À noite, na festa de fim de ano da empresa, cada executivo precisava comparecer com uma acompanhante. Camila chegou ao lado de Vinícius, deslumbrante em um vestido elegante, o braço enlaçado ao dele.

Luna, embora não tivesse recebido convite, apareceu mesmo assim. Precisava entregar a Manuela o contrato de renúncia da guarda.

Faltavam apenas duas horas para o voo. O tempo era curto.

Percorreu o salão com os olhos, procurando por Manuela.

Nesse instante, as luzes do palco se acenderam. Vinícius já estava lá em cima, pronto para discursar.

Ao lado dele, estavam Matteo e Camila.

Entre os funcionários, os sussurros começaram:

— Então é verdade o que circula na internet. Sr. Vinícius é mesmo fiel. A única mulher nos boatos sempre foi ela.

— Mas eu ouvi dizer que ele já era casado...

— Aquilo foi um casamento de fachada. Uma mulher sem classe, sem importância. O verdadeiro amor dele é a Camila.

Luna não prestou atenção nos comentários. Estava focada em encontrar Manuela. Subiu discretamente para o mezanino, esperando ter mais sorte por lá.

Passou pelo corredor das escadas, deu uma volta, mas não achou ninguém. Estava prestes a voltar quando uma voz soou atrás dela:

— Você foi convidada? Porque pelo que eu sei, cada um só podia trazer uma acompanhante. E, pelo visto quem venceu fui eu.

Era Camila.

Diferente da expressão dócil que mostrava perto de Vinícius, agora o rosto dela estava tomado por arrogância e desprezo.

— Entre eu e você, o Vinícius vai me escolher. Sempre.

Luna respondeu, fria:

— Eu não tenho tempo pra esses joguinhos infantis.

Camila sorriu com desdém. E então, sem aviso, empurrou Luna com força.

Pegando Luna de surpresa, o corpo dela se desequilibrou. Pisou no vazio e despencou escada abaixo, rolando degrau por degrau até bater no chão com força. Mesmo caída, a mão continuava agarrada ao contrato.

A dor veio como um raio, atravessando cada nervo do corpo. As feridas antigas se juntaram às novas. Um gemido de dor escapou por entre os dentes.

O barulho da queda foi tão alto que chamou atenção de quase todos na festa.

Quando Vinícius chegou ao local e viu que quem havia caído era Luna, correu até ela sem pensar duas vezes.

Ajoelhou-se ao lado dela, ajudando-a a se levantar com extremo cuidado, o rosto tomado pela urgência:

— O que aconteceu com você? Como ficou assim?

Luna virou o olhar para trás, na direção da verdadeira culpada. Camila não se esquivou. Pelo contrário, encarou Luna com provocação e gritou, dramática:

— Vinícius, meu pé tá doendo muito!

Matteo se juntou ao coro:

— Papai! A Camila se machucou de verdade! Vem ver logo!

Dessa vez, Vinícius não correu. Ficou parado, hesitando, o olhar preso em Luna.

Mas Luna reuniu suas últimas forças, apoiou-se com dificuldade e ficou de pé sozinha:

— Não precisa se preocupar comigo.

Diante da firmeza dela, Vinícius se enrolou nas próprias palavras:

— Eu só vou ver como ela tá. Já volto pra falar com você.

Luna finalmente encontrou Manuela.

Mesmo acostumada com todo tipo de cena no alto escalão da sociedade, Manuela ficou em choque ao ver ela:

— Meu Deus, Luna. O que aconteceu com você? Tá toda suja... isso é sangue na sua roupa?

— Não é nada. — Respondeu Luna, a voz fraca, os dedos tremendo ao estender o contrato. — Tá aqui.

Manuela pegou os papéis, leu, e soltou um suspiro cansado:

— Talvez eu nunca devesse ter feito esse acordo com você. Em vez de te proteger, acabei arrastando você pra dentro do caos. A verdade é que a nossa família te deve muito. Pode sair, Luna. A partir de agora, você não tem mais nenhuma ligação com os Montez.

Luna respondeu com a voz embargada:

— Obrigada.

...

Luna embarcou no avião exausta, o corpo coberto por arranhões e hematomas, mas com o coração leve como nunca.

Estava livre.

Finalmente, o contrato que a mantinha presa tinha deixado de existir. Pela primeira vez em muito tempo, ela era só dela.

Quando o avião cortou o céu da manhã, o sol nascia lentamente pela janela, tingindo as nuvens de dourado.

A partir dali, toda a escuridão havia ficado para trás. E o que a esperava pela frente era luz. Só luz.