Quando eu estava grogue, senti alguém me segurando nos braços e acariciando meus cabelos delicadamente.

Lágrimas quentes pingavam no meu rosto, queimando meu coração.— Marina, se nada disso tivesse ocorrido e pudéssemos nos amar como antes, não seria maravilhoso?

"É o Cyrus? Ele está chorando?" Lutei por um bom tempo até conseguir abrir os olhos; no entanto, não havia sinal de Cyrus.

Apenas dois guardas me arrastavam em direção ao pátio.

O sol escaldante batia diretamente em mim; logo senti a boca seca e o corpo enfraquecido pela desidratação.

Cyrus e Emily estavam no pátio.

Quando me viram chegar, Emily fingiu preocupação e perguntou suavemente:

— Faz tempo que você não come? Está com fome?

Minha garganta estava tão seca que mal conseguia respirar, e a dor me impedia de responder.

Um dos guardas, sob o olhar de Emily, me deu um chute impiedoso.

O golpe acertou uma ferida que ainda não havia cicatrizado, e o sangue voltou a manchar minha roupa.

Cyrus franziu a testa, irritado.

Ele tirou o casaco e o colocou sobre mim, dizendo com frieza:

— Chega! Deixe a ferida cicatrizar, pare de fingir ser uma vítima. Emily tem aversão a sangue, você quer prejudicá-la de novo?

O olhar de Emily era instável.

Ela jogou um monte de vegetais sujos e pedaços de carne no chão à minha frente, com um tom fingidamente cuidadoso:

— Sei que você deve estar com fome; coma logo.

Olhei para Cyrus, mas ele desviou o olhar, evitando qualquer sinal de compaixão...

Talvez, a cena dele me segurando e chorando tivesse sido apenas um sonho.

Como ele poderia realmente se importar comigo?

Abaixei a cabeça lentamente, peguei os vegetais sujos e os comi como um cão, num gesto humilhante.

A voz maliciosa de Emily soou novamente:

— Marina, por que não come a carne? Coma a carne, é mais nutritiva.

Com indiferença, coloquei o pedaço de carne na boca.

Os danos prolongados quase me haviam feito perder o paladar; só conseguia perceber que o sabor da carne era completamente diferente de tudo o que já havia provado.

— Está gostoso? — Emily perguntou com um sorriso. — Passando tanto tempo no mar, a carne de sereia deve ser bem macia, não é?

O pedaço de carne caiu da minha boca, e eu encarei Emily.

Seu sorriso se tornou ainda mais radiante, como se sua felicidade estivesse ancorada na minha dor.

Um forte enjoo tomou conta de mim, e eu caí no chão, abrindo a boca.

Vomitei.

— Oh, céus, meus sapatos! — O vômito sujou o salto de Emily.

Os guardas, sem precisar de ordens, me arrastaram pelos cabelos e enfiaram à força uma pedra na minha boca.

Cyrus abraçou Emily, jogou os sapatos fora sem hesitar e ordenou que um servo trouxesse um novo par para ela.

Ele costumava ser tão atencioso comigo; agora, seu olhar estava repleto de ódio.

— Marina, não se sinta injustiçada. Quando os sereianos feriram os lobisomens, vocês deveriam esperar por vingança. Se não quiser comer, jogue essa carne no lixo! — Emily calçou os novos sapatos e chutou os pedaços de carne no chão com desdém.

— Cyrus, não culpe a Marina, talvez ela só não esteja com fome. Não a deixe comer, mas a deixe me acompanhar enquanto pinto. Isso seria uma compensação para mim.

Cyrus balançou a cabeça resignado e disse:

— Você ainda é muito gentil. — Ele tirou a pedra da minha boca, limpou meu rosto e segurou meu queixo com frieza. — Ouviu? Você ofendeu Emily, agora deve a acompanhar enquanto ela pinta. Não a irrite ainda mais.

Não disse nada; apenas assenti.

Cyrus apertou meu queixo com mais força, parecia querer dizer algo mais, mas foi interrompido por uma ligação.

Ele se virou, se despediu de Emily com carinho e, em seguida, se inclinou para beijar suavemente sua barriga grávida.

Ao observá-los, meu coração se apertou novamente.

Depois que Cyrus saiu, Emily abandonou completamente sua fachada.

Ela me lançou um olhar de desprezo e disse:

— Não gosto de ninguém me observando enquanto pinto, vá para perto da lixeira.

Caminhei silenciosamente até a lixeira e me sentei.

O sol ardente quase me deixou sem forças, mas pelo menos havia uma sombra ali.

Logo, a empregada de Emily apareceu com um balde.

Ela apertou o nariz, olhando para mim com desdém:

— Ei, monstro, Emily disse que está faltando tinta vermelha para sua pintura. A cor mais bonita é a do sangue, então você deve dar um balde de sangue para ela.

Uma faca enferrujada foi jogada na minha frente.

— Use isso para cortar.

Hesitei:

— Mas está enferrujada...

A empregada gritou, com as mãos na cintura.

— Você acha que é uma princesa? Pare de reclamar. Corte logo! Ou não me culpe por ser rude!

Peguei a faca e cortei meu pulso, deixando o sangue escarlate pingar lentamente no balde.

Só parei quando meu corpo ficou frio e meus lábios ficaram azulados, até que o balde estivesse cheio.

Me encostei na lixeira, já com a consciência um pouco turva.

Não muito longe, algumas empregadas conversavam no pátio.

— Emily realmente é talentosa, suas pinturas são lindas. Mas os materiais para suas tintas são difíceis de encontrar, é preciso matar várias sereias para conseguir um pequeno frasco de pó de pérola de sereia.

— Por que esses monstros têm apenas uma pérola cada? Seria melhor se pudessem crescer mais.

Fiquei pálida de medo, me apoiando na parede para me levantar.

Ouvi gritos agudos ao longe, e rezei para que não fosse o que eu temia...

À medida que me aproximava de Emily, os gemidos de dor ficavam mais claros.

Eu vi os corpos de sereias empilhados aos pés de Emily.

Ela segurava o pescoço de uma sereia enquanto a faca entrava e saía habilmente, retirando a pérola de sereia e a esmagando.

Naquele momento, senti como se meu coração também estivesse sendo esmagado por ela.

Emily limpou o sangue das mãos e me olhou com maldade:

— Marina, as pérolas das sereias têm cores diferentes? Eu quero apenas as brancas, dizem que as pérolas da realeza são assim.

— Você é a princesa sereia, certamente sabe quem é a realeza sereia. Você pode me ajudar a desenterrar a pérola branca, por favor?