— Elena. — A voz de Victoria era como gelo, cada sílaba impregnada da autoridade de sua posição.
A mãe de Adrian, a ex-Luna da Alcateia Blackwood, estava elegantemente posicionada atrás de mim. Ela caminhou em direção à medalha quebrada, seu olhar repleto de desgosto.
— Você não deveria ter trazido esse vira-lata para profanar nossa reunião sagrada. — Com um chute desprezível, ela arremessou a medalha quebrada em direção à lata de lixo no canto do jardim. — Não damos as boas-vindas a coisas de sangue inferior aqui.
— Não! — Gale soltou um grito angustiante.
Ele cambaleou em direção à lata de lixo, suas pequenas mãos vasculhando freneticamente a sujeira. — Aquilo é meu... treinei por três meses para isso... — Sua voz estava embargada por soluços, lágrimas escorrendo pelo rosto.
Eu vi o curativo em seu braço começar a se encharcar com sangue fresco.
Por aquela medalha, ele havia treinado até altas horas da noite, recusando-se a parar, mesmo quando estava machucado.
Depois de cada sessão, ele sempre me perguntava: — Mamãe, o papai vai ficar orgulhoso de mim?
E eu sempre respondia: — Claro, filho. O papai vai ver o quão incrível você é.
— Ele é seu neto! — Gritei para Victoria, minha voz rouca.
— Eu não tenho neto tão vergonhoso. — Victoria zombou. — Um mestiço, digno de levar o nome Blackwood? Não me faça rir.
— Por favor... — Gale chorou, tirando as peças quebradas do lixo. — É minha coisa mais preciosa... por favor, não jogue fora...
Ver meu filho de oito anos ajoelhado no lixo fez meu coração parecer estar sendo arrancado do peito.
O sangue real que eu havia reprimido por oito anos começou a ferver, uma poderosa aura de Alfa emanando de mim, crua e descontrolada.
— Gale, não chore. Venha para a mamãe. — Tentei ir até ele, mas Victoria bloqueou meu caminho.
— Elena, controle seu filhote.
— Pobrezinho. — Sophia fez um comentário doce, se aproximando de mim.
Ainda sonhando acordada. De repente, ela me empurrou com força.
Eu tropecei para trás, minha coluna batendo na borda afiada dos degraus de pedra.
Uma dor ardente percorreu minha espinha.
— Mamãe! — Ao me ver ferida, Gale largou a medalha quebrada e correu em minha direção sem pensar duas vezes. — Mamãe, você está bem?
Ele já estava fraco, depois de Adrian tê-lo empurrado contra o pilar.
Ele corria tão rápido agora que seu rosto pequeno estava vermelho de esforço.
— Eu estou bem, filho, estou bem... — Estendi a mão para ele.
Mas o pé de Gale escorregou.
O tempo pareceu parar.
Eu vi seu corpo pequeno caindo em direção aos degraus de pedra, vi o terror em seus olhos e ouvi meu próprio grito desesperado.
— NÃO.
Um estalo nauseante ecoou quando sua cabeça bateu na borda afiada de um degrau.
O sangue jorrou instantaneamente, tingindo a pedra branca de vermelho.
— Gale! — Eu me desesperei e o puxei para meus braços.
Minhas mãos foram imediatamente cobertas com sangue quente.
— Está tudo bem, filho, a mamãe está aqui... — Mas havia tanto sangue.
O rostinho dele estava ficando pálido como papel.
— Adrian! Chame o médico da alcateia! — Gritei, minha voz embargada por lágrimas.
Adrian apenas ficou parado, observando tudo acontecer com uma expressão distante.
— Pare com o teatro, Elena.
Teatro?
Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo.
— Seu filho está sangrando! — Gritei, histérica.
— Ele é um lobisomem. Ele tem habilidades regenerativas. Ele não vai morrer. — A voz de Adrian era assustadoramente calma. — Você realmente pensou que uma encenação dessas lhe daria algum tipo de simpatia?
Habilidades regenerativas?
Gale nunca havia se transformado, nunca havia despertado seu lobo.
Ele não tinha habilidades regenerativas fortes!
Eu não tinha tempo para explicar.
Tentei pegar Gale e correr, mas dois guerreiros da alcateia bloquearam meu caminho.
— Saiam do meu caminho! Ele precisa de um médico!
— Senhora, por favor, se acalme. — Disse um deles, com o rosto impassível. — Não atrapalhe a cerimônia.
Olhei para trás, para Adrian.
Ele estava ajoelhado na frente de Sophia, ajeitando suavemente uma mecha de cabelo que o vento havia deslocado.
Ele estava completamente ignorando seu filho à beira da morte.
— Mamãe... — A voz de Gale era um sussurro fraco.
Ele lutou para levantar sua pequena mão, ainda segurando os pedaços quebrados de sua medalha.
O sangue escorria entre seus dedos, nítido e aterrador sob a luz da lua.
Ele tentou abrir os olhos, olhando para mim com confusão e dor.
— Mamãe... Eu só queria que o papai... visse que eu era forte...
Com essas palavras, seus olhos se fecharam lentamente, e seu corpinho pequeno se tornou pesado e mole.
O corpinho em meus braços estava ficando mais frio.