mesmo — Zoe respondeu sem cerimônia, e depois completou com um sorriso: — Mas com motivos. Ethan sempre vacilou muito com você no início, e, cá entre nós, meu irmão tem a sensibilidade emocional de um sofá de couro. Mas quando gosta… gosta como um furacão. Destró
Helen sentiu o peito se contrair no instante em que seus olhos pousaram sobre a fotografia. O mundo ao seu redor silenciou, como se o próprio tempo a suspendesse naquele exato momento de agonia. O sorriso de Ethan na imagem, sua expressão relaxada ao lado de Miranda, a maneira como seus corpos pareciam confortáveis um com o outro… cada detalhe perfurava sua alma como estilhaços de vidro.Seu coração martelava dentro do peito, não de surpresa, mas de uma dor sufocante, excruciante. Porque, no fundo, ela sempre soube. Sempre soube que Ethan nunca a quis. Sempre soube que, se pudesse escolher, ele estaria ao lado de Miranda, vivendo o sonho dourado que nunca pôde ter. E agora, ele estava ali, mostrando ao mundo, sem qualquer pudor, que ainda a desejava.O contrato entre eles nunca envolveu amor, mas Helen o amava. Amava Ethan de uma forma que a destruía pouco a pouco, que sugava sua alma a cada dia. Nunca quis esse casamento, mas quando foi obrigada a aceitar, agarrou-se à esperança de q
O telefone de Helen tocou logo pela manhã, interrompendo o silêncio tranquilo de seu apartamento. Sua voz suave atendeu o chamado, mas o tom firme e urgente de seu pai do outro lado da linha a deixou em alerta.— Helen, preciso que venha à empresa agora. É urgente.Ela conhecia bem aquela voz fria e autoritária, mas o que a diferenciava de todos os outros era sua capacidade de enfrentar o pai sem abaixar a cabeça. Sempre o fez com elegância e gentileza, porque essa era a sua essência: uma mulher doce, generosa, mas forte.Vestiu-se com um conjunto elegante, mas simples, composto por uma blusa creme delicada e uma saia lápis que moldava seu corpo de maneira sutil. Os cabelos dourados e ondulados caíam livremente sobre os ombros, e os olhos azuis brilhavam com uma mistura de apreensão e determinação. Helen era a mulher que sempre sorria para os outros, sempre buscava o melhor nas pessoas, mesmo quando o mundo parecia desmoronar ao seu redor.Enquanto caminhava para o prédio de vidro imp
O elevador desceu lentamente, cada segundo fazendo o peito de Helen apertar mais. Mas ela se recusava a demonstrar fragilidade. Sempre foi uma mulher determinada, forte, disposta a enfrentar qualquer coisa para alcançar seus objetivos. E agora, não seria diferente.Helen repetia para si mesma: É só um contrato, só negócios. Mas, no fundo, aquilo era muito mais. Era sua chance de provar que Ethan estava errado. Que ela não era apenas uma mulher frágil apaixonada por ele. Que ela era muito mais do que a garota previsível que ele sempre viu.O amor que sentia por Ethan era algo que ela havia aceitado muito tempo atrás. Uma chama persistente que não se apagava, mesmo diante da frieza dele. Mas Helen jamais imploraria por afeto. Ela não se humilharia por um homem, por mais que o amasse.Quando as portas do elevador se abriram, ela inspirou fundo e caminhou com passos firmes até a sala de reuniões. Ethan já estava lá, sentado, com a expressão carrancuda, o olhar glacial e os ombros rígidos