Capítulo 2: Primeiras impressões

                             Sete meses atrás:

Laura Martins:

— Isso! — Digo num sussurro entusiasmada, fecho a mão em punho e ergo como uma pequena comemoração de vitória ao sair da sala do RH da empresa: Jewelry. Esse nome não é nem um pouco criativo, se traduzir vai ficar: joias, mas quem sou para julgar.

Agora que a minha carteira foi assinada, eu finalmente posso procurar uma casa para alugar e viver a minha vida à minha maneira. Apesar de eu já estar com vinte e quatro anos, só fazem três dias que sai/expulsa da casa dos meus pais, de lá só levei essa camisa de mangas curtas que visto com essa calça surrada e essa sapatilha que está com os calcanhares furados, e uma roupa de dormir. Apenas isso.

Durante o dia eu fico a perambular pela cidade a procura de emprego, durante a noite caço abrigos que ainda tenham uma vaga para eu dormir. Não tem sido fácil, a última vez que comi foi a dois dias, peguei o resto de um lanche na lixeira dum restaurante. Bem, um dia após sair da casa dos meus pais, já revirava o lixo, mas até que o lanche estava bom, na casa dos meus eu só podia comer uma vez, eles diziam que se eu comesse mais, eles passariam fome e que não tinham nenhuma obrigação de sustentar uma de maior desempregada.

Enfim, essa não é minha única motivação, eu ainda não consegui consertar todos os cacos do meu coração, nunca vou esquecer a cena mais nojenta que já presenciei na minha vida... bem no meu quarto... na minha cama... dentro dos meus lençóis...

Chacoalho a minha cabeça para afastar essas lembranças. “Isso não é hora de pensar no passado, é hora de ficar animada e ergue a cabeça.” — Falo em pensamentos.

— Aí! — Gemo de dor ao bater a minha cabeça na parede macia e caio de bunda no chão. — Merda! — Murmuro e massageio a região que sofreu o impacto da queda, olho para onde bati, mas para a minha surpresa, é uma parede de músculos cobertos por um terno preto sob medida. — Ei cara, olha por onde anda! — Reclamo enquanto me levanto, com as mãos abertas bato na minha roupa para tirar a sujeira que grudou em mim.

— Aqui não é lugar para mendigos — a parede de músculo diz, com raiva no olhar ergo minhas vistas em direção a ele e por um instante quase esqueço que esse babaca me derrubou no chão e nem ofereceu a mão para me ajudar a levantar. O que tem de bonito, tem de idiota.

Apesar do brilho penetrante dessas safiras azuis, os seus olhos destilam frieza e um vazio de dar medo; no entanto, seu charme não passa desapercebido, sobrancelhas espessas e escuras contornam seu olhar sério e hostil, a barba por fazer acrescenta um toque jovial à sua imagem, enquanto a boca rosada, larga e carnuda completam o quadro facial. É lamentável que toda essa beleza se restrinja apenas à aparência externa, chega ser um desperdício.

— Com certeza um mendigo tem mais educação que você! — Retruco recuperando a minha razão. — Derrubar uma dama no chão, não pedir desculpa e nem sequer a ajudá-la a se levantar, é um perfeito ogro — alego petulante, mas quem começou com as ofensas foi ele, então aguente agora, oh belo ogro.

— Não estou vendo nenhuma dama, só uma pirralha maltrapilha! — Ah, ele continua me ofendendo, fazendo a raiva crescer ainda mais dentro de mim.

— E eu só vejo um ogro feio! — Grito exaltada.

Certo, de feio ele não tem nada, ele aparenta ter uns trinta anos, mas não adianta de nada, no mundo, a beleza externa não é tudo, pelo menos, não no meu mundo.

— Com quem você acha que tá falando, menina? — Questiona-me de cara feia, tentando intimidar-me, comigo isso não funciona não, garotão.

— Com um ogro mal-educado que saiu direto do pântano! — Respondo atrevida.

— Sua fedelha... — ele xinga-me com a voz rouca me fazendo arrepiar, o gelo nos seus olhos dá lugar a chamas azuis de ódio saídas direto do inferno, sinto meus ossos começarem a tremer enquanto ele aproxima-se de mim, com passos firmes e ameaçadores, mesmo eu tendo uma língua atrevida, sou extremamente medrosa, dou passos para trás, para a minha salvação uma mulher de meia idade fica entre mim e o ogro que parece querer cuspir fogo.

Observo a senhora de costas, ela está usando um terninho elegante, o cabelo é curto, um pouco grisalho, na altura dos ombros e ela usa saltos médios finos.

— Fernando, meu filho, estão todos te esperando na sala de reuniões, você não pode se atrasar — a mulher fala de forma suave, a expressão no rosto do ogro volta a ficar neutra me deixando aliviada, ele acena a cabeça para a mãe e dar as costas sem nem olhar para mim, ainda bem, estou nova demais para conhecer o céu.

É melhor eu aproveitar essa chance, viro de costas e ergo a perna, afim de dar o primeiro passo, mas, uma mão toca no meu ombro fazendo com que eu pare o movimento.

— Qual o seu nome, menina? — A mulher, que agora sei ser a mãe do ogro, pergunta-me.

— Laura Martins — falo e fico de frente para ela. — E a senhora?

— Pode chamar-me apenas de Cristiane — ela afirma sorrindo e estende-me a sua mão. Que senhora gentil, sorrio de volta e apertamos as mãos.

— Você já conhecia o meu filho? Pareciam ser bem íntimos.

— Aquele ogro... hum-hum — pigarreio, não posso chamar o cara de ogro na frente da mãe. — Eu não conhecia o seu filho não, ele esbarrou em mim e me derrubou na entrada.

— Ah — a senhora sorrir, e por alguma razão, acho o seu sorriso suspeito. — Sinto muito. Você machucou-se?

— Agora eu já estou bem — comento sorrindo, apesar de acha-la suspeita, ela aparenta ser gentil. — Obrigada pela preocupação, eu já vou indo, tenha um bom dia!

— Para você também, querida, nos veremos mais vezes, sinto que você e o meu filho vão se dar muito bem — Ela declara e sorrir, eu sorrio amarelo e dou as coisas.

Assim que coloco os meus pés para fora dessa empresa, o vento b**e no meu rosto, respiro aliviada.

— Crus credos, nada contra a senhora, mas espero nunca mais ver aquele ogro na minha frente — murmuro e começo a minha caminhada.

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