Eu empurrei os dois guerreiros para o lado com todas as minhas forças.
— Saiam do meu caminho! — O desespero me deu uma força que eu nunca soubera que tinha.
Peguei Gale nos braços e corri em direção ao portão principal como uma mulher louca.
Ele parecia mais leve em meus braços, sua respiração ficando cada vez mais fraca.
Uma trilha horrível de sangue marcava meu caminho no chão.
— Aguenta firme, filho. A mamãe está te levando para o médico.
Cheguei no estacionamento, tentando abrir a porta do carro.
Enfiei a chave na ignição e girei.
Nada.
— Não, não, não... — Girei a chave novamente, várias vezes.
O motor apenas fez um som abafado de clique antes de cair em silêncio.
Alguém havia sabotado meu carro.
Uma imagem do rosto triunfante de Sophia piscou na minha mente.
— Aquela v*dia! — Eu xinguei, pegando Gale nos braços e correndo de volta.
Eu precisava de um carro emprestado.
Eu precisava implorar por ajuda.
Mas, quando cheguei na entrada do jardim, vi uma cena que despedaçou meu coração.
Adrian estava ajoelhado diante de Sophia, limpando suavemente uma lágrima do canto do olho dela.
— Está tudo bem, não tenha medo. — Disse ele, com uma voz estava mais suave do que eu já a ouvira. — Aquela mulher louca não vai mais te incomodar.
— Adrian, eu estou implorando. — Caí de joelhos diante dele.
Gale estava inconsciente em meus braços, seu rosto pálido como uma folha. — Salve-o! Ele é seu sangue! Ele te chama de papai há oito anos!
As lágrimas turvaram minha visão, mas eu podia ver claramente que Adrian não olhou sequer uma vez para Gale.
— Já chega, Elena. Seu teatro está patético.
Eu estava segurando meu filho moribundo, soluçando meu coração para fora no chão.
Ele chamou isso de teatro?
— Ele está morrendo! — Minha voz se quebrou. — Ele tem apenas oito anos!
— Um filho da minha linhagem não morre tão facilmente. — Adrian disse, levantando-se e sacudindo a poeira das calças. — Eu sei que você está com inveja de mim e da Sophia, mas você não precisa recorrer a mentiras tão cruéis.
— Senhora, eu a levo. — Uma voz jovem se fez ouvir.
O Beta de Adrian, Tyler, estava de repente ao meu lado.
Sem pedir permissão, ele gentilmente pegou Gale dos meus braços.
— Rápido! Entre no carro!
O carro disparou pela noite.
Eu segurei meu filho com força, sentindo sua vida escorrendo por entre meus dedos.
Seu corpo estava ficando mais frio, sua respiração mais entrecortada.
— Mais rápido, por favor, vá mais rápido!
— Eu já estou na velocidade máxima. — A voz de Tyler estava tensa. — Aguenta firme, estamos quase lá.
Mas, para piorar toda a sorte, sofremos um acidente bem em frente à sala de emergência.
— Luna, eu cuido do acidente! Você leva Gale para o médico! Eu prometi ao Alfa que cuidaria de...
— Médico! Ajuda!
Eu não ouvi o resto do que Tyler disse.
Eu apenas peguei meu filho ensanguentado e corri para dentro.
As portas pesadas se fecharam com força.
A luz vermelha acima da porta se acendeu.
Eu caí sobre uma cadeira fria, minhas mãos cobertas de sangue do meu filho.
Ainda estava quente, como se ele tivesse acabado de falar nos meus braços, momentos atrás.
De repente, a voz de Adrian ecoou na minha mente, através da ligação mental.
Eu respirei fundo e respondi.
— Elena, onde você está? — O tom dele estava apressado, como se ele quisesse me acalmar rapidamente. — Eu sei que você está com raiva. Eu não esperava que minha mãe fizesse isso. Mas confie em mim, isso é apenas uma medida temporária!
— Medida temporária? — Minha voz era um sussurro rouco.
— Para o bem da alcateia, eu preciso me acasalar com a Sophia. Mas eu juro a você, meu coração é só seu. Depois que eu garantir minha posição como Alfa...
O bem da alcateia?
Meu filho estava lutando pela vida, e ele estava falando sobre a alcateia?
— Seu filho está morrendo!
— Já chega! Pare de me ameaçar com isso. Ele tem sangue de lobisomem, sua regeneração é forte o suficiente. Não tem como ele estar em perigo real!
Eu ouvi uma porta se abrir no lado dele.
Adrian, em sua arrogância, nem se deu ao trabalho de fechar a ligação mental.
— Querido, aquela mulher louca te causou mais problemas? — A voz doce de Sophia transbordava veneno.
— Não, meu amor. — A voz de Adrian estava suave.
— Você é tão esperto, enganando ela com aquela marca falsa por tanto tempo. — Sophia riu. — Se eu não tivesse precisado de tempo para limpar minha bagunça na Europa, você não teria ficado preso a brincar de casinha com ela por tanto tempo.
Brincando de casinha.
Lá estava novamente.
— Elena foi apenas uma substituta que encontrei enquanto você estava fora. — A respiração de Adrian ficou pesada, como se ele estivesse perdido nos beijos de Sophia. — Agora que eu consegui o que precisava dela, é hora de me livrar dela.
— E o filhote de lobo? Você não vai se sentir culpado se ele realmente morrer? — A voz de Sophia estava mais próxima agora.
— Culpado por quê? — Adrian zombou. — Ele é só um vira-lata. Não é uma ameaça. Isso tudo é só um jogo que Elena está jogando.
Lágrimas desceram pelo meu rosto enquanto eu cortava a ligação.
Eu não aguentava mais ouvir.
Oito anos.
Minha união de oito anos foi uma mentira elaborada, cuidadosamente planejada.
Tudo o que eu tinha sacrificado por ele não significava nada.
Eu era apenas uma substituta, um brinquedo.
E meu filho, o menino que me perguntava todos os dias: "Quando o papai vai voltar para casa?", não passava de um "vira-lata" para ele.
As portas da sala de emergência se abriram.
Um médico retirou a máscara e caminhou até mim, seus olhos cheios de arrependimento.
— Sinto muito. Fizemos tudo o que pudemos. A criança perdeu muito sangue e... não tinha as habilidades regenerativas de um lobisomem...
Um uivo primal de pura agonia rasgou minha garganta.
No segundo seguinte, me joguei sobre o corpo frio e imóvel de Gale.
Por oito longos anos, meu Gale vivera como um errante, nunca aceito pela alcateia de seu pai.
Eu só queria ouvir ele me chamar de "mamãe" mais uma vez.
Mas agora, ele apenas estava ali.
Seu rostinho doce estava sem cor, tão quieto, como se nunca tivesse estado neste mundo.
Impulsionada por uma dor avassaladora e uma fúria incontrolável, o selo antigo que havia reprimido meu poder por oito anos se despedaçou em pó.
Uma poderosa e pura energia Alfa irrompeu de mim, tão imensa que todos os lobisomens no hospital sentiram e caíram de joelhos em terror.
Eu segurei Gale e chorei a noite toda.
Quando o sol se ergueu, liguei, trêmula, para meu pai cuidar dos arranjos de Gale.
Então, voltei para casa, segurando as últimas coisas de Gale.
A medalha quebrada que eu havia tirado do lixo e seu brinquedo de pelúcia favorito.
No momento em que abri a porta, os aromas doces e entrelaçados de Adrian e Sophia me atingiram como um golpe físico.
Eles ousaram...
Na noite em que meu filho morreu, em nossa casa, eles estavam celebrando sua vitória.