Capítulo 2

Eu encarei John Chase com seu olhar negro e intimidante.

Ele se curvou fazendo uma reverência repleta de cinismo, um sorriso lascivo no canto de seus lábios.

— Meu comandante, não posso passear com o senhor agora, preciso comparecer ao baile. — falei, tentando ser diplomática.

Ele me analisou e balançou a cabeça.

— Eles vão sobreviver sem a sua presença, além do mais é só um passeio de alguns minutos, princesa. 

Ele não estava me dando escolha, embora suas palavras fossem polidas e seus gestos delicados, eu via em seus olhos que ele era um homem que ninguém dizia não, e pelo o que estava vendo, nem mesmo uma princesa.

Eu lhe dei um sorriso amarelo e segui pelo corredor, em direção aos jardins do palácio, meus guardas me acompanharam e comandante Chase se posicionou ao meu lado, caminhando.

Eu mantive minha postura altiva e os olhos fixos no caminho a frente, com minha visão periférica eu o vi me encarando, me analisando exatamente como um predador faria, e acho que era exatamente isso que John Chase era, um predador.

Viramos a esquerda e entramos em um pequeno salão que levava as grandes portas que davam para os jardins do palácio. O ar da noite estava agradável, o céu estava limpo, fui pega de surpresa pela quantidade de estrelas no céu, mas uma em especial estava brilhando intensamente essa noite, a estrela Lina, que eu via desde criança. Na última vez que estive nesses jardins também foi a noite, altas horas da noite, com Cristhofer ao meu lado, e observamos essas mesmas estrelas, com a evocação dessas lembranças eu tive que usar toda minha força para não liberar as lágrimas que tão cruelmente me impediam de derramar.

Estava tudo errado nessa noite.

— Esse jardim não te traz boas lembranças, princesa?

A voz grave do comandante interrompeu os meus pensamentos, estávamos seguindo por um pequeno caminho de pedra com várias macieiras ao redor, o som da noite e dos insetos entre nós.

Sua pergunta me surpreendeu, porque de alguma forma ele compreendeu meu estado de espírito, e isso me deixava bastante desconfortável, eu não queria esse homem percebendo minhas emoções, lendo-as em minha expressão.

— Você parece radiante, meu senhor, nem parece que algumas horas atrás estava em uma arena. — rebati.

Ele me analisou novamente.

— Você sabe o nome deles, princesa? — perguntou ele após uma pausa, eu virei meu rosto em sua direção, seu olhar estava fixo em mim e seu rosto continha seriedade.

Mas eu não havia entendido completamente sua pergunta.

— Deles quem?

— Dos homens que morreram lutando pela sua mão.

Eu parei de caminhar.

Ele havia feito uma pergunta cuja a resposta me faria parecer insensível, exatamente o que meu comentário anterior havia sugerido dele, Chase estava jogando comigo, e havia habilmente virado o jogo contra mim.

Olhei para seus olhos escuros astutos enquanto ele aguardava minha resposta.

— Não deve ser fácil tirar a vida de um homem. — tentei contornar a situação.

Agora estávamos quase no final do caminho de pedra entre as macieiras, poucos metros a frente estava uma fonte e alguns bancos de pedra e mármore.

Estávamos parados um de frente para o outro, ele me encarou daquele modo analítico novamente e retomou os passos, eu fiz o mesmo e quando chegamos na fonte, eu molhei minhas mãos na água, ele olhou para o céu, parado em frente a fonte.

— Na verdade, é fácil. — ele disse depois de uma longa pausa, tão longa que eu acreditei que ele não responderia mais.

Sua resposta evocou a lembrança de sua espada decapitando Cristhofer na arena, meu coração acelerou, minha respiração se intensificou e um sentimento de indignação e raiva foi surgindo em meu coração, como um veneno se espalhando por todo o meu corpo. Eu sentia minhas bochechas queimarem com aquele sentimento tão amargo em mim, sua resposta era fria e cruel, ele matou quem eu amava hoje e nenhuma culpa ou remorso pesava em sua consciência.

Tinha sido fácil para ele. Talvez até prazeroso.

E era com esse homem que eu acabaria por me casar? Ao menos que outro competidor o matasse.

Essa possibilidade despertou em mim algo que jamais imaginei que sentiria por alguém, a esperança que a pessoa morresse, em meu coração eu buscava vingança contra ele, alguma justiça pelo o que ele me tirou. Ele me tirou a chance de ter uma vida feliz e eu o odiava por isso.

Eu me sentei na beirada da fonte e com meu silêncio, ele fez o mesmo.

— Não era a resposta que esperava. — não foi uma pergunta, e sim uma afirmação.

— Suponho que para algumas pessoas, matar seja fácil. — eu esperava que ele percebesse todo o desprezo em minhas palavras.

— Qual deles, princesa? — perguntou de repente.

Eu pisquei, simulando não entender sua pergunta, mas no fundo eu havia entendido. Ele suspirou e voltou a falar, dessa vez mais firme.

— Qual dos bastardos tinha seu coração?

Eu fiquei paralisada com sua pergunta direta. Em poucos minutos de conversa eu havia sido tão transparente para ele ao ponto dele deduzir isso?

— Acho que não entendi sua pergunta, comandante. — eu esperava que ele não insistisse, que aceitasse minha esquiva.

— Você entendeu perfeitamente, princesa, só não quer responder, não que você realmente precise. Eu vi seu olhar hoje na arena, o olhar de uma mulher apaixonada, e quando eu o matei, vi que matei um pouco de você também. 

Eu não conseguia mais estabilizar minha respiração agora, meu peito subia e descia com meu coração martelando rápido demais, novamente o veneno da raiva se espalhando por mim, correndo por todo o meu corpo e me fazendo querer mata-lo.

— O senhor matou uma pessoa hoje. — o acusei.

Sua expressão era impassível.

— Matei um homem que estava tentando me matar. — simplificou.

— O senhor não precisava estar naquela arena.

— Cristhofer também não, ele era um homem livre que escolheu estar lá hoje, não é?!

Eu o encarei chocada, a menção do nome dele em seus lábios me paralisou, ele não era digno de dizer seu nome.

— Recomponha-se, princesa, você tem um baile para comparecer, seus sentimentos estão muito claros. E sim, eu sei o nome dele, de todos que matei, não só naquela arena.

Ele se levantou e estendeu a mão para mim, eu me levantei, mas não segurei em sua mão, todo o meu corpo estava trêmulo. Antes de retomarmos o caminho de volta, ele murmurou:

— No futuro vai gostar de saber que eu não tolero que minha esposa omita coisas.

— Talvez no futuro eu não seja sua esposa, talvez o senhor nem chegue a ter uma. — rebati.

Ele arqueou uma sobrancelha e sorriu.

— Dessa maneira posso até pensar que a princesa está torcendo pela minha morte no último combate. Nesse caso terei que desaponta-la, já fazem anos que meus inimigos desejam o mesmo que a princesa, porém eu me recuso a conceder esse desejo, nem mesmo para uma princesa tão bonita como você.

Com essas palavras ele me conduziu de volta para o caminho.

O homem era diabólico.

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