A palhaça indomável
A palhaça indomável
Por: Luzia Oliveira Rocha
Capítulo um

— A atividade será corrigida na próxima aula, por favor, respondam!

— Sim professora!

Meu celular vibrou no momento em que a aula terminou. Quando olhei, era uma mensagem de Sofia, confirmando que daquela vez, seria no Bar do Zé às 20:00 horas. Como resposta, enviei uma figurinha de um cachorro sorridente, e ela, respondeu com uma das maravilhosas figurinhas dela própria.

Juntei todo o material escolar espalhado pela mesa e guardei. Saí logo em seguida, levando para casa somente os textos que os alunos me entregaram na aula. Enquanto eu ainda estava indo para o carro, Natasha mandou mensagem, perguntando “qual seria a da vez”. Pensei um pouco e, optei pela Skol Beats, tendo como resposta, apenas um emoji sorrindo.

Ao chegar em casa, a primeira coisa que vi foi Sofia, com uma touca térmica nos cabelos, fazendo hidratação. Ela estava toda animada, escolhendo o look que usaria a noite. Eu corri para o quarto, louca para tomar um banho. Embaixo do chuveiro, enquanto a hidratação agia nos meus cabelos, eu cantei feito louca, ao som de Gustavo Lima, sem ligar para o fato de que os vizinhos estariam ouvindo.

Às 19:30 horas, eu e Sofia estávamos prontas. Ela colocou um vestido azul marinho colado, e nos pés, uma sapatilha preta. Os seus cachos estavam soltos e esvoaçantes, um pouco rebeldes.

Eu preferi um vestido longo e florido, uma jaqueta jeans branca para dar um charme e, nos pés, um tênis branco. Ambas usávamos maquiagens simples ‒ era apenas mais um encontro entre melhores amigas ‒ pelo menos era o que eu imaginava.

Ao chegar no barzinho, Miriam já estava, pontual como sempre. Logo após Natasha chegou e, por último, mas não menos importante Íris, a atrasada do grupo.

Eu sou Elisa, professora de Português do ensino fundamental e médio, de uma escola estadual, Sofia é minha irmã mais nova, recém formada no curso de enfermagem, Natasha é farmacêutica e a minha amiga mais antiga, Íris é fisioterapeuta e a segunda que me conhece a mais tempo. Já Miriam, é formada em contábeis e, a última a fazer parte do grupo, mas não significa que é a menos amada.

Nosso grupo se formou há cinco anos e meio, desde então, nos encontramos uma vez por mês, para beber, comer, e jogar conversa fora. Cada uma de nós tem sua particularidade, o que nos torna inseparáveis. Sofia mora comigo ‒ considero ela a desastrada do grupo língua solta e a que mais ri, sendo que a risada dela faz a gente passar vergonha, pois é esquisita demais. Por mais que sejamos irmãs, não nos parecemos em nada, fisicamente falando. Enquanto ela tem os cabelos bem cacheados, é esguia e tem a pele morena; eu sou branquela, os cabelos de cachos bem abertos (quase ondulados) e mais gordinha.

Natasha é a nossa princesinha, não por causa da sua personalidade, mas sim, por ter a aparência de uma: loira, pequena, bunda grande, olhos verdes e boca carnuda, a mais visada do grupo pelos homens. Em relação a sua personalidade, ela é a que não perde uma piada e, a oportunidade de deixar um homem babado diante os seus pés. Somos amigas desde que tínhamos onze anos.

Íris eu conheci quando tinha 15 anos e somos amigas desde então. Ela é outra de riso fácil e um pouco menos escandaloso do que o da minha irmã. É esquentada, e também a que não pode ver um homem bonito que fica animada. Tem cabelos crespos, volumosos e escuros, além de ser baixinha.

Miriam é a sensata. Calma e tímida, mas que sabe ser animada quando é o momento. Mulher negra, cabelos médios, lisos e pretos, corpo cheio de curvas e olhos e boca grandes. Apesar de usar óculos, ela tem um olhar penetrante. Conheci quando eu tinha 18 anos, na igreja.

Sou considerada a palhaça do grupo e o elo de ligação dele.  Viajo nas piadas até onde dá e, sempre me empolgo quando estou com elas. Temos idades diferentes, sendo minha irmã a mais nova com 23 anos. Miriam tem 26 anos, Natasha 29 anos, eu 30 anos e Íris 35 anos.

Enquanto o garçom não trazia nossas bebidas e o tira gosto, Natasha deu início a uma conversa:

— Sabe o Léo? Ele voltou a falar comigo. — Disse ela animada.

— Lá vem você com os seus ex. — Falei revirando os olhos.

— Bloqueia logo antes que rola uma recaída. — Miriam aconselhou enquanto ajeitava o óculos.

— Ah meninas! Se ela quer dar uns pegas nele de novo que mal faz? — Disse Íris piscando o olho para Natasha.

— Léo é qual mesmo? — Questionou Sofia, completamente perdida na conversa.

— É aquele cara que fez faculdade comigo, e que a gente ficou um tempão. — Explicou Natasha.

Até que fim, nossas bebidas e o tira gosto chegaram. A noite corria como de costume: enquanto comíamos aipim frito com picanha, íamos contando as novidades do mês, Íris devorava com os olhos os homens lindos que volta e meia passavam, minha irmã ria bêbada, fazendo bagunça na mesa com a comida, enquanto eu e Miriam, ríamos sem parar dela. Natasha naquela noite, lançava seu olhar para um moreno que estava na mesa da frente. De repente, ela me perguntou:

— Elisa, você ainda não gosta de homens bonitos?

— Sim, ainda não mudei de opinião. Eles são convencidos, dão trabalho e causam intrigas. — Respondi fazendo careta.

— Ave amiga! Você não sabe é aproveitar! — Íris disse dando uma risada maléfica.

— Se prepara porque tem um Deus grego vindo para cá, e ele estava olhando pra você. — Disse Natasha, levantando a sobrancelha.

— Tadinho! — Disse Íris, já dando risada.

Assim que Natasha fechou a boca, senti alguém se aproximar da nossa mesa. Levantei os olhos e tive que concordar com ela: o cara realmente era um deus grego. Alto, forte, cabelos lisos e castanhos com um leve topete, olhos azuis, sorriso largo e um perfume maravilhoso.

— Boa noite meninas! Sou Ian, eu e o meu amigo queremos saber se podemos sentar com vocês?!

Além de lindo, ele tinha a voz rouca, marcante e sedutora. Íris estava babando na mesa, Sofia ficou sóbria rapidinho, Miriam, arregalou os olhos e, Natasha jogou seu olhar de “te quero agora e para sempre”. Como de praxe, toda vez que alguém pedia para sentar conosco, elas olhavam para mim, fingindo que eu era a manda chuva do grupo. Ian me encarou com um olhar intenso, cheio de expectativa. Um momento de silêncio pairou sobre a mesa; se eu dissesse que não podiam, com certeza eu não chegava viva em casa, então falei que por mim tudo bem.

Ele deu um lindo sorriso agradecendo a oportunidade. Em seguida, foi buscar uma cadeira para sentar e chamar o amigo dele.

— Esse é gato viu! — Miriam falou enquanto balançava a cabeça para cima e para baixo.

—  Lis, você tem que pegar esse! Ele é o homem mais lindo que já vi! — Disse Sofia rindo. Íris tampou a boca dela para que não assustasse os meninos com aquela risada estranha.

Não tive tempo de falar nada, Ian já voltava com o amigo dele, que logo ficou interessado em Natasha, para surpresa nenhuma do grupo. Logo após, se sentou ao lado de Íris, e de frente para mim.

Começamos a conversar, ele contou que era engenheiro civil e o amigo dele, Breno, médico (que por sinal, era outro gato diga-se de passagem). Um pouco mais baixo que Ian, porém forte e musculoso também, pele negra, olhos ligeiros e, uma boca lindamente chamativa.

Ian a todo momento tentava puxar papo comigo, lançando seus olhares e dando sorrisos sedutores. Enquanto eu tentava de todas as maneiras evitar olhar par ele, Íris tentava chamar a sua atenção. Sofia acompanhava o desenvolver da trama, olhando para Ian de um jeito que o deixaria desconfortável, se caso tivesse notado. Miriam interagia com Breno e Natasha, sem deixar de prestar atenção no que acontecia no restante da mesa.

Quando ele percebeu que seus olhares e sorrisos não estavam surtindo efeito, resolveu ser mais direto:

— Você tem namorado? — Perguntou curioso.

— Não tenho. Respondi sem demostrar ânimo.

— Você pode me passar seu número pra gente se conhecer melhor? — Perguntou levantando uma sobrancelha.

—  Desculpa, não tenho interesse. Respondi na lata.

— Não entendi. — Ele falou achando que havia escutado errado.

Todas as cabeças viraram para nós dois. As meninas já estavam acostumadas com minha sinceridade, o que elas queriam ver mesmo, era a reação de Ian, que com certeza, não estava acostumado a ser rejeitado. Ele ficou muito surpreso, e Breno não teve uma reação diferente, até engasgou com a cerveja.

Eu não fico bêbada fácil, tenho uma grande resistência ao álcool. Pode ter sido devido a TPM que estava próxima, ou sabe se lá o que deu em mim, só sei que perdi o resto da paciência que tinha e falei:

— Antes que você pense que estou me fazendo de difícil, eu não estou. Você é lindo, cheiroso e aparentemente interessante, mas não faz meu tipo. Não sou de ficar com um homem logo de cara por mais bonito que ele seja, inclusive, quanto mais bonito menos chance ele tem comigo. Homens bonitos como você, são convencidos, pegadores e dão muito trabalho.

— Elisa! —  Ralhou Natasha da ponta da mesa.

Sofia me deu uma cotovelada, Íris tampou a boca e, Miriam tomou um gole de cerveja tentando disfarçar o choque. Ian olhou para baixo durante alguns segundos.

Eu já estava preparada para as ofensas que com certeza eu iria escutar logo em seguida. Sempre era assim.

Como se tivesse em uma discussão interna, Ian sorriu pra si mesmo, pegou a cerveja, tomou um pouco, pôs o copo na mesa e voltou a olhar para mim, dessa vez, sem sorrir e parecendo um pouco indignado.

— Então você não quer me dá o seu número, e nem ficar comigo, porque sou bonito? — Questionou ele.

— Exatamente. — Respondi sem dar a mínima para seu tom de voz irritadiço, já esperando os xingamentos.

— E só porque sou bonito, eu sou pegador, convencido e dou trabalho? — Perguntou enquanto cruzava os braços.

— Sim! — Afirmei com convicção.

Ele então colocou as mãos na mesa, batendo a ponta dos dedos sobre ela. Quando começou a falar, seu tom irritado de momentos antes desapareceu. Dessa vez, usava um desafiador, como o seu olhar.

— Vamos fazer uma aposta: me dê um mês para que eu mude essa sua perspectiva, se eu conseguir, você me deve um barril de 5 litros de cerveja, se eu perder, eu que te dou um.

Ninguém ousava se mexer. Fiquei alguns segundos pensando na aposta, tentando ao máximo, não desviar o olhar dele. Para ganhar tempo, resolvi sondar:

—  Como você pretende provar isso? Fazendo eu apaixonar por você?

—  Se eu fizer isso e não querer nada com você depois não seria contraditório? Eu estaria provando ser exatamente aquilo que você pensa. Então, vou arrumar um jeito de te fazer mudar de ideia, nem que seja de: todos homens bonitos para quase todos. — Ele falou, levantando uma sobrancelha, o que tornou seu olhar ainda mais petulante.

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