Todo ano, Zoe Griffin, uma jovem e bela Wiccana loira de vinte e três anos, se propunha a se desafiar.
Para quem olhava de fora, parecia apenas ousadia, diversão, mas por trás de cada escolha arriscada, de cada sorriso atrevido, havia uma forma desesperada de esconder o seu maior segredo.
Mas nem sempre Zoe havia sido assim.
Ela já fora uma jovem inocente, doce e amorosa, mas infelizmente as circunstancias a fizeram mudar.
Seis anos antes
Aos dezessete anos, Zoe era a imagem da inocência.
Seus olhos brilhavam como se o mundo ainda fosse feito de promessas enquanto corria pelas ruas estreitas da vila, rindo sozinha, com o coração leve e a expectativa de encontrar aqueles que amava.
O vento frio daquela noite de outono bagunçava seus cabelos loiros, enquanto ela acelerava o passo, sentindo a ansiedade vibrar em sua pele.
O restaurante à frente estava iluminado por luzes douradas.
Pelas janelas de vidro Zoe avistou Edson, seu namorado já fazia um ano, sentado à mesa com Penélope, sua melhor amiga desde a escola.
A visão aqueceu seu coração.
— Ed! Pen! — gritou animada, acenando com uma mão enquanto corria até eles.
Edson levantou-se, seu sorriso parecia feito sob medida para derreter qualquer coração.
Zoe o abraçou forte e beijou seus lábios com a pureza de quem acreditava no amor.
E de tão absorta, não percebeu que no instante em que o abraçou, Penélope inclinou-se e, de forma furtiva, tocou os lábios de Edson com os dela.
O gesto foi rápido, acompanhado de um sorriso malicioso.
Edson lambeu os lábios e riu baixinho, cúmplice, mas logo trocou a expressão por um sorriso doce, voltando-se para Zoe.
— Vocês esperaram muito? — ela perguntou, animada.
— Acabei de chegar — respondeu Penélope, dando um gole em seu suco.
— Eu também — completou Edson, com simplicidade.
Eles conversaram sobre coisas banais.
Comeram, riram, cantaram parabéns.
Zoe estava feliz, tão feliz, que seu peito parecia pequeno para tanto sentimento.
Ali, cercada pelos dois que amava e que sempre confiou, acreditava estar vivendo o melhor aniversário de sua vida.
Mais tarde, em casa, sonhava acordada.
Edson prometera que, em breve, oficializaria o namoro diante de seus pais.
Ela ansiava por aquele momento a muito tempo.
Afinal, já estavam juntos há um ano e ela queria poder viver esse amor à luz do dia, sem restrições.
Mas os meses passaram.
Três deles.
E a promessa nunca se cumpriu.
Edson sempre arrumava uma desculpa, sempre inventava algo e Zoe, ingênua e apaixonada, aceitava sem questionar qualquer desculpa que ele desse, seja ela qual fosse, até que no aniversário de dois anos de namoro deles, ela decidiu surpreendê-lo.
Comprou uma lingerie ousada, guardou-a em segredo e naquela noite, escapou de casa silenciosamente.
Seu coração batia forte, misto de nervosismo e excitação.
A casa de Edson estava às escuras, silenciosa.
Zoe respirou fundo e entrou, pé ante pé, como uma intrusa.
Subiu as escadas com o coração acelerado e abriu a porta do quarto.
E o mundo desabou.
Penélope estava ali, na cama de Edson, gritando de prazer.
Edson a penetrava sem piedade, os dois envolvidos em uma dança carnal de gemidos e suor.
O choque foi tão grande que Zoe não conseguiu sequer respirar.
Seu corpo congelou.
O coração martelava nos ouvidos.
Foi nesse instante que recuou e esbarrou em outra mulher, até então invisível.
O copo que a outra mulher segurava caiu e se estilhaçou no chão e o barulho denunciou sua presença, fazendo com que todos os olhos se voltassem para ela.
— Zoe? — Edson ergueu a cabeça, passando a mão pelos cabelos suados.
Ele não parou e continuou se movendo dentro de Penélope, que arqueava as costas e gemia cada vez mais alto.
O sorriso que ele lançou à Zoe foi cruel.
— Olá, minha querida. Quer se juntar à festinha?
Zoe recuou, os olhos marejados, o coração implorando para fugir dali, mas Edson ergueu a mão discretamente e usou sua magia para trancar a porta.
— Onde você pensa que vai, meu amor? — disse, a voz grave e cruel. — Você acabou de chegar.
As lágrimas começaram a descer e Penélope agarrou os lençóis gemendo alto, enquanto a terceira mulher, excitada, se juntava a eles na cama.
O estômago de Zoe se revirou e uma onda de náusea subiu por sua garganta.
— Há… há quanto tempo? — sua voz saiu embargada, quase inaudível.
— O quê? — Edson perguntou sem se importar, os olhos ainda fixos nos corpos ao seu redor.
— Há quanto tempo, vocês vêm me traindo? — insistiu Zoe, a dor rasgando em cada sílaba.
Ele soltou uma risada debochada.
— Desde sempre, eu acho. Você sempre foi bonita, mas ingênua demais. Eu só queria te levar pra cama, e consegui. Depois disso você ficou chata. Melosa. Sem graça.
Cada palavra era uma faca no coração de Zoe.
— Eu já estou cansado de você, Zoe. Cansado de uma garota sem sal. Você não sabe se divertir, não arrisca, não quebra as regras. É um tédio.
Zoe engoliu em seco, as mãos fechadas em punhos.
— Então vou te dar meu último presente, querida — disse Edson, lambendo os lábios com um brilho perigoso no olhar. Lá fora, um trovão cortou o céu, anunciando a tempestade que se aproximava. — Vai ficar aqui e me assistir até eu me cansar. Quem sabe você aprende alguma coisa.
O quarto se encheu de gemidos e risadas perversas.
Zoe, petrificada, não conseguiu mover um músculo.
Cada gemido era um golpe.
Cada sorriso deles, uma facada.
Com as horas indo embora, a magia dentro dela, antes frágil e incontrolada, começou a pulsar.
Sua magia crescia como uma tempestade invisível, alimentada por dor e fúria.
Sem perceber, Zoe liberou energia suficiente para atravessar o quarto no exato momento que Edson e as mulheres caíram exaustos na cama, entrelaçados uns nos outros.
Com o coração apertado Zoe correu, pois assim que eles desmaiaram, a porta finalmente se abriu e lá fora a chuva pesada a recebeu.
Raios iluminavam o céu enquanto ela corria pelas ruas, o coração despedaçado, sentindo as gotas da chuva lhe acertarem com força a cada passo que dava.
Em casa, trancou-se no banheiro e chorou sob a água quente do chuveiro até sentir que não tinha mais lágrimas.
Revivia cada memória, cada promessa, cada mentira em sua mente, e tudo a queimava por dentro.
Quando finalmente se deitou em sua cama o celular vibrou.
Era Edson e ela o ignorou, mas as mensagens vieram em sequência a impossibilitando de ignorar.
“— Sua vadia, filha da mãe. Você me amaldiçoou! Olha o que você fez com a gente!”
Contra a vontade, abriu uma das imagens enviadas e seu corpo gelou.
No lugar de Edson e suas amantes, viu um velho enrugado, uma criança e até um bebê.
Todos deformados, deitados na cama com olhares entre furiosos, confusos e desolados.
Apavorada, desligou o aparelho e o lançou para longe, escondendo-se sob o travesseiro como se pudesse se proteger de si mesma.
Passou dias assim.
Sem comer, sem falar, sem sair.
Só as palavras de Edson ecoavam em sua mente, afiadas como lâminas afiadas.
“Você não sabe se divertir. Não arrisca. É um saco.”
Até que, um dia, levantou-se e se olhou no espelho.
Seus olhos estavam inchados, mas dentro deles havia uma chama diferente.
Já chega.
Não serei mais a garota idiota.
Não serei mais a menina sem graça.
Zoe abriu o guarda-roupa e puxou todas as roupas para fora.
Rasgou, costurou, reinventou.
Cortou o cabelo e aprendeu a se maquiar.
Mudou cada detalhe do quarto, como se enterrasse ali, a sua antiga versão.
Passava noites treinando magia, testando feitiços, aprendendo a controlar o que antes a controlava.
O poder que antes se descontrolava com suas emoções, agora seria sua arma.
Poucos meses depois, quando finalmente saiu do quarto, ninguém reconheceu a doce menina de antes.
Zoe Griffin havia morrido e em seu lugar nascera uma nova mulher, sexy, confiante, perigosa e pronta para nunca mais ser subestimada.