CAPÍTULO 4
Louise Gomez (No dia seguinte) — Bom... eu preciso ir — Digo ao me despedir. — O motorista vai te levar até o aeroporto. Já conversei com a equipe, e lá você terá o seu próprio motorista e funcionários para cuidarem da casa. Um deles irá te buscar no aeroporto de Boston — explica Ricardo. — Tia, você vai voltar? — pergunta Melissa, com seus olhinhos curiosos. — Claro, querida. A tia vai trabalhar lá, mas os passeios ainda serão aqui. Logo eu venho visitar vocês, ou então, seus pais te levam para lá. O que você acha? Ela b**e as mãozinhas, feliz. — Eu quero viajar, mamãe! — Claro, lindinha. Logo iremos visitar a tia Lou — May responde com um sorriso. . Conforme o Ricardo havia dito, o motorista veio me buscar; nem precisei esperar muito no aeroporto. Enquanto observava as pessoas e o tráfego, avistei um carro preto, com a placa que o Ricardo havia me enviado. Era um carrão. O motorista desceu para abrir a porta, e parecia já saber quem eu era, com uma tranquilidade que me deixou curiosa. Quando entrei no carro, ele me olhou pelo retrovisor e perguntou: — Direto para a casa, senhora? Eu o encarei pelo retrovisor, incrédula. — Me chamou de quê? De velha? — Não, senhora, é apenas respeito — respondeu, sem desviar o olhar. — Então vá respeitar a sua avó, porque eu não tenho cara de vovozinha — falei, ríspida. O sujeito, que era bem bonito, me olhou feio, mas não disse nada. Melhor assim. Onde já se viu? Chegando naquela bela casa, ele abriu a porta para que eu descesse. Um exagero, já que sei muito bem me virar sozinha. Ele foi até o porta-malas, e vi quando ele começou a carregar minhas coisas. Eu já gostava daquela casa, mas fazia tempo que não a visitava. Acho que a última vez foi no aniversário de dois anos do Breno, meu sobrinho. Dormi bem durante a noite. Quando acordei, me arrumei com entusiasmo. Escolhi um conjunto estilo secretária, moderno, que comprei numa viagem com a minha irmã. Ele era vinho escuro, com detalhes em preto, e a saia era um pouco curta. Meus longos cabelos loiros, que agora passavam da cintura, davam trabalho, mas eu já estava acostumada a cachear as pontas. Depois de uma boa maquiagem, chamei o motorista para me levar à Taylor's. Realmente, preciso tirar minha carta de motorista; depender de alguém é cansativo. A empresa era imponente. Um prédio bonito, claramente pertencente a gente rica. Na recepção, me aproximei da atendente, que me recebeu com um sorriso. — Bom dia, em que posso ajudá-la? — Sou Louise Gomez. Vim para trabalhar aqui. — Seja bem-vinda, Louise! Já ouvi falar de você. O senhor Wesley está precisando de alguém competente para ajudá-lo. — Que bom ouvir isso. Qual o seu nome? — Andréia. Também sou argentina. A sua sala fica na cobertura, ao lado da sala do senhor Wesley. Aquela informação me causou um leve desconforto. “Wesley...“ — Nada de formalidades, Andréia. Pode me chamar de Louise ou Lou. Mas preciso ir, não quero me atrasar no primeiro dia. Ela riu. — Aqui entre nós? O senhor Wesley é o rei dos atrasos — cochichou. — Vou me lembrar disso — respondi, entrando no elevador. Já no andar da minha nova sala, observei que tudo era muito bonito e sofisticado. Ao me aproximar, vi uma mulher na mesa entre as salas principais e decidi me apresentar. Mas, ao contrário de Andréia, ela mal me olhou e disse, com desdém: — Quem te autorizou a subir? Ninguém me avisou. Seguranças? Fiquei boquiaberta. Não acreditava que ela estava me expulsando sem nem saber quem eu era. Respirei fundo e respondi, com calma: — Não preciso de autorização, querida. E se esses seguranças encostarem em mim, hoje mesmo vão sentir falta de algum membro no corpo. A mulher bufou e virou as costas. Não hesitei; agarrei seu cabelo por trás e o braço com firmeza. — A próxima vez que me desafiar, eu nem vou segurar só o cabelo, mas vou enfiar a sua cara toda dentro do vaso, entendeu? — falei pausadamente. Antes que eu pudesse reagir ao que viria em seguida, senti um cheiro familiar. Ouvi uma voz masculina, inconfundível, ecoar pelo corredor: — O que está acontecendo aqui? Estou ouvindo vozes de longe. Meu coração acelerou. Sabia quem era. Não podia evitá-lo para sempre. — Gilmara? Quem é essa mulher? — ele perguntou, a voz se aproximando. — É o que eu queria saber senhor! — Diz a vaca morena, siliconada. Pensei, e resolvi soltar a horrorosa, já que não iria acabar com a cara dela agora. Então com a classe que eu tenho, ajeitei os meus longos cabelos loiros com as mãos, me virando com a postura de uma verdadeira dama, para o homem que um dia... eu me iludi, pensando que me amava...