Atendi com a voz arrastada, ainda bocejando:
— Alô...?
— Põe um agasalho. Me encontra aqui embaixo. — a voz dele veio firme, baixa.
— Hã? — franzi o cenho, sentando devagar.
— Tô te esperando. Lá fora. — respondeu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
Me levantei num impulso, andando até a janela. A luz da varanda cortava a escuridão da rua. Ele estava ali. Escorado no carro, mãos nos bolsos, duas lanternas no chão.
— Você tá maluco? É madrugada, querido. — resmunguei, ainda sonolenta.
— Trabalhos inacabados me deixam com insônia. — provocou.
— Eu não vou descer. Tá de sacanagem? — rebati, sem força, tentando manter a raiva que não colava mais.
— Se você não vier, eu subo. E se não abrir, eu grito seu nome até acordar a porra toda. — disse, sério.
Suspirei fundo. A ameaça era real.
— Espera. Tô indo. Idiota.
Puxei o primeiro agasalho que encontrei, calcei as pantufas e saí do quarto com passos leves, tentando não acordar ninguém.
O corredor era frio. As escadas pareciam ranger m