Capítulo 2

Alguns dos meus familiares permaneceram no palácio.

Engraçado como pessoas que nunca deram a mínima para você de repente começam a te adorar.

Decidi tomar meu café da manhã no quarto, meus olhos ainda estavam inchados da noite anterior.

- A senhora precisa se alimentar direito, o dia hoje será longo. (Angeline)

- Eu sei, mas é difícil pra mim. Não consigo acreditar no que está acontecendo.

- Anne, eu sei que não é fácil, mas eles amavam o povo, você precisa fazer o mesmo. Não demore, todos estão te esperando no salão principal. (Angeline)

- Ange, não sei se vou conseguir falar.

- A senhora é a rainha agora, precisa ser forte assim como sua mãe era. (Angeline)

Diante das palavras da Angeline me debrucei na mesa e voltei a chorar.

- Nunca serei como ela.

- A senhora será tão boa quanto ela. (Angeline)

Ela estava sendo sincera, ninguém nos conhecia melhor do que a Angeline, ela trabalhava com a gente a aproximadamente cinco anos. E nesses anos se mostrou muito leal a nossa família. E era forte, ela era a irmã mais velha de sete irmaos, do seu trabalho tirava o sustento para sua família, pois seu pai os abandonou ainda quando crianças. Mesmo diante de todos os momentos ruins que passou na vida, de ter que trabalhar cedo, sustentar a casa, ter de servir uma família nobre. Sua confiança em Deus era inabalável ela sempre me dizia dos heróis do passado, e que tinha certeza de um futuro melhor. Queria pensar assim.

- Ange, seja como Deus quiser.

Tomei um banho bem quente, pedi para que uma das criadas fizesse uma trança em mim, vesti um vestido preto e segui até ao salão principal.

Foi preparada uma espécie de cerimônia de coroação. Assim que entrei no salão, todos que estavam sentados se levantam.

O líder religioso mais respeitado do povo estava presente para me passar a coroa já que meus pais não poderíam fazê- lo.

Observei também que haviam câmeras filmando o grande momento, do lado de fora parecia haver uma multidão, pois gritavam meu nome.

Um soldado me deu o braço me conduzindo até o trono.

De pé enfrente ao microfone comecei.

- Povo de Kalgoorlie, os momentos não são os melhores, todos estamos sofrendo a perda do Rei e da Rainha, e eu sei o que vocês tem passado com os danos do terremoto que nos atingiu. Podem ter certeza vamos voltar a ser o que éramos outrora.

Estou ciente que nunca serei tão boa quanto a minha mãe foi, mas dou a minha palavra que darei o meu sangue em favor do Reino, o que suceder ao povo irá suceder a mim.

Depois de dar essas palavras fui aplaudida, me segurei para não chorar. Era muito difícil estar ali, aquele lugar não era meu.

Quando terminei o  pronunciamento me sentei no trono, abaixei a cabeça e o senhor Edgard August líder espiritual colocou em mim a coroa.

Mais uma vez aplausos.

Ao meu lado o general Peter cochicou ao meu ouvido.

- Rainha o povo quer lhe ver.

- Claro.

Consenti com a cabeça.

A mandado do general todos os soldados enfileirados fizeram um corredor até a saída do palácio, a medida em que eu caminhava eles faziam reverências a mim.

Da sacada avistei uma grande multidão e gritavam:

"Salve a Rainha"

Saudava a multidão acenando com um grande sorriso no rosto.  Agora sei o porquê do amor que meus pais tinham por eles, embora a dura situação eles me receberam melhor do que eu podia imaginar. Hoje eles são muito mais do que o meu povo são a minha nova família.

Uma das criadas chefes se achegou a mim e disse.

- Querida Rainha terei o maior prazer em servi- la. Aqui está sua lista de compromissos para esta semana. Hoje a noite teremos um jantar com várias autoridades, se a senhora não estiver bem eu cancelo.

- Não precisa cancelar diga a todos que estarei presente, obrigada.

Ela fez uma reverência e saiu.

Desejei voltar para o meu quarto,  subi as escadas passando pelo quarto dos meus pais, parei ali, observei que tudo ainda estava no mesmo lugar. Os retratos da minha infância junto dos meus pais, a foto da família real,  éramos apenas uma família comum pelo menos era o que pensávamos, mas que se amava muito. Não havia nada que nos tornava melhor do que os outros, apenas um título.

- Senhorita?

Disse Angeline, não tinha percebido sua presença.

- Oi Ange, me desculpa, eu já estou indo me aprontar para o jantar, não se preocupe.

- Não é isso minha rainha, enquanto arrumava o quarto achei essa carta, acredito que seja da sua mãe.

E me entregou.

- Obrigada ange.

Caminhei até o meu quarto com aquela carta nas mãos, será que minha mãe já estava pressentido o iria acontecer?

Entrei no quarto fechei a porta e comecei a ler.

" Querida Anne, que outrora era apenas a nossa menininha, e hoje te vejo muito maior do se imagina.

A futura Rainha de Kalgoorlie, meu amor eu sabia que cedo ou tarde isso iria acontecer, mas não quero que você se abata, conheço muito bem a sua força.

Essa noite pedi a Deus que me desse uma palavra, para que eu lhe pusesse  dar nesse momento e sabe o que Ele me disse.

" ...Sê forte e corajoso e faze a obra; não temas, nem te desanimes, porque o Senhor Deus, meu Deus, há de ser contigo;" Crônicas 28:20

As vezes não entendemos o porque de muitas coisas. Mas nenhuma folha cai sem a permissão de Deus.

E não há nada que Ele conte em nossas mãos que não possamos fazer. Você é capaz.

Minha eterna princesinha nos te amamos.

Mamãe

Coloquei aquela carta junto ao meu peito abraçando como se minha mãe pudesse sentir aquele abraço. Deixei algumas lágrimas escaparem. Mas agora teria de ser forte.

Tomei um banho bem rápido vesti a primeira coisa que vi pela frente, afinal de contas estava atrasada para o jantar. Amélia fez um penteado simples e desci ao salão.

Todos já estavam à mesa como o esperado.

- Boa noite.

Para minha surpresa estava presente o Duque de Murchison.

- Querida Rainha a senhora está tão radiante quanto a sua saudosa mãe. Disse com um sorriso amarelo.

- Obrigada.

Ao seu lado o Andrews com os olhos cravados em mim. Ele parecia de alguma forma querer chamar minha atenção.

O ignorei a noite toda.

- Querida Rainha gostaria de pedir um brinde. Disse novamente o Duque.

- Um brinde à quê? Por acaso tenho eu motivos para brindar? O senhor não vê, a destruição do nosso reino? E quanto a morte dos meus pais?

Ele engoliu seco.

- Me desculpe, majestade.

Do outro lado da mesa percebi que alguém riu, era o Príncipe Philip Wilkinson de Norseman.

Minha mãe sempre me falava dele, que era um ótimo guerreiro, e das batalhas que enfrentou e que nunca perdeu nenhum de seus soldados, também sabia da sua fama com as princesas. A pouco tempo havia terminado o sexto noivado. Ele era o sonho de todas as nobres.

Continua......

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo