Eu estava na porta, os olhos fixos no casaco de Sophia pendurado no corrimão da escada.
Bem onde Gale adorava descer.
Passos ecoaram lá de cima.
Adrian desceu as escadas com graça, seguido por uma Sophia bagunçada.
Quando me viram, os olhos de Adrian se estreitaram ligeiramente.
— Elena, você voltou. — O olhar dele percorreu-me de cima a baixo. — Seu cheiro... está diferente.
Ele me estudou, uma faísca de confusão nos olhos antes de eles se congelarem novamente.
Ele ajeitou as mangas da camisa.
— Deixe pra lá. Não importa. Preciso te contar uma coisa.
Apertando o embrulho nos meus braços, eu o olhei.
— Amanhã à tarde, às duas horas, será a minha cerimônia oficial de acasalamento com Sophia. — Adrian anunciou calmamente. — Os Anciãos da alcateia presidirão.
— Cerimônia de acasalamento? — Minha voz saiu embargada.
— Isso mesmo. — Sophia disse, entrelaçando o braço com o de Adrian, o rosto iluminado de triunfo.
— Vamos ser oficialmente ligados diante do altar da Deusa Lua. Você pode vir, mas...
Os olhos dela caíram no embrulho nos meus braços, com desgosto.
— E o que é isso? Vai trazer essa sujeira para minha casa agora?
Coloquei cuidadosamente o embrulho na mesa de café.
— Gale está morto. — Minha voz estava baixa, mas ressoou pela sala silenciosa.
Adrian parou por um segundo de ajeitar as mangas e continuou.
— Elena, esse seu ato está ficando cada vez mais patético.
— Ato? — Eu não conseguia acreditar. — Meu filho está morto!
— Chega. — Adrian disse, o olhar frio. — Você ainda vai insistir nessa mentira? Como a minha linhagem não teria habilidades regenerativas?!
— Ele está realmente morto! — Eu gritei. — Traumatismo craniano! Ele se esvaiu em sangue!
— Então por que você está aqui? — Sophia zombou. — Se ele estivesse realmente morto, não estaria mais preocupada em enterrá-lo?
Ela tinha razão.
Se um filho morresse de verdade, que mãe voltaria para casa tão rápido?
— Elena. — Adrian balançou a cabeça. — Não posso acreditar na sua teimosia. Você se tornou uma mentirosa patológica.
— Não é mentira! — Eu me lancei para pegar o embrulho, querendo descompactá-lo e mostrar para eles.
Mas Adrian agarrou meu pulso.
— Elena, pare com o teatro. — Sua pegada era de ferro. — Não vou mudar de ideia por causa das suas ameaças.
— Sophia será minha única Luna. — Cada palavra foi uma lâmina em meu coração. — Faça as malas. Saia daqui até amanhã.
— Esta é a nossa casa!
— Não, esta é propriedade da Alcateia Blackwood. — Adrian me corrigiu. — Você foi apenas uma residente temporária.
Sophia sorriu.
— Elena, não seja tão sem classe. Você desfrutou de uma vida que não era sua por oito anos. Deveria ser grata.
— Eu dei tudo por essa família!
— Deu? — Adrian zombou. — O que você deu? Gastou o meu dinheiro, viveu na minha casa e usou o meu status para se exibir.
— Eu reprimi quem eu sou por você!
— Essa foi a sua escolha.
Eu olhei para aquele homem, o homem que eu amava há oito anos.
O olhar dele agora... era como se ele estivesse olhando para uma estranha enlouquecida.
— Eu te disse, Gale está realmente morto. — Tentei mais uma vez.
— Elena. — A voz de Adrian se tornou perigosa. — Se você repetir essa mentira maldosa mais uma vez, não me culpe pelo que acontecerá a seguir.
— Mentira?
— Inventar a morte do seu filho para conseguir simpatia, o que mais você chamaria disso? — Sophia se levantou. — Adrian, não perca mais tempo com essa mulher.
Olhei para o embrulho sobre a mesa, que parecia irradiar uma quietude gelada.
Ninguém acreditava em mim.
Até a morte do meu filho era apenas uma encenação aos olhos deles.
Na nuca, a marca falsa, castigada pelo poder bruto do meu sangue real solto, começou a descascar como pele morta, revelando a pele pura e imaculada por baixo.
— Eu vou embora. — Disse, me esforçando para me levantar. — Mas você vai se arrepender disso.
— Arrepender do quê? — Sophia riu. — Arrepender de me livrar de um incômodo como você?
Caminhei em direção à porta.
— Só espere.
————
Ponto de Vista de Adrian
Na tarde seguinte.
A cerimônia de acasalamento da Alcateia Blackwood foi realizada no antigo altar da Deusa Lua.
A voz do Ancião ecoou, recitando os votos sagrados enquanto cada membro da alcateia assistia ao momento solene.
A estátua da Deusa Lua parecia grave à luz das velas.
— Adrian Blackwood, você aceita livremente Sophia como sua companheira...
A cerimônia estava seguindo sem problemas.
Mas Adrian não conseguia se livrar da sensação de que algo estava errado.
O comportamento de Elena ontem...
Ele havia assumido que ela estava apenas lutando para aceitar seu relacionamento com Sophia e estava agindo para chamar sua atenção.
Mas hoje, ela não aparecera em lugar algum.
Ele tinha planejado esperar até que tudo isso terminasse, até que tivesse o poder completo de um Alfa, para então ir e explicar tudo a Elena.
A marca era falsa, mas o amor que sentia por ela, ele se dizia, nunca tinha sido.
Uma onda de pânico de repente o invadiu.
— Onde está Tyler? — Ele se lembrou de ter dito a Tyler para ir ajudar Elena ontem à noite, mas nunca tinha recebido resposta.
A ligação mental não estava conectando.
Ele enviou uma mensagem de texto para Tyler.
Vá verificar Elena e Gale. Veja o que estão fazendo.
A cerimônia continuou.
— E agora, o casal trocará os votos...
Foi então que Tyler irrompeu nos terrenos cerimoniais.
Ele estava pálido, com a testa coberta de suor.
— Alfa! — Gritou, correndo até Adrian, a voz trêmula. — Algo aconteceu!
Todos pararam e olharam.
— Gale... Gale está realmente morto! — A voz de Tyler foi praticamente um grito. — Acabei de confirmar com o hospital!