Após algumas horas me acalmando, preparei uma pequena mala. Apenas com o básico, não levaria nada daquela casa comigo. Toquei o vestido e os saltos por roupas mais confortáveis e saí.O ar frio da noite soprava forte, atravessando as várias camadas de tecido que me cobriam. Mas eu não me importava. A dor em meu peito era muito maior do que qualquer desconforto físico. Cada passo que eu dava me afastando daquela casa era como um suspiro de alívio. Uma tentativa desesperada de escapar da dor insuportável que Damian havia me causado. Mas, no fundo, eu sabia que nunca poderia fugir dele.Minhas mãos tremiam enquanto me aproximava da guarita do segurança. O homem me olhou assustado enquanto saía de seu posto para entender o que estava acontecendo, afinal, já passava da uma da manhã e eu estava do lado de fora, na neve, com uma mala nas mãos.— Senhora Blackthorn, está tudo bem? — Seu tom preocupado estava mesclado com desconforto.— Sinto muito, não queria te incomodar, mas poderia chamar
Dor.Foi a primeira coisa que senti ao tentar abrir os olhos. Era como se meu corpo estivesse sendo esmagado, uma dor latejante percorrendo cada centímetro dos meus músculos. Meus olhos estavam pesados, como se fossem feitos de chumbo, e minha cabeça parecia prestes a explodir. Tentei mover os dedos, mas até mesmo esse pequeno movimento me custou um grande esforço.O som contante do que parecia ser um monitor cardíaco preenchia o silêncio, apitando e me irritando. O cheiro de antisséptico queimava minhas narinas, e logo percebi onde estava. Forcei meus olhos abertos mais uma vez, me deparando o teto branco e as luzes fortes.Um hospital.Tentei puxar pela memória o que havia acontecido, mas minha mente estava nebulosa. Foi então que tudo veio em ondas violentas.A tempestade. O carro derrapando na estrada. O impacto. O cheiro de sangue.Minha respiração se acelerou, meu coração batendo tão forte que doía contra as minhas costelas e, de repente, não estava mais no meu leito.Flashes. G
DamianQuando o telefone da mansão tocou, jamais poderia imaginar do que se tratava. Abbott surgiu no meu escritório com o rosto pálido, algo completamente fora dos seus padrões. Ele parecia nervoso e pesando os prós e contras de transmitir alguma mensagem, até que me irritei com sua demora.— Fale de uma vez, humano. Não tenho tempo a perder com você parado aí. — Rosnei furioso, já me levantando para ir dormir.— Perdoe-me, meu alfa. — O velho homem falou, se curvando levemente. — A ligação era do hospital. Meu corpo paralisou, uma sensação estranha irradiando pelo meu corpo enquanto meu lobo ficava inquieto.— Hospital? — Questionei, minha voz saindo baixa entre meus dentes cerrados.— Houve um acidente, a senhora Blackthorn está internada em estado grave. Ao longe, escutei Abbott chamando meu nome, mas não lhe dei atenção. Corri para a garagem, peguei o caro e dirigi até o único hospital onde Lin poderia estar, o meu.O ar no hospital estava pesado, sufocante. O cheiro de antissé
O silêncio no quarto era sufocante, preenchido apenas pelo som do monitor de batimentos cardíacos ao meu lado. O ar estava denso, carregado com a tensão cortante que pairava entre mim e Damian. O monstro que destruiu minha família. O homem que me fez acreditar em algo que nunca foi real, que me fez criar esperanças e ter sonhos impossíveis mais uma vez.Minhas mãos tremiam sobre o lençol, fechadas em punhos, meu coração batendo com uma intensidade esmagadora. Odiava aquela sensação, aqueles sentimentos e, acima de tudo, odiava o fato de que, mesmo em uma situação como aquela, meu corpo ainda reagia à sua presença. Mesmo quando meu coração estava destroçado e minha mente gritava para que eu o rejeitasse com cada fibra do meu ser, meu corpo e minha loba ainda o desejavam intensamente.Damian me observava, seus olhos dourados estreitos, analisando com cuidado meu rosto e minhas reações. Seu corpo parecia tenso, com os braços cruzados sobre o peito largo, mas sua expressão era inabalável.
O hospital estava silencioso naquela noite, o som intermitente dos monitores preenchia o quarto enquanto os passos suaves dos enfermeiros ecoavam pelos corredores. Eu estava deitada na cama, olhando para o teto, tentando acalmar os pensamentos que não me davam trégua. As lembranças de Ayla, as lembranças de Lin, sentimentos, sensações. Eram tantas coisas para assimilar e entender que minha cabeça doía.Meu corpo ainda estava fraco pela crise e a tontura que senti mais cedo me deixou assustada. Eu queria acreditar que era apenas o estresse de recuperar minhas memórias, o impacto de tudo o que me lembrei, juntos com os traumas do acidente, mas algo dentro de mim dizia que havia mais alguma coisa acontecendo. Minha loba estava agitada também, uma inquietação desconhecida se espalhando pelo meu corpo. Eu não podia me dar ao luxo de pensar naquilo. Silenciei minha loba e voltei a me concentrar, tentando descansar um pouco, mas o cheiro amadeirado me envolveu, me fazendo olhar na direção da
O quarto de hospital parecia ainda menor com a presença dos meus avós. Seus rostos estavam marcados pela preocupação, e a cada olhar que trocávamos, eu sentia o peso do amor e do medo que eles carregavam por mim. A despedida foi lenta, recheada de beijos demorados na testa e promessas de que voltariam pela manhã. Eu tentei manter a compostura, sorrindo levemente para aliviar a tensão, mas por dentro, estava completamente destruída.Quando finalmente fiquei sozinha, senti o peso no meu peito voltar a crescer. A dor esmagadora, as lembranças vívidas, como se tudo tivesse acontecido na noite anterior. A saudade...Olhei para o corredor e vi Damian conversava com o médico, sua expressão séria e impassível. Seu rosto estava tenso, a veia em seu pescoço saltando enquanto ele apertava o maxilar. Sua presença esmagadora dominava tudo. Eu conseguia sentir sua autoridade mesmo de longe, o que alimentava a tempestade constante dentro de mim. Como ele podia ficar ali, fingindo alguma preocupação,
DamianA garrafa de uísque estava quase vazia, o vidro frio entre meus dedos tão frágil que bastaria o mínimo de força para que se estilhaçasse.Deixei a garrafa de lado, girando o líquido dourado no copo, observando como a luz refletia nele. Era um ciclo vicioso, uma rotina que se repetia desde que Ayla acordou e cravou em mim aqueles olhos cheios de ódio. Eu deveria ter previsto aquilo no momento em que minha mente ficou clara. Deveria ter entendido que o passado nunca poderia permanecer enterrado. Mas a forma como ela me olhava… era pior do que qualquer coisa que eu pudesse imaginar.Recostei-me na poltrona do meu escritório, os olhos fixos na escuridão da noite do lado de fora. Eva havia me ligado informando que passaria a noite com Ayla, para que minha esposa pudesse ter uma noite mais tranquila.Ayla estava certo. Tudo aquilo era irônico. A evitei tanto, a afastei e naquele momento, sentado em meu escritório, só conseguia pensar em estar ao lado dela.Os cheiros do hospital aind
O silêncio do hospital era esmagador. Eu olhava para o teto branco e sem vida do quarto, sentindo meu próprio peito pesar como se estivesse carregando o mundo inteiro. Apoiei minha mão sobre ele, sentindo as batidas frenéticas do meu coração.Não sentia a presença de Damian em lugar algum. Realmente, ele havia ido embora. Por mais que não fosse incomum, aquela atitude ainda conseguia mexer comigo. Queria arrancar aqueles sentimentos, destruir as lembranças de seus beijos, seus toques, seu cheiro... Eva estava sentada ao meu lado, seus olhos cinzentos estavam carregados de preocupação enquanto ela me observava, tentando ser discreta. Ela não disse nada desde que chegou, só ficou me observando, esperando que eu quebrasse o silêncio primeiro. Mas eu não fazia ideia por onde começar. Eu não sabia como transformar o caos dentro de mim em palavras que fizessem algum sentido para ela sem que me despedaçasse por completo.Cada parte do meu corpo doía, mesmo que todos os ferimentos já estives