A Prometida
A Prometida
Por: Sandra Rummer
Nádia Najat Nazira

Nádia Najat Nazira

— Querida! Tudo certo. Enfim chegou o dia! —Mamãe disse desligando o telefone. —Seu pai disse que já conversou com a família de Rashid. E hoje à noite ele vem vê-la.

Eu tinha me preparado para esse dia e agora que se tornava realidade, eu não conseguia me alegrar com a notícia. Era difícil para eu aceitar que em pleno século 21, morando na Inglaterra, minha família resistia às mudanças.

Tentei sorrir diante da notícia, mas estava abalada. Eu já me sentia em uma prisão, agora era como se me transferissem para uma jaula apertada, sem poder me movimentar.

Pisquei várias vezes, para não chorar e me levantei do sofá.

—Vou escolher uma roupa para a ocasião.

Com essas falas deixei a sala. Cabisbaixa, fui em direção ao meu quarto, lágrimas inundando meus olhos.

O homem ao qual fui prometida, vi apenas uma única vez em uma festa. Éramos adolescentes ainda e mamãe, discretamente, me mostrou ele. Isso não me empolgou nem um pouco. Ele era bem feio, usava aparelho nos dentes. Não encuquei muito com isso, e segui minha vida.  Na época, eu não entendia muito bem da vida, e nem do mundo lá fora. Aceitava tudo sem questionar. Mas conforme fui amadurecendo percebi, que meu horizonte era muito limitado, e que o mundo tinha muito a me oferecer. 

Contudo, como boa filha, aceitei ser dirigida pelos meus pais. Eles ditavam desde pequena tudo em minha vida. O que eu deveria vestir, assistir, ler, amigos, lugares, festas. Era natural também que escolhessem para mim um homem de boa índole e de uma boa família para ser meu futuro marido.

Fico pensando agora: E se eu não gostar dele?

Minha opinião teria força, por ser fruto de uma promessa, onde fui preparada para esse momento?

E ele? O que pensava? Em pleno século 21, estaria satisfeito por nossas famílias ditarem nossos futuros?

Tudo indicava que ao longo dos anos, meu prometido assimilara a nossa cultura, e talvez aceitasse isso numa boa. Não parecia algo forçado para ele pelo fato de ele vir me ver, isso só mostrava claramente que a promessa, um dia feita, tinha força e não fora desfeita. Eu precisava conversar com ele sobre isso!

Teríamos chances de ficarmos sozinhos? Ou a visita dele seria assistida pelos meus pais?

Como funcionaria? Como seria?

Eu, por incrível que pareça, nunca perguntei a meus pais sobre esse dia. E sei o porquê fiz isso: Para demonstrar desinteresse, com a esperança de que quando chegasse o momento, eles desistissem da ideia.

O pior de tudo era que em uma dessas festas, conheci um homem que abalou minhas estruturas. Essa era uma triste realidade. Cheia de verdades.

Nos beijamos, suspirei...

Quando ele me beijou, mal pude acreditar que eu permiti tal ato. E o pior, logo na primeira noite que nos conhecemos. Mas foi bom. Isso deu um estalo na minha cabeça, e desde então, tenho pensado nessa noite, e percebi que o casamento arranjado seria uma grande loucura.

Hoje só havia um sentimento dentro de mim, e ele me dizia: não quero me casar com um homem por conveniência, mas quero me casar por amor.

Três anos atrás...

Era aniversário de dezessete anos de Layla Makarin, uma amiga da época do colégio. Ela escolhera a discoteca mais badalada de Londres.  Dezenas de jovens, pessoas de nossa cultura e ingleses foram convidados.

Fui acompanhada por minha mãe para variar, já estava acostumada com a presença dela nos lugares que ela achava que seria uma ameaça a minha compostura, ou que me tirasse o foco dos princípios aprendidos.

Saltei do táxi e prendi nervosamente uma mecha dos meus cabelos negros e compridos atrás da orelha. Ao nos aproximarmos da porta principal, apresentamos nossos convites, onde o segurança retirou o cordão para entrarmos. Lembro-me do ambiente, onde todas as mulheres estavam de saltos altos finos e saias bem-comportadas e do outro lado do salão, os rapazes vestidos com seus jeans e camisetas transadas.

Dentro da discoteca escura, uma grande bola metálica pendia no teto. Na pista algumas garotas dançavam, observadas pelos rapazes, tímidos do outro lado. Luzes salpicavam as pessoas na pista de dança de roxo, branco e dourado.

Eu e minha mãe logo fomos recebidas por Layla que nos direcionou a uma mesa. Olhei para mamãe, para ver sua reação, e fiquei feliz pois, até então, ela parecia não implicar com o ambiente.

Logo Layla me convidou para dançar, olhei minha mãe, pedindo sua autorização, onde ela assentiu com um leve aceno de cabeça. Sorri para ela feliz e segui Layla até a pista de dança, onde sacudimos nossos corpos ao som de Elvis Presley, Don't be cruel.

Dancei tanto que meus pés começaram a doer, me afastei até o bar e peguei uma garrafinha de refrigerante com um canudo. Com ele nas mãos, caminhei pelo labirinto de pessoas em direção a minha mesa.  No percurso meus olhos focalizaram a figura de um homem. Tinha vários rapazes lá, mas ele era diferente. Ele era maduro. 

Ele destoava lugar diante daqueles rapazes sem graça. Não consegui deixar de reparar na linda jaqueta de couro preta que ele usava, que combinava perfeitamente com sua calça preta bem ajustada, que se adequava perfeitamente aos seus quadris e revelava suas pernas fortes. A camisa semiaberta revelava pelos negros, onde pendia um cordão dourado. A cabeleira negra era bem penteada para trás. O queixo quadrado, voluntarioso.

Quando nossos olhos se encontraram, senti meu corpo estremecer. Nessa hora ele sorriu para mim, um sorriso torto. Me senti corar e desviei meu olhar, só então percebi que, desde que eu o avistei, não consegui tirar meus olhos dele. Ainda me sentido observada, me dirigi a minha mesa. Mamãe conversava com a mãe de Layla, estava tranquila. Num impulso, me virei e segui outra direção e fui para uma região mais afastada do salão.  

Nessa hora um garçom me ofereceu um canapé. Eu peguei um e distraída o consumi com o meu refrigerante. Layla, nessa hora, veio acompanhada com uma amiga.

—Nádia, quero te apresentar Carla Évora.

Carla Évora, era com certeza de origem hispânica, pois tinha feições de uma típica mulher latina. Linda! Com aqueles olhos grandes, o cabelo longo castanho.

Sorri para ela.

—Prazer em te conhecer.

Layla falou no meu ouvido.

— Ela trouxe um presentinho para animar nossa festa.

Vi Carla tirar de dentro da bolsa três vidrinhos e me deu um. Eu ergui minhas sobrancelhas e perguntei curiosa.

—O que é?

—Experimenta, e veja que delícia. —Carla me falou animada.

Eu as vi virando o vidrinho, consumindo todo o líquido transparente. E abri o meu, fiz o mesmo. Na hora senti minha garganta esquentar e tossi um pouco. Não era só minha garganta, mas meu corpo inteiro pegou fogo e eu senti uma leve torpeza.

— Nossa! O que é isso?

—Isso se chama vodca. É bom, né?

—Não posso dizer que gostei, nos deixa com uma sensação estranha.

Carla pegou outro e me ofereceu novamente, eu rejeitei, Layla aceitou. Depois delas consumirem outro vidrinho, me convidaram.

— Vem, vamos dançar. — Layla comentou com Carla. — Mais tarde tocará músicas lentas, as coisas irão esquentar.

Eu sabia que estava ali quase por um milagre e dançar colada a um rapaz, isso não aconteceria. Jamais minha mãe permitiria isso, mesmo porque, eu estava sendo separada desde a adolescência para um casamento arranjado.  Dei de ombros. Meus sentimentos estavam amortecidos, talvez por causa da bebida, pois tinha certeza que, se não tivesse bebido, estaria triste por não poder fazer minhas escolhas.

De cabeça erguida não me deixei abater e as segui até o salão novamente. Dançamos nós três curtindo a música disco que tocava. Quando as luzes escureceram, entendi que a hora dos rapazes convidarem as garotas para dançar coladinho havia chegado. Afastei-me do salão e me dirigi ao banheiro. Quase de imediato, fui interceptada no corredor pelo homem que eu tinha visto. Ele havia tirado a jaqueta e foi difícil não notar a camisa branca que ressaltava os cabelos escuros, a pele bronzeada, o rosto bonito da linhagem do meu povo.

Ele sorriu para mim.

— Dança comigo?

Eu fiquei sem fala por um momento. Sentindo meu coração agitado no peito. "Era o medo do desconhecido."

Fui sincera.

— Desculpe-me, mas não posso aceitar.

Quando disse aquelas palavras, a realidade desabou sobre mim. Fiquei triste em negar o convite.

—Por quê?

Eu desviei meus olhos dos dele, mas sentia seus lindos olhos negros sobre mim esperando uma resposta.

— Eu... —Eu levantei o olhar e vi seus olhos correrem por todo meu rosto.

Ele me cortou:

—É só uma dança.

Eu direcionei o olhar para a mesa de minha mãe e não a vi. Ele percebeu minha atitude.

—Quem você procura?

Eu o fitei.

—Ninguém. —Depois de uma pausa eu disse: —Tudo bem. Eu aceito.

Ele sorriu sedutor, me senti estranha nessa hora e um pouco arrependida. Ele me via como um desafio? Uma conquista?

Ele me puxou para o meio do salão, onde alguns casais dançavam. Pela primeira vez, senti o que era estar nos braços de um homem. O cheiro dele era maravilhoso. Fechei meus olhos sentindo o calor de seu corpo, estava um pouco tonta pela bebida ainda. Talvez por isso tenha me sentindo tão ousada de repente.

Ele puxou minha cintura me estreitando mais em seus braços. Eu deixei-me levar pela música lenta, me sentindo feliz, feminina, mulher.... No embalo da música nossos corpos se moviam. Era tão gostoso que eu me deixei levar com a cabeça apoiada no ombro dele. Quando a dança acabou, ele me afastou levemente, eu com um sorriso levantei o rosto para me despedir, foi então que senti seus lábios sob os meus.

Lábios macios e quentes, que se moviam na minha boca entreaberta pelo susto e atordoamento. Senti na hora meu coração disparar no peito. Um breve momento de magia e que durou pouco, pois logo ele me afastou. Fiquei a olhá-lo sem saber o que dizer, o coração agitado no peito. Tudo era muito novo para mim.

Seu rosto sério me encarou. Seus olhos procuraram os meus. Com certeza ele viu a minha confusão espelhada neles. Ele então, pegou minha mão e me levou para trás do salão, onde abriu uma porta, que só quem conhecia bem o ambiente, diria que se tratava de uma. Entramos em uma sala.

A claridade forte da sala, que parecia ser um escritório, me fez cair na minha dura realidade. Todo o encantamento do último momento havia sido quebrado.

— Desculpe-me, mas preciso voltar. Vim com minha mãe, e ela deve estar me procurando.

Ele deu um passo na minha direção.

— Qual é seu nome?

Dando um passo para trás, eu o encarei bem séria.

— Olha, isso não importa. Eu não deveria estar aqui. Adeus...

Tão logo eu saí de lá, fui alcançada por minha mãe, que me pegou pelo braço.

Salma disse alto por causa da música.

— Nádia, onde você estava? Estava te procurando como uma louca? —Sua voz saiu áspera.

— Estava circulando pelo salão.

—Layla também estava te procurando.

— Mamãe, tenho 20 anos e a senhora me trata como se tivesse quinze.

—Nádia, por favor. Nem vou entrar no mérito da questão.

Batidas na porta, interromperam meus pensamentos.

— Entre.

A porta de meu quarto se abriu e meu pai me procurou com os olhos. Ele sorriu quando me viu perto da janela.

—Preciso falar com você. É a respeito dessa noite.

Eu sorri de leve para ele.

Como filha única, a expectativa de meus pais era muito grande em mim. E eu nunca consegui me rebelar com suas imposições, ou qualquer coisa que eles colocavam como obstáculos.

Mas agora, tudo eu estava assustada com o rumo que as coisas estavam tomando. Pela primeira vez a rebelião se agitava, querendo manifestar minha vontade acima da vontade deles.

—Eu também, papai. Quero muito falar com o senhor.

Meu pai se sentou na minha cama e deu uma batidinha de leve nela para eu me sentar.

Eu em resposta, “como sempre", obedeci.

— Filha, como sabe, esse momento foi muito almejado por mim e sua mãe. Nós não duraremos para sempre, e você está numa idade boa para se casar. O homem que nós escolhemos, não poderia ser mais dotado de predicados. Boa índole e de boa família. No mundo dos negócios, ele é muito bem-sucedido. E acima de tudo, ele é da linhagem de nosso povo.

Eu senti um grande aperto em meu coração.

—Papai. E se eu não amá-lo? E se ele me for repugnante?

Vi meu pai ficar sem ação por um momento, e isso me fez ficar mais insegura.

— Filha, a beleza não está acima das qualidades de um homem.

—Ora essas! E se fosse ao contrário, eu não fosse atraente para ele?

Ele sorriu com humor dizendo:

— Nádia, mas você é... — Depois ficou sério. — E por que essa pergunta agora? Não pense no seu casamento como uma obrigação, mas que você é uma mulher afortunada em ter sido separada para ele. E ele também é um homem de sorte, por ter você como esposa.

Eu baixei a cabeça incerta.

—Papai, eu não me sinto feliz com essa situação como o senhor. O Senhor não pode desistir do acordo?

Meu pai se levantou como se tivesse levado um choque.

—Nádia! Por Allah, de maneira nenhuma! Você nem conheceu o rapaz para dizer uma coisa dessa. Você foi prometida. E como sabe o único que pode desistir de tudo é ele. A palavra de um homem árabe é irrevogável.

—Ah que mundo machista!

Meu pai me olhou perplexo.

—Filha! Não estou te reconhecendo.

Eu me levantei da cama e disse alterada:

—Vocês ditaram minha vida inteira, desde pequena tenho sido obediente, mas isso é assinar minha sentença de morte.

—Por Allah, Nádia, não seja dramática. O profeta Maomé agarrou num bordão e escreveu no solo: «Não existe um entre vós cujo lugar onde tome assento não tenha sido escrito por Deus, quer seja no Inferno, quer no Paraíso». Esse casamento estava escrito. Maktub!

Maktub? Eles ditavam a minha vida e era Maktub?

Eu reprimi a vontade de gritar como uma louca desvairada pelo quarto.

Lutei pela minha liberdade dizendo:

— Eu tenho uma intuição, então que esse casamento não acontecerá, você verá, Maktub! Estava escrito!

Meu pai se levantou nervoso.

— Só se você não colaborar, pois do contrário você tem todos os predicados para que esse casamento se realize.

Allah! Eu sabia disso, eu era a candidata perfeita para esse casamento. Desde pequena fui preparada para ser a esposa perfeita: Aprendi a nossa língua numa escola árabe, culinária, costura, etc. Aprendi de tudo um pouco.

Eu me sentei, limpando uma lágrima que desceu do meu rosto. A expressão do rosto de meu pai suavizou e ele se sentou novamente:

— Você conhece a minha história com sua mãe. Eu, quando me casei, era exatamente igual a você. Não sabia o que me esperava. Se sua mãe daria uma boa esposa, se eu a amaria. E você pode comprovar que meu casamento foi escolhido por Allah, pois não me vejo com outra esposa que não seja sua mãe.

— Eu sei disso, mas...

—Não tem, “mas. ” Quanto mais fácil você aceitar seu destino, melhor para você. —Meu pai se levantou encerrando a conversa. —Se prepare para essa noite. Fique bonita. Sua mãe vai ajudar você a escolher um vestido bem bonito. E lembre-se que queremos o melhor para você.

Quando ele saiu eu joguei meu corpo para trás, caindo de costas no colchão.

Eles armaram minha forca!

Horas mais tarde, por mais incrível que pareça, eu estava lá, sorrindo quando fui apresentada pelo meu pai, à família de meu futuro noivo e ao meu futuro esposo. Logo que entrei reparei nele. Ele era um homem comum. Não era sexy, não era alto, não era forte. Ele usava óculos, barba semicerrada, muito magro e quando me viu, deu um sorriso gentil. Não parecia o tipo de pessoa que me faria sofrer, mas também não parecia o tipo de homem que me faria feliz, onde eu me sentiria realizada. Ele não me atraia nem um pouco.

Allahhhhhhhh! Estava ali, como uma condenada, mas sorrindo como uma cordeirinha, preparada para o sacrifício.

Minha mãe tinha caprichado no jantar, que foi um verdadeiro banquete. Eu com a ajuda de minha mãe, eu tinha caprichado no visual, usando uma maquiagem bem leve e joias. O vestido que escolhi foi com a aprovação dela, claro! Era um todinho preto bem-comportado, ideal para o meu sacrifício.

Depois do jantar, tive oportunidade de conversar com Rashid. Ele parecia ser do tipo tímido. Coloquei um chiclete na boca e avancei para ele sorrindo provocativamente.

Fiz de propósito, na hora pensei: Quem sabe eu o inibiria com minha atitude e desistisse de mim?

—E aí? Pronto para o casório? —Perguntei mascando meu chiclete.

Nessa hora o sorriso do moço morreu.

Oh! Acho que eu o decepcionei…

Pobre rapaz!

Ele sorriu nervoso, meio desnorteado. Sorri de contentamento em vê-lo sem ação.

— Você é sempre assim, tão expansiva?

Cheia de adrenalina correndo minhas veias, resolvi encenar mais:

— É o meu natural. —Sorri docemente. —Adoro dizer o que penso. Mas prometo ser uma boa esposa. Tenho muitos predicados, sei lavar, passar. —Olhei minhas unhas de modo afetado. — Cozinhar não sei muito bem, mas com a prática, aprendo. Ah, e sou muito bem-humorada, seus convidados irão me amar.

Ele não disse nada. Eu continuei a encenação. Olhei minha pulseira de ouro e passei a mão em um colar que eu usava.

— Adoro joias. Fica a dica. — Sorri.

Ele me encarou muito sério e com um gesto gentil de cabeça me disse:

— Com sua licença.

Sorri para ele e o vi se afastar. Com o coração batendo vi ele falar algo para seu pai, que me olhou sério, eu em resposta, sorri para o velhote.

O senhorzinho desviou os olhos de mim e fitou a esposa dizendo algo em seu ouvido e disse para minha família. Com certeza disseram que precisavam ir.

— MAKTUB! Estava escrito!

Meu pai sentiu o baque das palavras do senhor Ibrahim e assentiu, mas vi claramente desapontamento nos olhos dele. Quando eles saíram, ele me fulminou com seus olhos negros. Eu o olhei com uma cara bem inocente, eu parecia um anjo. Desviei meus olhos dele e reparei como mamãe apertava as mãos nervosamente no colo.

Allah! Ela deveria estar sentindo como se tivesse falhado comigo. Isso apertou meu coração.

Allah! Mas era meu futuro em jogo!

— Nádia. O que você fez?

Eu o fitei com cara de paisagem.

—Nada.

Meu pai avançou em mim, como se fosse me bater. Assustada, dei um passo para trás. Mamãe nessa hora gritou:

—Mustafá! Hamed!

Ele se virou para a minha mãe.

—Essa menina é uma ingrata. Como pôde fazer uma coisa desta? Uma família tão boa, um rapaz maravilhoso.

—Não tenho culpa de não ter agradado. —Disse de forma inocente.

Meu pai avançou sobre mim, furioso. Pegou meu braço, seus dedos pareciam aços.

— Pois muito bem. Não pense que se safou dessa. Não pense que você se unirá a esses ocidentais, pois não se unirá. Se tiver que casar um dia, será com alguém da linhagem de nosso povo.

—Tudo bem eu não me caso. Mas eu fico só.

Ele sorriu de maneira diabólica.

—Não, isso está fora de cogitação. Mas vou encontrar alguém para te domar. Ele não será igual esse rapazinho meigo que veio aqui. Duvido que você o assuste.

Eu fiquei a olhar para ele sem resposta. Fitei minha mãe que só chorava do outro lado.

Por que ela chorava?

Decepção comigo?

Se sentindo culpada?

Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii. E eu? Ninguém levava em conta meus sentimentos?

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