Arregalei os olhos e encarei Diogo, observando a sua reação.
— Eu ouvi. — Ele disse baixo, cruzando os braços, com o semblante sério.
Suspirei, passei a mão no rosto e o encarei com sinceridade.
— Por favor, não conte ao Alessandro.
Diogo pareceu curioso, como se lutasse entre me proteger ou proteger o irmão.
— Não vou me meter na sua vida. Mas… acho que ele deveria saber.
— Eu sei... eu sei. — abaixei o olhar, mordendo o lábio. — Mas eu tenho medo.
— Medo de quê?
Hesitei, minha garganta apertando.
— De ele tirar meu bebê
(Alessandro)Sentei na varanda dos fundos, apoiando o cotovelo no braço da cadeira e observando a taça de vinho que mal tinha tocado. O silêncio da noite era quase terapêutico, se não fosse o turbilhão de pensamentos que vinha junto.Chiara apareceu com uma manta nos ombros e um olhar distante. Me sentei mais reto e bati ao lado da cadeira.— Vem, senta aqui comigo. — falei baixo.Ela hesitou por um segundo, mas acabou sentando. Ficamos em silêncio por um tempo. O vento bagunçava um pouco o cabelo dela e a luz do jardim fazia as sombras do rosto dela parecerem mais profundas.— Chiara... — comecei, encarando as luzes da cidade. —
Acordei com a luz fraca entrando pelas frestas da cortina. Pisquei devagar, sentindo o peso da noite mal dormida nos meus olhos. Me sentei na cama e respirei fundo, levando a mão até minha barriga ainda discreta.Sorri de leve, com aquele carinho bobo que só uma mãe consegue ter mesmo sem ver ainda o rostinho do filho.— Bom dia, meu amor... — murmurei baixinho, quase num sussurro. — Tá com fome, hein?Me espreguicei devagar e me levantei, indo direto pro banho. A água morna escorria pelas costas e, por alguns minutos, me permiti esquecer o caos. Só eu, meu bebê e o som da água. Vesti um vestido leve, largo, que não apertava a barriga, porque qualquer coisinha já me deixava enjoada.
Desci do carro e entrei na casa do meu pai, sentindo o cheiro familiar de café com pão torrado.— Dona Elza? — chamei, por hábito. — Matheuzinho?Silêncio.Mais um suspiro. Dessa vez de alívio.Andei até o corredor e, logo na curva da cozinha, dei de cara com Guilherme vindo com uma bandeja nas mãos. Suco, dois pães, um potinho de fruta picada... o carinho nos pequenos detalhes.Ele me viu e arregalou um pouco os olhos.— Larissa?Sorri leve.— Oi, Guilherme. Tudo bem? Cheguei em casa com o corpo cansado e a mente girando em mil direções. Assim que empurrei a porta da sala, dei de cara com Alessandro jogado no sofá. Estava de camiseta preta, calça de moletom e com um ar... abatido. Ele apoiava a cabeça na mão e tinha os olhos meio fechados, como se estivesse tentando manter o foco em alguma coisa na TV, mas sem sucesso.Ele levantou o olhar por um segundo quando ouviu a porta. Nossos olhos se cruzaram, mas eu não disse nada. Só continuei andando, direta rumo às escadas.— Larissa — ele murmurou, mas sua voz estava rouca e fraca demais.Fingi que não ouvi. Segui meu caminho, pé ante pé, até que, no meio da escada, escutei ele começar a tossir. Forte. Daquele jeito que eu já conhecia.Parei no segundo degrau antes do topo e fechei os olhos."Não é problema meu. Não mais", pensei, tentando convencer meu coração.Mas era estranho… Alessandro raramente ficava doente. Quando ficava, no entanto, era sempre daquele jeito: forte, intenso, teimoso demais pra Capítulo 35 - Larissa
(Alessandro)Eu já estava a caminho do restaurante, mas ainda com a cena presa na cabeça: Rafael ajoelhado do lado de Larissa, segurando ela com aquele olhar preocupado como se fosse o homem certo na hora certa. Eu respirei fundo e desviei o olhar antes de fazer uma besteira. Queria ir até ela. Queria ter sido eu ali. Mas não podia. Não hoje.Hoje era dia de encarar outra verdade — ou pelo menos tentar descobrir uma.O restaurante era afastado, discreto, com pouca gente nas mesas. Cauã já estava lá, sentado num canto com a mesma jaqueta surrada de sempre e aquele jeito de quem observa o mundo mais do que fala com ele. Me aproximei e ele levantou o queixo em cumprimento.— Alessandro.— Cauã. — Sentei. — Pediu alguma coisa?— Ainda não. Queria esperar você.Chamamos o garçom, pedimos dois cafés e algo leve pra comer.— Tá, fala. O que é tão importante?Ele tirou uma pasta fina da bolsa lateral e colocou sobre a mesa três fotos reveladas. Peguei uma delas. Era Chiara. Entre dois homens.
(Alessandro)Meia hora depois, Diogo entrou na sala. Vestia aquele terno cinza escuro que ele usava em reuniões importantes, o cabelo penteado para trás como sempre. Mas o olhar... não era o mesmo. Frio. Contido. Diferente do Diogo de sempre.— Sempre pontual — comentei, tentando soar casual.— Sempre. Alguém tem que levar isso a sério, né? — respondeu, sem sequer esboçar um sorriso. Sentou de frente pra mim, sem tirar o casaco, como se quisesse deixar claro que não pretendia ficar mais do que o necessário.— O que a ZetaCorp fez agora?Mostrei os documentos e expliquei o que Camila me contou. A cláusula dava brecha pra que qualquer das partes rescindisse unilateralmente se houvesse indício de má administração ou conflito societário. E uma denúncia anônima estava circulando entre acionistas.— Se isso vai adiante, nosso projeto com eles vai por água abaixo — concluí.Ele folheou os papéis, em silêncio. Mas o jeito como virava cada página — firme demais, sem pressa, mas com tensão nos
— Quase — murmurei, forçando um sorriso.Chiara me olhou e sorriu também. Um sorriso leve, mas que não escondia o nervosismo nos olhos.— Lembra do Natal de dois anos atrás? Quando seu avô deixou o peru no forno por seis horas? — Ela soltou uma risada. — Foi o dia em que minha mãe jurou nunca mais deixar ele cozinhar.— Lembro — falei, pegando a taça da mão dela. Minha voz saiu sem muita emoção. Mas não era sobre o peru.Sentamos. A comida tava boa, como sempre, mas o clima... parecia um teatro. As memórias felizes sendo jogadas na mesa como se pudessem colar de volta os cacos de alguma coisa que quebrou há muito tempo.E aí veio o esperado.— Alessandro — começou Rosa, mexe
(Larissa)Chicago O frio batia leve no rosto, daquele jeito gostoso de outono, com o vento bagunçando um pouco meu cabelo e o cheiro de café e folhas secas invadindo o ar. Rafael e eu caminhávamos tranquilamente pelo Millennium Park. As árvores estavam todas em tons de laranja e dourado, como se a cidade tivesse passado um filtro vintage.Quando paramos em frente ao “Bean”, tirei as mãos dos bolsos e olhei meu reflexo distorcido naquela escultura metálica. Por um instante, não me reconheci. E, sinceramente? Foi bom.— Você sabe que foi a estrela da noite ontem, né? — Rafael falou, com aquele