Três anos atrás, os pais de Maia morreram em um acidente de carro enquanto salvavam os pais de Caio. Após a tragédia, os parentes oportunistas dividiram entre si todo o patrimônio da família Davis, deixando Maia sem nada.
Com pena da jovem, Mestre Nunes, avô de Caio, decidiu acolhê-la na família Nunes, para que ela não acabasse desamparada. Temendo que Maia fosse maltratada, Mestre Nunes arranjou um casamento entre ela e Caio, com a intenção de torná-la oficialmente parte da família. Assim, os dois se tornaram um casal.
Caio, no entanto, era extremamente popular. Em toda a Cidade Quilemba, não havia quem não conhecesse o primogênito da família Nunes. Bonito, charmoso e de presença marcante, ele era o sonho de muitas mulheres, que disputavam sua atenção. Ao lado dele, Maia parecia insignificante.
Para manter Caio ao seu lado, Maia fazia de tudo, sem medir esforços. Choro, gritos e discussões eram coisas comuns no relacionamento deles. Qualquer mulher que tentasse se aproximar de Caio era logo afastada por Maia, que encontrava uma forma de tirá-las de cena.
Todos comentavam:
— A Maia é uma gata ciumenta e possessiva.
Para marcar território, Maia ainda postava incessantemente fotos dela com Caio nas redes sociais, exibindo o relacionamento para quem quisesse ver.
Mas agora, diante das críticas de Caio, Maia apenas abaixava a cabeça e respondia em um tom baixo:
— Eu entendi.
Caio ficou surpreso. Antes, ela certamente choraria, gritaria e faria um escândalo. Depois, abraçaria ele, manhosa, pedindo desculpas e tentando agradá-lo, como havia feito tantas vezes antes.
Agora que Maia finalmente havia se tornado tão obediente quanto ele sempre quisera, Caio sentiu algo estranho. Algo parecia fora do lugar.
— Maia, você tem certeza? Se você se arrepender e pedir desculpas... — Caio insistiu, tentando confirmar.
— Tenho certeza. — Maia deu um sorriso leve.
Ela sabia que a noiva dessa cerimônia nunca seria ela. De qualquer forma, em seis dias, ela esqueceria tudo sobre Caio, inclusive o amor que sentia por ele. Maia iria para um novo lugar e começaria uma nova vida.
Os seguranças colocaram Maia em uma maca e, nesse momento, perceberam que sua perna estava gravemente ferida. Sua panturrilha estava completamente congelada, com a pele e os músculos em estado de necrose.
Maia havia caminhado por horas na neve, que chegava até os joelhos. Ela não podia parar. Sabia que, se parasse, os lobos que a perseguiam iriam alcançá-la.
A neve era profunda, e, em um momento de descuido, Maia escorregou e acabou com o pé perfurado por um galho afiado. O sangue jorrou imediatamente, tingindo o chão branco de vermelho vivo.
Por um instante, ela pensou que morreria ali, sozinha, de perda de sangue. Era quase irônico: se não fosse pela mancha de sangue que destacava seu corpo na neve, talvez ninguém tivesse a encontrado.
O ferimento em sua perna era terrível, com o sangue congelado grudado na pele inchada e roxa. A visão era assustadora.
Caio olhou para ela e, por um breve momento, seus olhos mostraram preocupação. Ele perguntou ao médico que o acompanhava:
— Doutor, é grave? Dá para salvar?
O médico fez uma expressão séria e respondeu:
— Ainda não sei. Precisamos limpar o ferimento primeiro, mas o resto só poderemos avaliar no hospital.
Caio se aproximou de Maia e perguntou, hesitante:
— Maia, está doendo muito...?
Apesar de tudo, ele ainda sentia algum remorso. Ele notou que os dedos das mãos dela estavam vermelhos e ressecados pelo frio. Ele hesitou antes de estender a mão para aquecê-los.
De repente, Nana soltou um leve gemido. Sua expressão de dor era visível:
— Ai... minha mão...
Caio imediatamente soltou Maia e virou-se para Nana. Ele a segurou nos braços com preocupação:
— Nana, o que aconteceu?
Com os olhos marejados, Nana respondeu, tentando esconder a dor:
— Está tudo bem. Acho que o vento frio machucou meu braço. Não se preocupe comigo. Cuide da Maia primeiro, ela...
Mas Caio balançou a cabeça, frustrado:
— Eu sabia que você deveria ter ficado no hospital para se recuperar. Você nunca se cuida! Se eu não estivesse aqui, o que você faria?
Enquanto falava, Caio massageava o braço de Nana, que havia sido fraturado durante o acidente. Apesar de soar como uma repreensão, sua voz carregava uma doçura quase transbordante.
Caio não olhou mais para Maia. Ele segurou Nana e a levou para o helicóptero sem hesitar. Quando ele passou por Maia, acabou empurrando-a de lado. Ela perdeu o equilíbrio e quase caiu no chão. Ao tentar se apoiar, sua mão raspou no chão duro, abrindo feridas que começaram a sangrar.