Capítulo 5
Gabriela ficou com o rosto subitamente frio. Aquele homem realmente sabia como estragar qualquer clima.

Quando os passos de Guilherme ecoaram, ele foi direto até a porta do closet e, ao ver o espaço quase vazio, a pergunta que ele vinha pronto para fazer morreu em sua garganta.

Ele acabou soltando uma risada sarcástica:

— Ah, legal, mais um dos seus truques, né? Saiu do hospital e nem me avisou, fez de propósito? Quer que eu me sinta culpado? Agora vai e esvazia a casa pra fazer teatrinho de quem vai embora? Você por acaso tem três anos de idade? Quando alguém te dá uma chance, aprende a aceitar, para de ser tão infantil, por favor!

Gabriela não tinha feito nada e mesmo assim já estava ouvindo sermão. Ela olhou firme para Guilherme, sem demonstrar emoção, e respondeu com calma:

— Terminou?

Aquela simples pergunta travou Guilherme na hora. Ele ficou olhando para Gabriela, incrédulo, sentindo que ela estava realmente diferente.

Até mesmo quando ela tinha visto Giovana no hospital, Gabriela não falou nada, nem sequer perguntou nada. Antes, toda vez que via ele conversando com qualquer mulher, Gabriela sempre dava um jeito de se meter.

Gabriela já tinha feito várias brigas por causa de Giovana, mas agora… ela estava tão serena.

“Não, isso só pode ser mais uma das artimanhas dela!” Pensou Guilherme.

O olhar dele se encheu de desprezo enquanto falava sozinho:

— Gabriela, você mudou. Antes você até era meio chata, mas tinha seu charme. Agora nem isso tem mais.

Gabriela continuou encarando-o, serena. Ela rebateu:

— Esse seu “charme” de que fala é eu aguentar calada todas as suas traições sem reclamar?

— Eu sabia! Você ainda está brava! Passou mais de uma semana e ainda está de mal?

Guilherme parecia ter encontrado alguma prova contra ela e ficou todo confiante.

Mas, dessa vez, Gabriela não respondeu. Ela apenas abaixou a cabeça e voltou a organizar seus desenhos.

Acreditando que tinha tocado na ferida dela, Guilherme achou que estava no controle de novo, e resmungou:

— Então fica aí de mau humor. Eu nem volto pra casa esses dias.

E ele cumpriu o que disse: ficou uma semana sem aparecer.

Gabriela aproveitou o silêncio e, sem pressa, esvaziou tudo o que precisava.

No Dia de Reis, aquela casa que um dia foi cheia de vida ficou reduzida a apenas um sofá e uma cadeira de balanço.

Por coincidência, ou talvez nem tanto, eram exatamente iguais aos que Giovana ostentava no Instagram.

Depois que o celular quebrou, Gabriela não comprou outro. Ela decidiu esperar mais umas duas semanas, até poder recomeçar de verdade.

Gabriela levou uma pilha de pequenos objetos para um bazar beneficente. Para não correr o risco de encontrar conhecidos, ela escolheu dois parques em bairros afastados.

Quando as vendas estavam indo muito bem, ela avistou, de longe, três figuras familiares se aproximando.

Giovana fingiu surpresa:

— Gabriela, o que você está fazendo aqui? Está vendendo o quê?

Guilherme, que já vinha de cara fechada, achando que Gabriela estava aprontando mais uma, arregalou os olhos ao ver os itens expostos na barraca:

— Gabriela, essas coisas são nossas, e você está vendendo tudo?

Rafael também reconheceu alguns objetos e logo tentou pegar um deles:

— Esse carrinho é meu!

Antes que ele tocasse, Gabriela segurou a mão dele, sorrindo:

— Corrigindo, esse carrinho não é seu, e foi eu quem comprei. E esse caleidoscópio de lembrança também fui eu que comprei. Esse porta-retrato cravejado de pedrinhas, eu também comprei...

Gabriela listou cada item com calma, depois olhou para Guilherme e falou em tom sereno:

— Todos esses objetos, vocês sempre desprezaram, e diziam que eu não tinha bom gosto. Agora que estou vendendo num bazar, qual é o problema?

Guilherme já não reconhecia mais aquela mulher à sua frente. Ele bateu o olho em um porta-retrato maior e estremeceu:

— Esse era para nossa foto de casamento. Onde está a foto?

Gabriela acompanhou o olhar dele, fingiu surpresa e respondeu:

— Tinha? Eu sempre achei que ele estava vazio...

— Gabriela! Não ultrapasse os limites! — Protestou Guilherme.

Giovana percebeu que Guilherme só tinha olhos para Gabriela e, incomodada, se agarrou ao braço dele de propósito, dizendo para Gabriela:

— Gabriela, não entenda mal, o Guilherme só não quer ver o casamento de vocês terminar.

Gabriela realmente começou a admirar o descaramento de Giovana. Como uma amante conseguia ser tão cara de pau assim?

— Uma pessoa que realmente não quer ver o casamento acabar não deixaria outra mulher se agarrar a ele na frente da própria esposa. — Respondeu Gabriela.

Assim que Gabriela terminou de falar, Guilherme pareceu levar um choque e rapidamente soltou o braço de Giovana.

Gabriela já estava recolhendo tudo, lançou um olhar de desprezo para os dois:

— Parabéns! Vocês acabaram de acabar com meu bazar. Continuem aí desfilando de casal feliz, que eu vou procurar outro lugar pra vender minhas coisas.
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