Antes que Jorge pudesse responder, ela continuou:— Eu sou filha única, não tenho irmãos. Como você viu, minha família é bem simples, meus pais são pessoas humildes, e nossos parentes também são pessoas comuns.— Minha família é boa, tenho uma irmã, e meus pais estão vivos... — A resposta de Jorge foi bem direta.Isabela já tinha uma ideia inicial sobre isso.De repente, um barulho forte veio de fora, parecia que a polícia tinha chegado.Isabela estava indo abrir a porta quando Jorge a segurou pelo braço.— Fique aqui dentro.Ele foi até a porta e a abriu.Os policiais perguntaram quem tinha feito a denúncia.Jorge respondeu:— Foi minha namorada quem ligou. Ele está nos assediando e batendo na porta com força, tentando invadir a casa. O comportamento dele está afetando muito a vida normal da minha namorada.Sandro, ouvindo Jorge se referir a Isabela como "namorada", sentiu a cabeça zumbir de raiva.Ele deu uma risada fria, com uma expressão de raiva no rosto.— Sua namorada? Ela é min
Os braços dele eram fortes, o corpo largo e firme.Quando a abraçava, parecia que ele a envolvia por completo.O tempo estava ficando cada vez mais quente.As roupas estavam ficando cada vez mais leves.Isabela podia sentir claramente o calor do homem atrás dela. Parecia que a temperatura dele ia atravessar o tecido, queimando ela.Ela olhou para baixo, movendo um pouco o corpo.— Pare com isso.Jorge se inclinou, seus lábios perto de seu ouvido.— No que você está pensando?— Não estou pensando em nada. — Isabela respondeu.Depois de dizer aquilo, parecia que ela tinha entendido o que ele queria dizer.Ao virar a cabeça, seus lábios passaram pelos dele. Seu rosto ficou um pouco quente, mas ela tentou se manter calma e disse:— Você quer saber se ainda penso nele, né? Será que a minha atitude de agora não foi o suficiente para você ver que não?Jorge observou seu rosto irritado e perguntou:— Está brava?— Não gosto de ser testada. Você sabe da minha situação. Se sabe, tem que estar pr
Jorge olhou para a palma da mão e disse:— Já está tudo certo.Isabela colocou comida no prato e disse:— Não pode vacilar.A ferida era bem profunda, e ainda era melhor dar uma conferida para Isabela ficar tranquila.Depois que terminaram de comer, Isabela guardou as louças, lavou tudo e deixou tudo arrumado, e então os dois saíram juntos.Eles foram até o hospital.O médico olhou para a ferida na mão de Jorge, que já estava cicatrizada. Ele retirou os pontos e receitou um remédio para tirar a cicatriz.Com o uso constante, pela manhã e à noite, em pouco tempo ficaria bom, e como a cicatriz era recente, o processo de recuperação seria mais rápido.Quando saíram do hospital, o celular de Jorge tocou. Era Clara ligando. Jorge se afastou um pouco para atender.— Oi, mano, quando é que você vai trazer sua namorada para casa? Já ouvi a mãe falando, vocês estão morando juntos, não adianta me enganar.Jorge olhou para Isabela por um momento e respondeu:— Você tem esse tempo todo, por que nã
Isabela prendeu o cinto de segurança e disse:— Esqueci de pegar o remédio, quando estava voltando, encontrei meu ex-sogro e troquei algumas palavras com ele.Jorge ficou sem palavras.Ele estava prestes a comentar sobre como o mundo era pequeno, sendo incomodado pelo ex-marido e encontrando o ex-sogro no minuto seguinte.— Ele estava com a amante dele indo para fazer pré-natal. Pelo visto, meu ex-marido vai ter um irmão ou uma irmã em breve. — Isabela já havia ajustado o cinto.Jorge ficou completamente sem palavras.— Será que a traição é hereditária? — Ele perguntou.Isabela ficou sem palavras por um momento, mas logo deu uma risadinha.— Talvez.Jorge começou a dirigir o carro.Ele olhou para a frente, com um olhar repleto de sarcasmo.Isabela inclinou a cabeça e o observou.— Você não parece muito feliz.Jorge permaneceu em silêncio.Um casamento com uma família como a família Marques... Dava para imaginar os problemas que enfrentariam no futuro.A família Neves sempre foi discret
— Ela disse que foi desde pequena. Como era muito nova, não lembrava direito, mas se lembrava de alguém tocando nela, pressionando ela, coisas assim.— Você só ficou sabendo disso agora? — Isabela perguntou.A garota respondeu:— Sim, depois que meu pai e minha mãe se separaram, eu fiquei com minha mãe. Eu fui morar no exterior bem cedo, mas voltei por causa disso, por causa do meu pai.Isabela acenou com a cabeça e perguntou:— Eles moravam na mesma casa?— Sim. Minha irmã tinha o quarto dela. Meu pai entrava quando a mãe dela não estava. Ele era padrasto dela, e... Fazia essas coisas. — Ela engoliu seco. — Minha irmã sempre foi muito quieta, e a mãe dela tinha pavio curto. Por isso ela cresceu com medo da família. Na carta, ela contou que os abusos começaram na infância e continuaram até o primeiro ano do ensino médio. Foi quando ele realmente abusou dela pela primeira vez. Tipo, quando ela já entendia o que estava acontecendo.— Ela tinha essas memórias de infância, mas sem muita ce
Isabela pensou consigo mesma: "Uma criança criada em uma família assim, com certeza, deve ser mais introvertida, provavelmente por influência do ambiente."Ela então perguntou:— No dia ou no dia anterior à tentativa de suicídio, ela recebeu algum tipo de estímulo direto? Quando foi que ela escreveu a carta de despedida?— A carta de despedida ela já tinha escrito faz tempo, mas foi apagando e reescrevendo várias vezes. Eu vi no documento que a polícia nos enviou, a última alteração foi no dia 25 do mês passado.— É versão eletrônica?— Sim, foi num aplicativo de notas, e ela também escreveu uma versão à mão, mas era bem mais simples.Isabela perguntou novamente:— Ela teve algum tipo de estímulo direto antes de se suicidar, tipo no dia anterior ou dois dias antes?— Eu não sei direito, acabei de chegar.— Em que estágio está a investigação?— Está no início da investigação ainda.— Já faz quanto tempo que começou?— Deve fazer uma semana.— Já consultaram um advogado? — Isabela pergun
— Eu espero que, na comunicação entre você e seu pai, consiga refletir ou perceber alguns dos fatos. Como seu pai entende o que significa se aproximar? De que maneira ele se aproxima? Qual foi a reação da sua irmã? Quantas vezes ele tentou se aproximar? Onde isso aconteceu? Em que tipo de situação ele tentou se aproximar? Depois de entender tudo isso, você vai conseguir perceber os fatos de forma mais clara. E aí talvez você perceba a gravidade do que seu pai fez, se configura assédio ou até mesmo estupro. Quando tiver total consciência de tudo o que aconteceu, pode então pensar cuidadosamente se vai ajudar sua irmã ou seu pai. — Isabela sugeriu à garota.Isabela tomou um gole de água e continuou:— Pelo que parece, seu pai foi liberado por fiança porque os fatos ainda não estão claros e as provas são insuficientes, mas isso não significa que ele vai ficar livre desse caso. Pelo que percebi na sua conversa, você está um pouco em dúvida, mas ainda assim defende seu pai. Além disso, s
Como advogada, mesmo que não tivesse trabalhado em muitos casos, ela sabia que um profissional não podia agir com base em emoções. Era preciso falar com provas.Ela não aceitou o caso porque não queria se envolver. Embora tivesse analisado a situação de forma objetiva, no fundo, evitava encarar uma tragédia ainda mais dolorosa.Ela tinha medo de ver a maldade do ser humano. E também tinha medo de encontrar uma vítima tão traumatizada que tivesse perdido a sanidade... Ou até mesmo pensado em tirar a própria vida.A garota ficou visivelmente desapontada.— Ah, entendi...— Isso mesmo. — Isabela respondeu.— Tá bom, vou pensar melhor. — Disse a garota, se levantando.Isabela também se levantou e abriu a porta da sala de atendimento.— De qualquer forma, muito obrigada por me explicar tudo. — Disse a garota, educadamente.— Imagina. — Respondeu Isabela.Ela observou a garota se afastando.— Espere um pouco! — De repente, Isabela chamou por ela.A garota se virou.Isabela foi até ela.— Fiq