Capítulo 3

John Chase me levou de volta para o salão que antes havia me impedido de entrar, em meu coração a raiva fervilhava, meu sangue queimava. Pouco antes das portas do Grande salão se abrirem ele me puxou pela cintura possessivamente diante de todos, seu toque em mim, mesmo que sobre o tecido grosso do vestido, mandou uma corrente elétrica por todo o meu corpo. Senti minhas pernas tremerem sobre o vestido e o meu coração acelerou novamente, enquanto caminhávamos por entre o salão com os olhares em nós, eu tentei me desvencilhar dele, mas ele me pressionou mais contra seu corpo. Então de repente, com um sorriso, me soltou, me deixando desconcertada com sua atitude. 

Com uma reverência ele se afastou, não antes de sorri com alguma piada interna. 

Mas que homem odioso! 

Quando ele se foi eu respirei fundo, ainda sentindo o toque dele em minha cintura. Essa distração não me permitiu ver a tempo outro homem se aproximando de mim, quando notei já era tarde demais. 

O homem era Dimitri Sidorov, o outro infeliz que estava competindo pela minha mão. 

Eu sorri educadamente para ele. Dimitri era alto, não tanto quanto Jonh Chase, ele possuía ombros largos e seu cabelo era de um tom de loiro translúcido, sua pele muito pálida, uma característica da sua terra natal, Mihan, onde era quase sempre inverno, seus olhos eram azuis gelados. 

Ele era um homem atraente, sua beleza era ofuscada por suas ações, ele era um nobre de Mihan que soube do torneio pela mão da princesa do reino de Shivia, suas ações nas batalhas foram brutais, e eu não conseguia nem se quer me imaginar se casando com ele e indo embora do meu país para as terras geladas de Mihan. 

Ele fez uma reverência para mim, seus olhos se detiveram em meu seios por um tempo longo demais e constrangedor. 

— É uma honra finalmente poder me apresentar para a princesa, meu nome é Dimitri Sidorov, seu fiel servo.  

Suas palavras gentis não condiziam com o que eu podia ver em seus olhos, e além do mais,  aquela percepção das pessoas que me acompanhava desde sempre estava me alertando novamente, porque mesmo se eu estivesse vendada, aquela energia que ele emanava... Era como uma névoa, como se ele inteiro estivesse envolto em uma névoa tentando mascarar seus reais sentimentos, e eu sentia uma hostilidade emanando dele. 

Isso me deixava doente. E era por essa razão que por muitos anos eu preferia ficar em meus aposentos, todas as vezes que eu encontrava soldados que tiveram alguma participação em guerras eu era atingida por suas energias obscuras e nunca pude revelar isso a ninguém, princesa ou não, eu poderia ser acusada de bruxaria. E em Shivia as bruxas queimavam na fogueira. 

— É um prazer conhece-lo, senhor Sidorov. — falei e antes que eu pudesse escapar, ele me segurou me puxando para ele de repente. 

Eu tentei protestar, mas antes que pudesse alertar os guardas ele sussurrou palavras em meu ouvido, e de repente, eu congelei. 

Uma onda de energia começou a percorrer todo o meu corpo assim que seus dedos tocaram minha nuca, eu senti ele me espetar com a ponta afiada de sua unha, e então o comando dele reverberou dentro de mim:

“Fique quietinha e ouça” 

Sua voz... dentro da minha cabeça... 

“Caminhe para seus aposentos daqui alguns minutos. Diga que está passando mal, caso alguém questione sua saída. Chegando em seus aposentos, terão dois guardas na porta, chame-os para entrar, os mantendo-o de costas para a porta, depois disso siga-me sem uma palavra e me obedeça.”

Enquanto ele dizia essas coisas na minha mente, ele me conduzia durante uma dança, de modo completamente natural. Dimitri dançou duas vezes comigo e eu não tive nenhum controle sobre minha vontade, toda vez que eu pensava em gritar e pedir socorro, uma dor de cabeça forte me atingia me fazendo querer me contorcer no chão. 

— Pare de tentar resistir aos meus comandos, vai tornar tudo mais doloroso para você. — Sussurrou em minha orelha. 

Ele me soltou e se afastou fazendo uma breve mesura. Eu fiquei completamente paralisada vendo-o se afastar, eu tentava gritar, correr ou ter qualquer reação adequada para o que acabara de acontecer, mas para o meu horror, meu corpo não me obedecia. Era como se dentro de mim houvesse uma outra vontade e ela comandava meus passos.

Eu andei pelo salão e cumprimentei pessoas, bebi vinho e depois de um tempo, me despedi de todos. Caminhei com meus guardas para meus aposentos, e uma vez lá dentro, imaginei que conseguiria agir normalmente, mas não consegui, ainda estava sobre o comando invisível dele. 

Eu assisti impotente enquanto eu mesma chamava meus guardas, atraindo sua atenção para o quarto, apontando para um rato inexistente embaixo da minha cama. Quando eles entraram preocupados, ficaram de costas para a porta, assisti horrorizada uma figura os surpreender por trás. 

O homem os apagou rapidamente sem qualquer som, então me encarou. 

— Escreva uma carta agora. 

Então ele me ordenou cada palavra da carta. Nela eu dizia com minha própria letra que estava apaixonada por Sidorov, que estava fugindo com ele para me casar porque não podia suportar a incerteza do torneio e a possibilidade dele morrer.

— Agora vamos.  

Meu corpo o obedeceu imediatamente, e eu o segui para fora do quarto se esgueirando silenciosamente pelos corredores. Até que paramos em frente a um quadro com o rosto do antigo rei Carlos l, meu pai em sua juventude, Dimitri se aproximou do quadro e passou os dedos por ele, então o empurrou para o lado, revelando uma porta pequena. Ele enfiou uma chave na fechadura antiga e girou, com um barulho, abriu revelando uma escada que descia até uma completa escuridão. 

Ele pegou uma tocha na parede e me segurou pelo braço, então mergulhamos na escuridão a dentro.

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