A Herdeira Rebelde
A Herdeira Rebelde
Por: Rod Rodman
Capítulo 1

A ILHA DE FERNANDO DE NORONHA em Pernambuco estava recebendo uma das etapas nacionais do WSL Latin America naquele início de ano e Janete Castilho estava ali para prestigiar o irmão Jonathan. Em meio a uma plateia de pouco mais de algumas dezenas de observadores na areia da praia Cacimba do Padre, ela dividia um binóculo com a amiga Rarissa Vecchio acompanhando de longe — e empolgada — as manobras radicais que o irmão fazia naquele momento nas ondas perfeitas de Noronha. Era um dia maravilhoso na ilha pernambucana. O céu estava limpo, o sol ardia intenso um calor de quase trinta e cinco graus e o mar estava favorável para a prática do surfe.

— O Johnny embocou num tubo sensacional, agora, amiga! — berrou Janete, após dar alguns pulinhos na areia com várias pessoas ao seu redor olhando atentas o cenário azul diante delas.

Havia gritos de incentivo a Jonathan perto de onde elas estavam. O rapaz era um dos favoritos a vencer a etapa do Hang Loose Pro Contest e estava a poucos pontos de bater o primeiro lugar no ranking daquele começo de temporada. Janete passou o binóculo para a moça de pele morena e longos cabelos encaracolados ao seu lado e, a mesma vibrou ao observar o irmão da amiga completando mais uma manobra no mar de forma excepcional.

Janete ainda estava de férias na escola onde começaria em breve o último ano do colegial. Quando Jonathan ligou em seu celular naquela noite, ela estava pintando as unhas do pé com um esmalte bordô e havia chumaços de algodão entre os dedos.

‘Bora viajar comigo pra Noronha?

A voz dele soava animada do outro lado da linha e parecia que ele estava em meio a uma festa. Um som abafado de uma batida musical podia ser ouvido de fundo.

— Como assim “viajar para Noronha”, seu doido? O que vamos fazer em Noronha?

— Para de ser lerda, Jane! — disse ele, em tom de deboche. — É a prova brasileira da WSL Qualifying Serie. Esqueceu que eu vou disputar o título de surfe?

Ela se lembrou na mesma hora que Jonathan não tinha parado de falar daquele evento na última vez em que estivera em São Paulo, onde ela ainda morava com seus pais e a irmã caçula Jéssica. Para o rapaz, vencer aquela etapa em Fernando de Noronha seria a coroação perfeita do seu desempenho crescente nos campeonatos mundiais e o título tiraria o gosto amargo do terceiro lugar que ele havia alcançado no ano anterior.

— Você sabe que eu não recusaria um convite desses por nada no mundo, maninho! — A garota estava bastante excitada. — Quando partimos?

— Vou mandar as passagens aqui do Rio para São Paulo ainda hoje. Já avisa a mãe e o pai que vai viajar comigo, OK?

Jonathan passava grande parte do tempo viajando para competir, mas tinha fixado residência na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, logo que completou a sua maioridade. Lá, por conta das praias e o acesso fácil ao mar — diferente de São Paulo — ele se sentia mais próximo do seu elemento preferido e, os seus pais Renato e Vânia não tinham feito objeções quanto à sua mudança, bancando inclusive um apartamento para o rapaz na cidade. Janete e o irmão eram bastante íntimos desde o início da adolescência e não era incomum que, às vezes, viajassem juntos. Já tinham ido para muitas praias nordestinas em passeios de férias e até passado uma semana sozinhos em Orlando, nos Estados Unidos, se divertindo nos parques da Disney.

Quando Janete comentou com Rarissa, uma das suas melhores amigas do colégio — e também parceira do time de vôlei — sobre a viagem à Fernando de Noronha, a outra vibrou por mensagem de áudio:

— Você não vai acreditar na coincidência, Jane! Meu irmão fechou um pacote irado essa semana pra Noronha. Eu posso conseguir uma passagem com ele sem qualquer problema para ir com você. Sou louca para conhecer Noronha! E assistir um campeonato de surfe vai ser o máximo! Que tal a ideia de irmos juntas?

O irmão de Rarissa, Ralph Vecchio, era dono de uma agência de viagens no bairro da Vila Madalena em São Paulo, o que proporcionava à menina inúmeras facilitações quanto a traslados nacionais. Suas férias eram sempre programadas com antecedência para que os pacotes de viagem que a agência Vecchio Tour disponibilizava coubessem direitinho nos lugares que ela queria conhecer e, quase sempre, as datas batiam. Ela já estava acostumada a passear por vários lugares do Brasil com as amigas de escola e de bairro durante as férias, por isso, tinha sugerido a ida a Noronha à Janete. A moça topou na hora ir em sua companhia.  

Assim que pisou na areia, Jonathan começou a receber vários cumprimentos pela excelente pontuação que alcançara junto ao júri. O seu agente, os seus patrocinadores e até mesmo Suzana, a “ficante” da vez, tinham ido felicitá-lo logo que deixou o mar. Ansioso, ele estava de olho no placar eletrônico que exibia as notas conquistadas por ele e pelos demais surfistas. Viu com empolgação que tinha batido o atleta que estava em primeiro lugar no ranking. Ainda havia mais um competidor para desafiar as ondas da Cacimba do Padre naquela tarde e, de longe, Janete e Rarissa viram o campeão do ano anterior na etapa da WSL em Florianópolis, na Praia da Joaquina, entrar no mar naquele momento. Ele ainda podia bater a pontuação de Jonathan e impedir a sua vitória.

Enquanto aguardavam ansiosas para que o último atleta do dia completasse a sua prova, Janete e Rarissa saíram pela praia e pararam num quiosque onde pediram uma água de coco. Janete estava vestida com um biquíni azul cavado e com uma canga transparente presa à cintura. Os cabelos compridos estavam esvoaçantes ante a brisa que soprava perto do quiosque e os seus olhos castanhos estavam encobertos pelas lentes grandes dos óculos de sol que usava. Quem passava por ela e pela amiga, enquanto elas aguardavam o vendedor abrir os cocos, esticava o pescoço encantado pela plasticidade magnífica das duas meninas. Rarissa tinha a pele bronzeada e usava um fio-dental branco. Foi ela quem reparou primeiro quando uma dupla de rapazes se aproximou das duas ali na barraca.

— Com licença, moça. Janete Castilho?

O primeiro deles era alto, loiro e tinha um corpo que chamava a atenção. Através dos óculos, Janete desceu os olhos para o abdômen definido que ele exibia sem camisa e estendeu a mão para cumprimentá-lo um tanto quanto distraída.

— Sou eu. — Ela estava um pouco sem jeito em ser reconhecida ali no meio de tanta gente. Caracas! Quem é esse gato? Olha esse tanquinho! pensou, quase sem conseguir desviar os olhos para o rosto dele.

O rapaz loiro então apresentou a si próprio e ao garoto que o acompanhava segurando uma câmera de vídeo.

— Eu sou o Henrique Schneider. Esse é o meu editor de vídeos Fred Weber. — O garoto acenou para Janete. Usava um boné camuflado virado com a aba para trás e vestia uma camiseta branca com um logotipo que ela não conhecia: Uma asa-delta vermelha e o nome “Sky” em branco. — Eu sou instrutor de esportes radicais no Rio e eu estou estreando um canal no Youtube sobre o tema. Você é irmã do Jonathan Castilho, não é? Você poderia nos conceder uma entrevista rápida sobre o que está achando do Hang Loose Pro Contest?

De repente, ela ficou tímida só em pensar em aparecer diante de uma câmera falando do campeonato de surfe ou sobre o irmão, mas Rarissa ao seu lado a incentivou:

— Vai, amiga. Qual é o problema?

Henrique tinha um sorriso cativante no rosto e tentou convencê-la:

— São só alguns minutos. Você pode falar da sua torcida pelo Jonathan e o que tem achado do campeonato até o momento. Bem simples.     

Janete pensou por alguns instantes, mas logo estava convencida. Deixando a timidez de lado, aceitou o convite para a entrevista. Se posicionou de costas para o mar como instruiu Fred, o garoto de dezenove anos com a câmera em mãos apontada para ela e tirou os óculos. Fora do enquadramento, de frente para a moça, Henrique repetiu as perguntas programadas e ela tentou responder com naturalidade. Escorada no balcão do quiosque, Rarissa acompanhou tudo sorridente. Enquanto tomava a água de coco por um canudinho, ela não conseguiu desviar o olhar do volume entre as pernas do candidato a youtuber de esportes radicais e se sentiu ligeiramente empolgada. Ele estava vestindo apenas uma sunga preta sobre a pele bronzeada. Mordiscando o canudo, ela se viu tendo vários pensamentos libidinosos a observar o rapaz grandalhão.

Eu ia me acabar com um gostoso desse na cama!

Algum tempo depois, na praia, a expectativa foi compensada e Jonathan Castilho foi mesmo consagrado o grande campeão daquela etapa da WSL Latin America, desbancando o favorito da categoria com uma pontuação recorde. A comemoração no pódio foi emocionante e, como nos campeonatos de Fórmula 1, rolou até banho de champanhe entre os três melhores colocados. Janete e Rarissa ficaram na primeira fileira para comemorar a vitória de Jonathan e, logo que deu, ele foi receber um abraço da irmã lá embaixo após descer do degrau mais alto do pódio.

— Você conseguiu, Johnny! Você é o melhor! O MELHOR!

Ele fez um afago nos cabelos castanhos dela e, em seguida, se afastou a lembrando:

— À noite tem a comemoração no hotel. Não esquece. Quero você lá!    

Janete deixou o irmão com a namorada, os patrocinadores e os seus agentes para curtir a sua vitória. Além das entrevistas com a imprensa, as poses para as fotos com o troféu em mãos e toda a bajulação costumeira ao campeão, o rapaz ainda tinha toda uma agenda de compromissos e protocolos para cumprir.

Com o irmão em boa companhia, Janete resolveu aproveitar o sol daquela tarde para se bronzear ao lado de Rarissa na praia. Elas nunca tinham viajado juntas antes e se divertiram muito na companhia uma da outra, conversando sobre vários assuntos após o banho de mar, incluindo o que queriam do futuro.

Janete já havia conseguido um estágio num dos vários escritórios da construtora onde o seu pai, Renato, era sócio e ali já tinha meta de seguir carreira como gestora de negócios. A faculdade também estava bem engatilhada para o ano seguinte e o pai fazia questão que a filha estivesse formada antes de assumir um cargo em sua empresa.

Rarissa, por sua vez, estava balançada entre tentar uma carreira no esporte, como jogadora de vôlei profissional, ou seguir os passos do irmão no turismo. Ela sabia que a agência que ele tinha em sociedade com o amigo Celso Moraes era bastante lucrativa, além de que proporcionava um universo repleto de viagens e passeios por vários cantos do mundo, o que ela considerava um grande sonho em forma de carreira.

— Tenho esse ano ainda para me decidir. Até lá, eu vejo o que faço da vida. — disse a linda garota de bruços na areia a se queimar um pouco mais. Em breve, a noite começaria a cair sobre a ilha de Fernando de Noronha e as duas tinham compromisso.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo