POV SASHA MENDONÇA:
— Finalmente — digo, me jogando no sofá. Tiro os sapatos e me arrasto até as escadas. — Vocês podem continuar com os seus afazeres — digo para as empregadas, sem olhar para trás. Subo degrau por degrau como se cada um fosse uma maratona. Ao chegar no corredor, viro à esquerda e empurro a porta do meu quarto com o ombro. Entro e fecho a porta com o pé. Jogo os sapatos em um canto qualquer do quarto. Caminho direto até o closet, abro as portas e tiro o vestido, deixando-o cair no chão. Tiro o sutiã logo em seguida, sem me preocupar onde vai parar. Vou até o banheiro anexo. Acendo a luz. O mármore frio sob meus pés me faz estremecer um pouco. Abro a torneira da banheira e giro os botões até acertar a temperatura morna. Pego um frasco de sais de banho e despejo um pouco na água corrente. Um aroma leve de lavanda começa a subir com o vapor. Enquanto a banheira enche, prendo o cabelo em um coque frouxo. Passo a mão no espelho, que já começava a embaçar, e o limpo com a palma. Checo meu rosto brevemente e depois me viro. Desligo a torneira, testando a água com a mão. Está perfeita. Subo com cuidado e me afundo lentamente até a água cobrir meu corpo. Me deixo escorregar, apoiando a nuca na borda da banheira. Fecho os olhos. O vapor me envolve. Minutos se passam até que finalmente saio da banheira e pego a toalha felpuda ao lado. Enrolo-a no corpo, caminho até o closet e escolho uma roupa simples, mas elegante: uma blusa branca justa de mangas longas e uma saia preta até os joelhos. Visto-me rapidamente, calço umas rasteirinhas e prendo o cabelo em um coque bagunçado. Desço as escadas lentamente, indo até a cozinha. As empregadas já estão terminando o preparo do almoço. — Eu ajudo aqui — digo, aproximando-me. Pego uma tábua de cortar e começo a fatiar tomates. Depois, arrumo a salada, organizo os pratos e ajudo a montar a mesa de forma caprichada. — Pode deixar que eu levo — falo, pegando a travessa principal. Coloco tudo na mesa com cuidado e me sento na ponta, ajeitando os talheres em silêncio. Respiro fundo, olho para o relógio e cruzo as pernas sob a cadeira. Ajusto o guardanapo sobre o colo e olho brevemente para os pratos já dispostos. Estendo a mão até o copo e dou um gole pequeno de água. Afasto um fio de cabelo do rosto e olho para frente, sem sinal do monstro. Ouço passos se aproximando. Akon puxa a cadeira à minha frente e senta-se com calma. Seguro o garfo com a mão direita, mas não começo a comer, pois tenho que esperar o meu marido comer primeiro. Desço as escadas apressada, de rasteirinha mesmo. As empregadas me olham de canto, mas ninguém diz nada. Melhor assim. Peço ao motorista que me leve até a casa dos meus pais, e que vá em alta velocidade. Em poucos minutos, já estou na porta da casa deles. Corro como louca pra dentro. A empregada da minha mãe me olha assustada quando me vê passando. — Cadê a minha mãe? — Ela está no salão. Boa tarde pra senhorita também — diz ela, com ironia. Dou um sorriso amarelo, sem paciência. — Boa tarde. — digo, dando meia-volta e peço ao motorista que me leve pro salão onde minha mãe sempre vai. Chegando lá, entro já procurando ela com os olhos. — Sasha? — ouço a voz da recepcionista, surpresa. — Onde está minha mãe? — pergunto, sem rodeios. — Está na cabine três, fazendo as unhas — responde, apontando com o queixo. Nem agradeço. Caminho direto até a tal cabine e abro a porta com tudo. A manicure se assusta, e minha mãe vira o rosto, arregalando os olhos. — Sasha? O que foi? — A gente precisa conversar, mãe. Agora — digo, séria. Ela olha para a manicure, depois pra mim.— Pode nos dar um minutinho? — pede, mantendo a elegância apesar do susto. A manicure sai, visivelmente incomodada. Fecho a porta atrás dela
. — O que houve, Sasha? Tu tá pálida. — Mãe… o monstro disse que vai estar no meu quarto hoje à noite. Ela franze a testa. — E..? — E eu ainda sou virgem, mãe! — sussurro, desesperada. — Se ele descobrir, vai começar a achar que eu não sou realmente a Sasha. Vai desconfiar de tudo! Ela me encara por um instante, finalmente entendendo a gravidade da situação. — Você é a Sasha. E não te ensinei a correr de problema. Tu enfrenta. Com classe. Com controle. E com estratégia. — Estratégia? Como é que eu vou ter estratégia nua? E além disso, eu tenho certeza que ele sabe que a Sasha não era mais virgem! — Merda... — ela pragueja, pela primeira vez perdendo o controle por um segundo. — Aiii... ele vai me matar. — Você pode... Não, na mesma ele iria te matar — ela responde, como se fosse a coisa mais normal do mundo. — Quê?! Por que você tá dizendo isso desse jeito? — Mas tu que disse que ele ia te matar mesmo. — Quando eu digo, é... normal. Mas quando você diz, isso me dá mais medo. Ela fecha os olhos, passando a mãos pelos seus cabelos negros curtos. — Já sei! — diz, me dando alguma esperança. — Às vezes, quando uma mulher fica muito tempo sem fazer sexo, ela sangra. Tu diz pra ele que fazia muito tempo que não transava. Ela sorri com a sua ideia boba me fazendo revirar os olhos com esse plano estúpido. O que tinha na minha cabeça para me envolver logo com uma máfia? Em minha defesa, a minha irmã me ocultou muitas coisas sobre ele. Mas, os anos foram passando que o constrangimento de saber que ele era meu cunhado acabou passando, já que ele nunca se envolveu com a minha irmã e ela nunca mais voltou desde o dia em que fugiu, me dizendo que era só para me passar por ela por duas semanas. Mas as semanas se tornaram meses, anos... E agora estou prestes a ser morta por um mafioso. — Nem tu acredita nisso. A Sasha parecia que tava no cio, toda hora. E todos sabem disso. — digo, desanimada. — Tens ideia melhor? — ...Não — respondo, quase chorando.