Capítulo 02 — Destino Traiçoeiro — Parte 01

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Canal da Mancha, Entre França e Inglaterra, 1810

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Na noite anterior, tudo estava indo bem, não havia sinal de nenhuma embarcação suspeita e o resto da Frota continuava patrulhando o Canal da Mancha, sem qualquer problema aparente. Era bem cedo e Hendrick foi tomar seu desjejum fora de seu camarote, apreciou os ovos com bacon e uma boa xícara de café logo pela manhã. Depois, foi patrulhar ao mar de seu posto, observando bem o que poderia estar acontecendo, mas tudo continuava pacificamente bem. De repente, se ouviu um grito e uma agitação vinda de longe, o que chamou a atenção de Hendrick. Querendo saber o que estava acontecido, Hendrick se encaminhou até onde o barulho estava acontecendo e foi como se uma bomba tivesse caído aos seus pés! Ali, bem diante de si mesmo, estava Ebonnie, sendo segurada por dois de seus oficiais, mostrando resistência, usando roupas masculinas, indumentária de Oficial de patente inferior. Estava com jaqueta azul-marinho e meias brancas, além do colarinho branco, sinal do homem do mar. Seus cabelos estavam cortados na altura dos ombros e mantidos presos com uma fita de cetim. Perecia alguém da tripulação, podendo enganar a todos, se passando por um jovem rapaz.

— Mas o que representa isso!? — Hendrick estava de olhos arregalados. — Ebonnie!!! Como conseguiu entrar aqui dentro!? Desde quando está aqui, por Deus!? Eu estou simplesmente estarrecido, quero saber o que está fazendo nessa embarcação!

— Mande seus oficiais me soltarem! — Ebonnie disse, de nariz empinado, mostrando orgulho. — Que explicarei tudo!

Ao falar, Hendrick deu ordens para que soltassem-na, enquanto Ebonnie arrumava seu vestuário.

— Eu estou aqui desde o primeiro dia em que saiu em missão, não podia deixá-lo sozinho assim, algo me disse que precisava estar ao seu lado! Então, mexi meus pauzinhos e descobri para onde você partiria, uns dias antes e mantive segredo! — Ebonnie disse, com seus olhos de avelã bem abertos. — Assim, consegui pedir auxílio para um de seus oficiais, em troca de uma boa recompensa e que me desse uma vestimenta adequada! Como pode ver, cortei o cabelo também, mas nem me importei! Eu passei despercebida até agora, mas alguém me reconheceu como não sendo da tripulação e esses brutamontes me pegaram como se fosse um cão!

Hendrick estava embasbacado, essa era a palavra que veio em sua mente. Como sua noiva Ebonnie teve coragem de cometer uma loucura daquelas? Agora teria que mandá-la de volta para casa.

— Ebonnie, quem assessorou-lhe nisso? Eu quero saber! — Hendrick estava alarmado. — O que você fez, foi de muita irresponsabilidade, tenho que mandá-la para casa o mais rapidamente possível, você não poderá ficar aqui!

— Eu não pretendo contar! Mas por que não posso ficar do seu lado? — Ebonnie estava quase chorando, ao pensar em se ver afastada de Hendrick. — Eu quero ficar perto de você, não vou atrapalhar!

— Só que você não pode ficar aqui! Onde já se viu uma coisa dessas? — Hendrick se sentiu um palerma com aquilo. — Sua ousadia foi longe demais, tenho que mandá-la embora para casa agora!

— Por favor, não faça isso, Hendrick... — os olhos de Ebonnie estavam se enchendo de lágrimas. — Não tenho como voltar para casa, estamos longe...

— Não quero discussões, Ebonnie, o que você fez foi de total insensatez! Mais tarde conversamos, para você me contar quem colocou-lhe entre meus tripulantes e o que mais andou aprontando! Não pensou em sua reputação? — Hendrick estava furioso. — Prefere ficar com minha mãe Rachel ou prefere ficar com sua mãe Frances? Você precisa voltar imediatamente para Londres e temos que dar uma boa desculpa para seu sumiço!

Assim, antes que Ebonnie pudesse reclamar mais alguma coisa, Hendrick deu ordens para que levassem-na para algum camarote e um dos oficiais ficasse na porta vigiando, para que não fizesse mais nenhuma bobagem.

Hendrick estava furioso com a atitude de Ebonnie realmente. Mas estava preocupado com uma coisa... Se Ebonnie teve acesso ao segredo de estar partindo em missão, quem mais poderia estar sabendo? Era uma possibilidade a que se considerar...

Naquela mesma noite, Hendrick jantou com Ebonnie. Quase não falava, enquanto Ebonnie desfiava um rosário sobre sua aventura em querer ficar naquele navio. Ebonnie sabia que estava encrencada, que aquilo poderia custar seu noivado, mas sabia que tinha que ficar com Hendrick, algo dizia que precisaria de sua pessoa realmente. Conversaram mais alguns assuntos e Hendrick disse-lhe, que enquanto estivessem em alto-mar, teria que continuar usando roupas masculinas, porque não tinham quaisquer roupas decentes para Ebonnie, que estava apenas com bagagem de roupas de Marinheiros.

Sendo assim, depois dessa pequena discussão entre ambos, que Hendrick deu uma última olhada de seu posto o Canal da Mancha, mandou Ebonnie ir dormir e como estava sonolento também, por haver ficado horas acordado, foi dormir também.

Na manhã seguinte, uma névoa cobria o Canal da Mancha, mas logo se dissipou, o que deixou Hendrick mais tranquilo, porque uma bruma como aquelas, poderia fazer com que houvesse um ataque surpresa e não estava preparado para aquilo.

Sua preocupação maior era Ebonnie, não sabia como mandá-la embora agora, com uma emboscada próxima dos navios Franceses, isso ficava inviável, mas também não poderia deixá-la na embarcação. Por que essa menina tinha que fazer isso?

Então, resolveu pensar mais tarde no que faria e chamou seu Capitão Jonathan, que veio rapidamente, com um sorriso de orelha a orelha, encantado em ser útil a Hendrick.

— Então, Jonathan, alguma coisa diferente em alto-mar essa manhã? — Hendrick perguntou, preocupado. — Nada de anormal?

— Não, senhor, nada, está tudo calmo. — Jonathan falou suavemente, mas depois seu semblante mudou e resolveu comentar algo que estava deixando preocupado seus nervos. — Senhor, não sei se sabe, mas estamos próximos da Ilha de Rocher, existem grandes cavernas naturais lá, que poderiam esconder barcos inteiros sem problema nenhum, um ataque iminente poderia vir desse lugar, não acha?

"Mas é claro, como não pensei nisso antes! Rocher era aliada da França, seus barcos seriam usados na Frota de Napoleão também!", pensou Hendrick.

Enquanto ambos conversavam, trocando ideias sobre ataques surpresas e como vencer a Frota de Napoleão, uma pessoa fingia nada escutar, fazendo seu trabalho normalmente...

Essa pessoa era Pierre Legrande, um espião Francês, que fingia ser Inglês, trabalhando no barco de Hendrick, para colher informações e m****r para os inimigos. Todos se comunicam através de pombos-correios, que hora ou outra, pousavam na embarcação.

Assim, esperando um desses pombos-correios aparecer, sem que ninguém percebesse, Pierre colocou uma mensagem, dizendo que os Ingleses estavam próximos de descobrir de onde viria seu ataque e com isso, deixou o pombo-correio ir embora, levando a mensagem. Infelizmente, naquele navio, existiam muitos traidores...

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