A Proposta do Meu Inimigo - livro 2
A Proposta do Meu Inimigo - livro 2
Por: Rafa Cabral
Capítulo 1

Estava uma bela manhã no auge da primavera, a estação perfeita para festas e claro, a estação das flores. Meu apartamento mais parecia uma aquarela, haviam tantas flores de tantas cores e espécies que eu precisava manter as janelas bem abertas para o ar circular e levar o pólen embora. O maior problema, na verdade, era que muitas flores atraiam muitos insetos e entre eles o pior de todos: abelhas, totalmente importantes na polinização, mas totalmente mortal para humanos com alergia ao ferrão. Como eu. E por essa razão, ali estava eu, na 5° volta da maratona "Se livre das Flores", como eu mesma a nomeei, já sabendo que em breve compraria mais. Ou melhor, talvez a dona da floricultura pudesse fazer uma troca por espécies que não dão flor.

Já cansada de subir e descer a escadaria do prédio (o porteiro me proibiu de ir pelo elevador porque, segundo ele, eu poderia dividir o elevador com alérgicos a pólen, mas eu sabia que era apenas para me castigar depois que dei um fora nele uns dias antes), decido descansar e é nesse exato momento que meu telefone toca, com a respiração pesada e tendo uma leve vertigem, olhar o nome na tela não foi uma preocupação.

— Espero que não tenha esquecido que dia é hoje. — a voz da Alyssa soou no telefone, não estava brava, mas sabia que provavelmente eu havia esquecido. E era verdade.

— Sábado? — perguntei franzindo a sobrancelha como se ela pudesse ver.

— Não acredito que esqueceu! — agora sim ela estava brava. E não estava errada, era o primeiro aniversário da Bella, a bebê dela e minha afilhada e não só isso, também seria o jantar de noivado deles que queriam aproveitar que alguns parentes de longe viriam. — Que bela madrinha minha filha tem!

— Aly, calma, sei que está nervosa, mas vai dar tudo certo e eu já estou chegando... — me lembrei da distância de Manhattan até Long Island e pensei bem. — Só mais umas duas horas e eu chego. Enquanto isso, tente não matar ninguém!

— Louise... — desliguei para evitar ouvir a bronca. Eu já deveria estar lá e por sorte deixei tudo arrumado no dia anterior. Nem eu saberia explicar como eu havia esquecido eu e Aly estávamos planejando há meses e eu estava tão ansiosa quanto ela.

Peguei minhas coisas e corri para o carro. Antes de pegar o caminho para a mansão, parei na floricultura para deixar as flores e só então fui para lá. Eu precisava abastecer, mas estava muito atrasada e dava para chegar até lá, eu só não tinha certeza se conseguiria chegar até um posto na volta. O Vermelhão, como eu carinhosamente apelidei o meu carro, era um bom companheiro e me ajudava demais, porém estava precisando de uns reparos, prova disso era o consumo excessivo de combustível. Infelizmente, pela minha condição financeira, ele teria que esperar.

O jardim da mansão estava uma loucura, brinquedos sendo montados, mesas, arranjos de balões e Alyssa afoita tentando organizar cada fornecedor.

— Vai se arrumar, eu cuido de tudo. — falei me aproximando.

— Obrigada Lou, você é minha salvadora! — respondeu me dando um ligeiro abraço.

Depois de algumas horas, tudo estava pronto, os brinquedos em seu devido lugar, a decoração pronta e a equipe de animadores chegou na hora. Os convidados também e não era difícil diferenciar a família da Alyssa da família do Viktor. O pai dela veio da Itália com a mulher e os filhos, além de um irmão dele, tio da Alyssa, que também trouxe crianças. Já a família de Viktor, todos franceses com ar de arrogância, primos e tios que também trouxeram crianças.

Ok, eu gostava de crianças, mas não podia negar que elas dão trabalho. Agora, se elas dão trabalho na escola, onde não há nada muito divertido, imaginem num local cheio de brinquedos, doces e mais crianças. O jardim logo se tornaria uma bagunça incontrolável de crianças gritando, chorando, rindo e se sujando. Eu esperava que, no mínimo, os pais fossem responsáveis.

Viktor, Alyssa e Bella recém acordada, com uma carinha de sono que dava dó, chegaram juntos para recepcionar os convidados. Aly acenou para mim de longe, agradecendo pela ajuda, sorri para ela e fui procurar algo para comer, ainda não havia comido nada naquele dia.

Minutos depois, o local estava exatamente como previ, mas por sorte, sem nenhuma criança chorando. Ainda.

— Já te falei que nunca mais vou ter filhos? — Alyssa se aproximou perguntando.

— Já, desde o nascimento da Bella. — nós rimos.

— É muito bom ser mãe, mas é tão cansativo. — mordeu um sanduíche que segurava.

— Agora imagine ter 25 crianças chamando "professora" a cada dois minutos, cada uma com uma pergunta aleatória. — ela riu. — O pior de tudo é que sinto falta.

Ela colocou a mão nas minhas costas e sorriu.

— Bom, tem bastante crianças aqui para você matar a saudade. — eu ri.

— É melhor deixar elas brincarem sozinhas. — falei e ela sorriu. Foi nesse momento que alguém a chamou para tirar foto e acabei sozinha novamente.

Fui dar uma volta pelo jardim, fugindo da confusão de crianças e adultos conversando. Acabei ouvindo um choro de criança e segui até a origem do som, encontrando Sarah sentada no chão com um joelho ralado.

— Ei, o que aconteceu? — perguntei com calma. Me sentando ao seu lado.

— Eu caí e machuquei o joelho. — respondeu em meio ao choro e soluços. Tirei uma caixinha de curativos do bolso, eu já sabia que em algum momento isso iria acontecer e sobraria para mim.

— Posso ver? — ela fez que sim e se virou para mim, mostrando o aranhão com um pouco de sangue. — Vamos fazer um curativo e logo já vai sarar ok? Qual você quer, As Princesas ou Vingadores? — perguntei mostrando os curativos com desenhos dos personagens e ela escolheu As Princesas. — Espera só um pouquinho aqui tá bem?

Ela concordou e fui atrás de um pano limpo e molhado, por sorte ela estava perto da cozinha e não demorei muito a encontrar. Como qualquer criança, ela exitou e não queria deixar que eu limpasse o ferimento, mas com um pouco de conversa ela deixou e coloquei o curativo, dando um beijinho ali "para sarar mais rápido" e um abraço por ela ter sido forte. Rapidamente, ela secou os olhos e levantou mancando e gritando "papai".

— Papai, eu estava brincando e caí e machuquei o joelho, mas a Louise veio e fez um curativo e não doeu, só está doendo um pouquinho, mas como ela deu um beijinho vai sarar rápido. — contou e Mathieu se abaixou para ver o ferimento. — Ahn, você também está machucado, papai. — se virou para mim. — Louise, você faz um curativo no papai também, ele machucou a mão.

Mathieu olhou para mim e depois para a filha.

— Não precisa, é só um corte, logo sara. — respondeu.

Uma outra criança se aproximou correndo chamando a Sarah e avisando que Alyssa estava fazendo desenho com tinta guache nas crianças. Ela não pensou duas vezes e foi atrás, um pouco mancando, mas foi.

Me levantei e fui até Mathieu, que também já estava de pé, percebendo o pequeno corte em sua mão esquerda e que segurgava um sorvete na mão direita. Nada com o que se preocupar, mas eu usaria de estratégia para que ele não fugisse do sermão.

— Me da sua mão. — ordenei e ele estendeu a mão machucada. Limpei com a parte que não utilizei do pano e antes de colocar o curativo, comecei a falar. — Sabe que você é responsável por ela, não é? Eu a encontrei sozinha chorando por causa do machucado, onde você estava? Esqueceu que é o pai dela?

Coloquei o curativo dos Vingadores e olhei para ele.

— Você não sabe do que está falando, Louise. Eu deixei ela sozinha por dois minutos, para buscar o sorvete que ela pediu. — levantou a mão com o sorvete, dando ênfase na sua explicação.

— Dois minutos? Eu levei mais que isso para ajudar ela! E não só isso, ela já estava chorando há tempos e onde você estava? — cruzei os braços, me irritando.

— Não interessa, Louise, só cala a boca fazendo favor! — respondeu se irritando também.

— Vai ter que fazer melhor do que isso, você não pode achar que... — Mathieu simplesmente colocou o sorvete na minha boca e correu rindo. Não perdi tempo, joguei o sorvete no chão furiosa e comecei a correr atrás dele, xingando de todos os nomes possíveis ignorando totalmente que haviam crianças ali.

Quando estava perto de alcança-lo, tirei um tênis do pé e o atirei contra ele, acertando em cheio suas costas e ele parou. Olhando para mim com uma careta de dor enquanto eu me aproximava a passos largos, cheia de fúria e ódio, pronta para bater nele com o tênis que me restou.

— Meu Deus! Vocês são piores que crianças! — Alyssa gritou, se pondo entre nós.

— Ele/ela que começou! — falamos juntos e revirei os olhos, percebendo o quão infantil foi aquilo.

— Honestamente, a mansão tem inúmeros quartos para resolverem suas diferenças...

— Eu até iria, mas acontece que a chatisse da Louise me faz broxar. — Mathieu a cortou com um pequeno sorriso zombeteiro.

— Ainda bem, fico mais tranquila sabendo que você não se toca pensando em mim. — respondi e fui pegar o outro pé do meu tênis, um pouco mais calma, porém com ainda mais ódio dele.

— Já chega! Hoje é o aniversário da afilhada de vocês, então por favor, apenas não estraguem tudo! — Aly suspirou. — Façam as pazes e venham comportadamente tirar uma foto com a Bella antes de cantarmos os parabéns.

Mathieu olhou para mim e se aproximou com um sorriso falso e a mão estendida, retribui o sorriso e apertei sua mão. Alyssa não parecia satisfeita, mas sabia que aquilo era o melhor que conseguiria e se virou indo em direção ao centro da festa.

— Energúmeno! — falei baixinho, depositando toda a minha raiva na palavra que só definia uma pessoa, Mathieu Bresson.

— Limão azedo! — retrucou também baixo, mas foi o suficiente para a Alyssa ouvir e nos mandar ficar quietos.

Tiramos as fotos com a pequena Bella, sorrindo como se fossemos amigos, apenas pelo bem dela. Alyssa e Viktor nos convidou para sermos padrinhos dela e eu não recusaria apenas por odiá-lo, eu preferia que fosse o Theo, mas foi eu e Mathieu e concordamos em dar trégua sempre que fosse preciso pela Bella.

A pequena Bella estava sorridente e alegre, batendo palmas do seu jeitinho no parabéns, mas ficou com medo das velas e os papais que apagaram. Eu estava genuinamente feliz por eles, em ver minha amiga com sua família, sabendo dos dias cinzas que ela passou. Alyssa esteve presente nos meus dias cinzas, ela e Edward foram meu alicerce quando precisei e por conta disso a felicidade deles também era minha.

Mas eu não podia negar, tinham dias solitários. Ed foi para a Espanha, Alyssa formou uma família e eu... Bem, eu cuidava deles à distância e celebrava suas conquistas enquanto corria atrás das minhas. Um ano se passou e eu ainda não havia me recuperado da perca da minha profissão. Ser professora e cuidar daquelas crianças era a minha vida e agora eu tentava começar uma carreira como modelo do zero e na idade errada, mas mantinha a esperança de dias melhores.

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