Amor Entre Sombras do Passado- Theo Castro
Amor Entre Sombras do Passado- Theo Castro
Por: Ray Victoria
A mulher de cabelos roxos

Theo

Falar sobre isso ainda é muito difícil. Já se passaram 110 anos desde o dia em que eu morri pela primeira vez.

Ser filho de um soldado americano significava seguir o mesmo caminho. Não era exatamente uma escolha. Era a Primeira Guerra Mundial,todos éramos forçados a lutar, defender, atacar… sobreviver.

Naquela época, me chamavam de tolo por tentar ajudar os outros. Por ver bondade onde ninguém mais via. Eu era motivo de piada por fazer o certo, enquanto o mundo ao meu redor afundava no caos. Hoje entendo a forma deles de pensar. Eles tinham por quem lutar. E eu? Só tinha a mim mesmo.

Morri com um tiro no peito enquanto tentava salvar uma senhora ferida. Fui deixado para morrer no meio da noite escura. Não sei quem apertou o gatilho,talvez tenha sido até um soldado aliado. Mas o que sei é que, três dias depois, acordei. Meu corpo ainda coberto de sangue seco. A garganta em brasa. Seca. Uma sede incontrolável. Achei que precisava de água… até ver o corpo da senhora ao meu lado, o sangue que escorreu de sua boca até o pescoço. E foi aí que entendi: não era água que meu corpo pedia.

Demorei anos para controlar a sede. Durante um tempo, cada inimigo morto parecia um alívio. Uma pequena vingança. Uma guerra só minha. Que, para o meu país, era um favor.

Mas tudo mudou quando minha busca começou: encontrar Arthur Russo. Meu criador. O desgraçado que me transformou em um monstro… e me abandonou.

Durante essa caçada, conheci Demetri Esposito. Salvei sua vida quando ele lutava contra um clã inteiro de vampiros. Em troca, ele usou os recursos de seu avô,o Rei Alberto Esposito,para me ajudar. Mas mesmo assim, nenhum sinal de Arthur. Era como se tivesse evaporado.

Foi nessa jornada que conheci meus verdadeiros pais: Pietro Castro e Maria Eduarda. Eles não me viram como um monstro. Me acolheram. Me ensinaram a caçar animais, e apenas animais. Com eles, aprendi a controlar a besta.

Eles já tinham cinco filhos: Noah, o mais velho; Ethan, a sombra do irmão; e os trigêmeos superpoderosos Rodrigo, Colin e April.

Desde o primeiro momento, fui cativado por April. A conexão entre nós é inexplicável. Como se já fôssemos irmãos em outra vida. O que, sinceramente, não me surpreenderia.

Com o tempo, nossa família cresceu ainda mais. Vieram Antonella, Gael… uma casa cheia, barulhenta, amorosa.

Mas minha busca por Arthur nunca cessou. E foi então que conheci Aurora Russo. Sua trisaneta.

Aurora… era luz. Inteligente, doce, gentil. E humana.

Eu não podia contar o que era, mas o amor falou mais alto. Começamos a namorar. Quando ela me disse que estava grávida, foi o momento mais feliz da minha existência. Nossa menina, Ayla, crescia dentro dela normalmente… até o terceiro mês.

Foi quando o lado vampiro se manifestou. Aurora começou a definhar de dentro para fora. Lutou com todas as forças até nossa bebê nascer.Ayla nasceu em 27 de agosto, há sete anos atrás. Minha luz, minha razão de viver. Mas para ela vir ao mundo, Aurora teve que partir.

Minha família me ajudou em tudo. Os trigêmeos, com 14 anos, cuidavam da sobrinha quando eu precisava caçar. April e Ayla são inseparáveis. Um grude adorável. Não as culpo,também sou o grude da minha irmã caçula e da minha filha.

Hoje é o primeiro dia de aula da minha princesinha. Na nova escola: a Academia Esposito, onde vampiros, bruxas e lobisomens estudam juntos. Uma ideia péssima, na minha opinião.

— Vamos, papai! Ou vou me atrasar! — grita Ayla lá de baixo.

— Ainda acho uma péssima ideia. Quem junta três espécies debaixo do mesmo teto?

Obviamente, a casa inteira escuta. Numa casa de vampiros, privacidade não existe.

— Para de drama, papai. A tia April disse que vai ser bom pra mim,pra Mavi e pra as gêmeas. Vamos aprender a controlar nosso outro lado.

Desço em um segundo. Ayla está linda com o uniforme da escola: saia xadrez vermelha escura, camisa branca, gravata vermelha e um mini blazer que parece ter sido feito para ela.

— Ayla, não está esquecendo nada, querida? — minha mãe entra com uma caixinha.

Minha filha corre pro espelho enorme que tem na sala de estar, e se olha dos pés a cabeça.

— Não que eu saiba, vovó!

Ela ri e abre a caixa. Lá está o broche dourado, com uma pedra vermelha brilhante. O nome da escola acima, o nome dela abaixo.

Mas há algo mais: April encantou os broches. Para Proteção. Ela jamais deixaria as meninas desprotegidas.

— Ai, quase esqueci! Obrigada, vovó Duda! — Ayla enche a avó de beijos. — Você sabia que o da Mavi, da Gigi e da Soso são verdes porque elas são lobas?

— Claro que sabia, meu amor. Agora vão antes que se atrasem.— mamãe da um beijo na bochecha de Ayla — Theo busca sua irmã e as meninas.

— Ué, elas não vão com o Gabriel? — pergunto, estranhando.

Meu cunhado é literalmente o carrapato da minha irmã.

— Os quadrigêmeos estão gripados. Gabriel ficou com eles. Seu pai está lá examinando os coitadinhos. Vou levar um chazinho depois, pra ver se eles melhoram mais rápido— diz mamãe, com aquela expressão preocupada.

— Depois passo lá pra ver eles também.

— Vamo, papai! — grita Ayla.

— Tô indo, minha impaciente.

No carro, Ayla mal consegue ficar quieta um minuto. Pegamos April e as meninas e seguimos para a escola.

— Irmão, tá tudo bem? — April pergunta, olhando mim. Ela sempre sabe que tem algo de errado. Ela sempre sabe.

Faço um sinal indicando as meninas. Fofoqueira do jeito que é. Ela lança uma magia para bloquear o som.

— Hoje é o aniversário da Aurora. Ela faria 30 anos — murmuro.

— Theo… Eu sei o quanto você a amava. Mas você precisa parar de se culpar. Você merece ser feliz.

Ela sempre diz isso. E eu sempre acho que não. Ter uma família como a minha, uma irmã como ela, uma filha como Ayla… já é mais do que mereço.

Não respondo. Ela sente minha dor. Nem precisa usar o dom de escutar pensamentos pra saber o que estou pensando.Desfaz a magia, e o carro volta a ser um caos sonoro de meninas animadas.

A escola está uma loucura. Crianças correm, pais correndo de atrás, lobos adolescentes se empurram em brigas idiotas.

— E você ainda acha que essa escola é uma boa ideia? — pergunto, cético.

— É só o primeiro dia, Theo — diz April, encantada.

— Amanhã vai ter lobo mijando em planta, outros cheirando suas bundas, e um terceiro mastigando a perna de alguém.

— Esqueceu que eu também sou loba? Já me viu fazendo xixi em alguma planta da nossa mãe?

— Não… mas já te vi fazer cocô no ombro do teu guardião.

— Vai te ferrar, Theodoro! Eu só tinha cinco meses! A fralda vazou!

Eu rio. Forte. Como há tempos não ria.

Ayla e as meninas se divertem vendo o caos. Até que Annabel surge na entrada, acompanhada de uma mulher jovem e impressionante.

Annabel diz algo, e a mulher dá um passo à frente. Sua voz ecoa:

— Parem!

Todos param.

— Sejam bem-vindos à Academia Esposito! Eu sou Annabel Esposito, a diretora desta escola. Espero que todos nós, tenhamos um ótimo ano letivo.— diz Annabel, com um sorriso alegre e irritantemente contagiante.

Ela nos vê e corre como se ainda fosse uma criança.

— Prima! Theo insuportável! Minhas princesinhas lindas! — ela nos abraça com entusiasmo.

Mas minha atenção se prende apenas a uma pessoa. A mulher de cabelos roxos, esvoaçantes. Jovem. Claramente muito poderosa.

E, de algum modo, que eu não sei explicar… perigosa.

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