Capítulo 4
Ninguém sabia quanto tempo tinha se passado quando Ethan pareceu perceber algo e veio bater na porta do banheiro.

— Cheryl, o que aconteceu? Por que você ainda não saiu?

Eu não respondi, e Ethan, ansioso, empurrou a porta e viu meus olhos inchados.

Passei por ele sem expressão alguma e ouvi, atrás de mim, seu suspiro frustrado:

— Não fique assim, querida... Era só um brinquedo, eu juro que amanhã compro outro. Por favor, não faça essa cara que eu não aguento, está bem?

Não, já não era mais questão de um brinquedo, mas eu não disse nada.

À mesa do jantar, o silêncio era tão estranho que chegava a ser inquietante, espalhando-se como uma névoa densa.

Ethan olhou para mim e depois para nosso filho, que permanecia de cabeça baixa, calado.

Hesitou um instante antes de colocar um pedaço de frango assado no prato de Theo.

Naquele momento, os olhos de Theo se iluminaram de repente, com uma surpresa tão pura que quase me fez chorar.

Para uma criança que nunca foi verdadeiramente amada, um pouco de gentileza já parecia uma dádiva.

O gesto de Ethan pareceu dar a Theo um pouco de coragem.

Ele levantou a cabeça, olhou cautelosamente para Ethan e falou tão baixo que quase não se ouviu:

— Papai, amanhã é o Dia dos Pais. A professora vai fazer um concurso de presentes artesanais para os pais. Temos que levar um presente feito por nós mesmos, e os pais vão votar no que mais gostarem... Você pode ir?

Ethan ficou surpreso.

Não pelo pedido do filho, mas pelo olhar dele.

Lembrou-se de como Theo costumava ser uma criança sorridente e corajosa, mas agora parecia um pequeno animalzinho sempre pronto para ser rejeitado, nervoso e retraído.

Naquele instante, Ethan sentiu-se péssimo.

Reprimiu as emoções e pousou a mão, de leve, no ombro de Theo.

— Pode ficar tranquilo, papai vai.

Theo ficou radiante de felicidade e me puxou para comprar os companheiroriais.

Mas, na hora de pagar, ele orgulhosamente tirou suas próprias moedas.

Eram fruto de um ano inteiro correndo recados para colegas e levando lixo para os vizinhos, e agora gastava tudo sem hesitar.

Naquela noite, ele passou três horas fazendo uma linda casinha de papelão, com uma família de três de mãos dadas dentro dela.

Theo deitou na cama olhando para a casinha, sem querer fechar os olhos por muito tempo.

O presente era simples, mas pelo menos, desta vez, receberia um voto do próprio pai, não?

Com um sorriso doce, adormeceu.

Na tarde seguinte, eu e Theo esperamos cedo na porta da escola.

Theo segurava a casinha orgulhosamente junto ao peito.

Logo, pais de mãos dadas com seus filhos começaram a chegar, um após o outro, mas Ethan não aparecia.

O nervosismo ficou visível no rosto de Theo.

Meu corpo começou a suar frio, e em silêncio, rezei para Ethan não decepcionar Theo de novo.

Mas, durante a meia hora seguinte, liguei dezenas de vezes e Ethan não atendeu nenhuma.

Vendo os dedos de Theo ficarem brancos de tanto apertar a casinha, percebi que não podia mais esperar.

Deixei-o na escola e corri, disparada, para o escritório do Alfa na alcateia.

Era hora do pico, então entrei facilmente com a multidão.

Sem saber o andar exato, procurei andar por andar.

Só quando já estava encharcada de suor, consegui sentir o cheiro dele no último andar.

Mas, antes que eu pudesse relaxar, o que vi me deixou paralisada.

No escritório atrás da parede de vidro, Ethan e Mira celebravam o aniversário de um menino.

O garoto, da idade de Theo, tinha pele clara e olhos cheios de alegria mimada.

Sorria como um pequeno sol despreocupado.

Ethan se abaixou e afagou a cabeça dele, num gesto paternal tão natural.

Não consegui evitar pensar em Theo.

Tinham a mesma idade: um celebrava ao sol, outro esperava ao vento frio.

Senti meu coração se rasgar de tanta dor, e comecei a tremer.

Não podia acreditar no que via.

Fiquei ali, como quem entrou em um mundo errado.

Quando juntei forças para chamar Ethan, uma mão surgiu atrás de mim e tapou minha boca com força.

O guarda me arrastou para fora, tapando minha boca.

No mesmo instante, Mira virou-se e me lançou um sorriso suave.

Sem emitir som, ela articulou: "Mulher barata, você não merece estar aqui."

Lutei para me soltar, tentando usar a conexão mental para chamar Ethan, mas o guarda me deu um tapa tão forte que fiquei tonta.

Minha consciência vacilou, e perdi forças para ativar a conexão mental.

Acabei sendo jogada nos degraus da entrada como um cachorro morto; meu joelho bateu no mármore duro e ardeu.

Mas eu já não sabia o que doía mais: o corpo ou o coração.

Mal sentindo o braço arranhado, tropecei em direção à porta, gritando com toda a força:

— Eu... eu sou a companheira de Ethan! Deixem-me entrar!

Dois guardas me empurraram ao chão novamente, com desprezo na voz:

— Que absurdo é esse? O Alfa nunca reconheceu a existência de uma Luna. Ele só tem uma ex-namorada íntima. Uma mulher tão miserável como você querendo ser Luna? Loucura.

Luna?

Entre lágrimas e riso, repeti o título para mim mesma.

Esse é o símbolo da companheira do Alfa, o posto mais alto de toda a alcateia.

Talvez meu sangue fosse mesmo inferior. Sete anos ao lado de Ethan, um filho depois, e ainda assim eu não era digna de ser Luna.

Sorri em silêncio.

As lágrimas escorriam pelo meu rosto.

Nem lembro como fui embora.

Só sabia que precisava voltar, pois Theo ainda me esperava na escola.

O pai teve coragem de ficar ao lado de outra criança, mas eu não podia faltar.

Quando cheguei ao jardim de infância, ofegante, a cena quase partiu meu coração.

Theo segurava sua grande casinha de papelão, parado em meio à multidão, perdido e sozinho.

Crianças por perto riam e diziam: — Olha, mãe, esse é o filho daquele ômega que não tem lobo! E o sapato dele é ridículo!

Theo, por reflexo, encolheu os dedos dos pés, e então vi que o sapato estava rasgado.

Minha cabeça zuniu, vontade de me dar um tapa ali mesmo.

Corri e abracei meu filho. Embora só eu tivesse voltado, ele aceitou o fato rapidamente.

Seu rosto não mostrava tristeza nem alegria, naquele momento, parecia mais maduro que uma criança de seis anos.

Theo encarou a casinha e, de repente, tirou dali a figura do pai.

Então, sorriu para mim, um sorriso triste:

— Mamãe, assim também pode concorrer.

Sem dizer mais nada, sabíamos que havíamos chegado a um consenso.

No concurso, todos os pais tentaram conquistar votos para seus filhos; Theo não recebeu nenhum.

Depois do concurso, só fiz três coisas.

Primeiro, retirei Theo da escola, cortando todos os laços com a alcateia.

Segundo, protocolei junto ao conselho dos anciãos da alcateia o pedido formal de dissolução do Vínculo de Companheiros, pagando pela urgência.

Terceiro, arrumei as malas naquela mesma noite e embarquei, com Theo, no trem rumo à partida.

Sem despedidas. Sem olhar para trás.
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