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A chegada

“O amor pode nos levar ao inferno ou ao paraíso, mas sempre nos leva a algum lugar”

Paulo Coelho

O lugar é muito bonito e tranquilo. A casa, situada no canto da praia, tem suas paredes externas batidas pelas ondas suaves da baía. A decoração é simples, porém as acomodações são bastante confortáveis e aconchegantes. A continuação da garagem permite acesso ao mar e serve de rampa para pequenas embarcações. Até alguns anos atrás, funcionava como escola e base de mergulho. Na temporada de verão era usada como pousada, uma vez que os quatro ambientes são independentes e completos. O ponto forte mesmo é o sossego. Não há vizinhos embora seja perto dos comércios mais importantes do lugar.

A pequena piscina, no canto do pátio, é perfeita para depois do banho de mar. De um lado, uma decoração com arbustos e plantas ornamentais, do outro, a vista da baía e suas águas calmas e cristalinas.

A região é farta em espécies de peixes e crustáceos disputados pelos melhores restaurantes. Costumava praticar caça submarina perto dali. Garoupas e lagostas são abundantes nos costões. Comida não faltaria.

Comprei algumas garrafas de vinho, tinto e branco. Para não errar, levei um Pinot noir, um Riesling e um Cabernet italiano muito saboroso. Com isto estava garantido um bom acompanhamento para o almoço e o jantar. As duas garrafas de champagne Dom Pérignon Brut seriam para comemorar alguma coisa. Imaginei que pensaríamos em uma desculpa qualquer.

Mesmo tendo garantido que viria, eu estava preocupado com uma possível súbita desistência. Ela já havia comentado de seu relacionamento com um colega de trabalho, mas que passavam por certas dificuldades e, segundo ela, outros ares lhe faria bem. Se eles voltassem a se entender, não creio que o sujeito gostaria que ela viesse para cá.

Fiquei sabendo do cara através de uma brincadeira e um jogo de palavras. Ela tem uma cadelinha muito querida e apegada a ela, a Zira, que em uma de nossas conversas, brinquei ser parte de um triângulo amoroso. Só tive certeza do seu relacionamento quando ela me corrigiu e disse que, se nos relacionássemos, seria um quadrilátero amoroso. Fiquei até um pouco abalado. Sinceramente, não esperava um problema de geometria naquele momento. Passei a chamá-lo de “o quarto elemento".

Na verdade, não sou um cara ciumento, mas também não sou burro. Minha visão de administrador não me abandona nem quando se trata de relacionamentos. Se ela fosse parecida com o que mostrava ser online, valeria lutar para começar uma relação e não apenas uma aventura. Sem querer parecer ser drástico, penso em um concorrente como um adversário que deve ser eliminado sempre que possível. Minha ideia é fazer deste encontro algo inesquecível para ela e desastroso para ele.

***

Combinamos às 13:00 horas e já se passava mais de meia hora do horário marcado. Minutos e mais minutos de intensa agonia. Foi minha última experiência com a relatividade, pois aquela meia hora pareceu meio ano. Ainda bem que não tardou muito mais para que ela chegasse.

Estava realmente linda. Usava um chapéu tipo Havana e óculos escuros. Seu sorriso chamava a atenção pela sinceridade e alegria contagiante. Vestia uma calça jeans, daquele modelo puído e rasgado de fábrica, e uma blusinha leve, decotada e com pequenas estampas coloridas. Aproximou-se de mim tirando os óculos e o chapéu. Só então reparei nos longos cabelos pintados de loiro que, aliás, ficaram perfeitos nela.

Percebi em seu olhar, que enfrentava com valentia uma timidez nunca abandonada. Os olhos castanhos, mesmo que vivazes e brilhantes, sutilmente demonstravam isso. Encontrei uma mulher forte e decidida que correspondeu com um carinho delicioso o meu abraço apertado. Com o beijo no rosto, pude sentir o suave perfume de jasmim que denunciava seu bom gosto e estilo próprio.

Fiz o elogio padrão sobre sua aparência e tentei fixar meu olhar no dela. Confesso ter ficado um pouco embaraçado. Mais pela sua beleza surpreendente do que pela situação em si. Fiquei fascinado. Não imaginava ela tão bonita ao vivo. Só me restou desviar o olhar e apanhar a bagagem no carro.

Apresentei a casa para ela e acomodei-a no melhor quarto de todos. O aposento é espaçoso e fica de frente para o mar. Dali poderia ouvir os sons da baía e observar o céu estrelado e a melhor vista do lugar. 

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