As Sabuja Jani são terras selvagens outrora dominadas por forças da natureza e por antigos e poderosos povos. A invasão constante de estrangeiros levou a um período violento e perigoso, onde nobres, estudiosos e mercenários ganaciosos buscavam novas fontes de poder, dizimando assim culturas inteiras. Nessas novas terras, Lochiel, Umnati, Theraquiel e Benialli, são forçados a assumirem as rédeas de seus destinos. Cada um a seu modo, seja buscando uma cura para seus erros, uma busca por justiça, ou lutando pela família e seu legado. Mas enquanto buscam se tornar alguém neste universo, forças além da imaginação se reúnem para reaver o que lhe foi tomado e agora esses jovens se veem no meio de uma guerra pela salvação do mundo que conhecem. Uma visão distorcida de um mal antigo que quer tomar toda a terra, moldá-la, transformar o mundo de agora na sua versão onde a natureza era a governante e os seres primais seus servos. Parece uma ideia bela, se o plano não envolvesse a aniquilação total de toda a vida, no fim de todo ser humano e de todos os outros povos mágicos. Uma pedra mística poderosa cobiçada por malfeitores corrompidos, os coloca em perigo e testa a força de vontade desse jovens guerreiros. Resta saber agora se esses quatro serão a chave para o fim total ou o bastião da esperança para manter esse mundo vivo.
Leer másTheraquiel aproximou-se do balcão sujo, que pingava restos de bebida e outros líquidos de aparência grotesca e pegajosa, correu os olhos ao redor, observando o lugar, que conseguia ser mais feio e fedorento do que disseram.
Nas paredes corria a mesma gordura do balcão e as cabeças decorativas penduradas nelas tinham a aparência putrefata de uma taxidermia mal executada. O lugar estava cheio de homens, meio orcs, gnomos, elfos e diversas outras espécies de criaturas que habitavam ou vieram fazer fortuna no continente. Não foi difícil encaixar-se no meio deles, pois era franzino e pálido, passava despercebido como um fantasma na escuridão. O taverneiro, homem gordo, pele visivelmente gordurosa e brilhante, calvo e com pequeninos e astutos olhinhos de suíno, veio lhe atender, saltitando e prevendo as brilhantes moedinhas de ouro que colocaria no seus bolsos e talvez até uma leve surrupiada, afinal de contas não era sempre que brotava na sua taverna vítimas fáceis como aquele rapazote aparentava ser. O garoto sabia disso e seus sentidos estavam alertas, não somente pelo alto nível de roubo existente naquela taberna, como também para se manter discreto e não atrair olhares e perguntas indesejadas. Estava preparado para qualquer coisa.
_ O que quer, garoto? - disse o gordo taverneiro com uma voz fanhosa, um misto de trapaça e nariz entupido. - Quer um copo de leite? - completou em voz alta num tom de chacota.
Diante disso todos na taberna que observavam a cena dispararam a rir e gargalhar, batendo suas canecas nas mesas. Até mesmo os bardos que tocavam ao fundo pararam por alguns instantes, finalizando abruptamente sua canção com um tabum- dun do tambor. Seria mesmo uma cena engraçada, se os ladrões não aproveitassem o ensejo para se achegarem do garoto, prontos para dar o bote a menor desatenção da vítima.
_ Quero apenas uma informação, seu velho fedido e escroto. - Theraquiel falou secamente com sua voz fria e cortante como a navalha ártica. Até mesmo o taverneiro se surpreendeu, rapidamente percebendo que a sua frente estava um monstro terrível e assassino. - Diga-me agora, onde fica a cidade Ilumien dos comerciantes de safira. - O tom era de comando e o gordo respondeu imediatamente, já desejando que aquele demônio fosse embora rapidamente.
_Siga para leste até o Desfiladeiro do Canto, atravesse a Ponte dos Gnolls. A cidade fica a uma hora de jornada dali, mais ou menos, isso se estiver vivo até lá. No desfiladeiro abundam os Ladroes de Magia e sem falar dos Gnolls na ponte.
Theraquiel pensou nos Ladrões de Magia. Esses seriam um problema e tanto, mas com os gnolls era mais fácil de lidar.
Foi apenas alguns segundos de distração enquanto pensava em sua rota e o garoto sentiu a aproximação de uma mão no seu bolso. Agarrou-a por puro reflexo e olhou nos olhos do seu dono. O ladrão ficou assustado, afinal, diante de tanto barulho e movimento, como aquele garoto tinha conseguido notá-lo? Não teve muito tempo para pensar. Uma garrafa de hidromel voou da prateleira da taberna e foi de encontro ao seu rosto com uma velocidade impressionante. O ladrão caiu com a testa rachada brotando sangue e isso se tornou o fogo no pavio de uma confusão generalizada.
Os bardos aceleraram a música e continuaram tocando como se nada estivesse acontecendo. O taberneiro corria desesperado de um lado pra outro, gritando esbaforido, tentando ao mesmo tempo salvar as suas e roubar algumas moedas de ouro dos mais distraídos e até mesmo dos que caíam ao chão.
- Parem, parem, por favor! - gritava com sua vozinha esganiçada, totalmente sem sucesso. Não ia ser ouvido nem se usasse uma magia sonora.
Cadeiras pesadas de pinheiro voavam pela taberna arremessadas pelos poderosos meio orcs, cavaleiros espancavam algumas criaturas disformes a um canto, bárbaros dos Montes Alvos arremessavam mesas e pessoas como se fossem brinquedos. Canecas, pratos, enfeites de parede, tudo era arma e a quebradeira parecia não ter fim. Theraquiel saiu da taberna tranquilamente, sem ser atingido por uma migalha sequer. Era como se ele não existisse. Do lado de fora o som alegre dos bardos conseguia abafar um pouco a quebradeira e tudo parecia normal, até alguém ser arremessado porta afora. O sino alarme da cidade foi acionado e quando as Sentinelas Do Rei apareceram, Theraquiel já estava longe.
O garoto havia saído calmamente da taberna sem ser notado. Esse era uma espécie de dom que adquiriu depois do pacto. Andava em meio as multidões como um fantasma. Não ligava muito pra isso mesmo, gostava quando não era visto, preferia assim. Se considerava feio demais para se mostrar.
Considerou suas opções. Enfrentar os Ladroes de Magia poderia ser problemático, mas apostava tudo na sua habilidade de passar despercebido. Com os gnolls poderia pensar em algo que envolvesse bastante comida, poderia criar uma ilusão necromântica para enganá-los até que estivesse longe. Eles eram burros demais para diferenciar uma boa comida.
Na entrada da cidade deparou-se com dois jovens de aparência peculiar. Não pode deixar de notar o quanto a garota era bonita, de aparência séria, um tanto mal vestida, mas a sua pele era de um moreno acobreado como o de uma estátua criada pelo mais renomado artista. Preferiu passar ao largo, mesmo com sua habilidade ele notou que os dois olhavam para ele. Um garoto com cabelo de fogo, fogo de verdade e um bastão pendurado nas costas! Os dois aparentavam bastante cansaço. Mas o que era mais peculiar era a criatura grotesca aninhada nos ombros do garoto, uma mistura de lagarto com garras longas. E o pior, a criatura falava!
_ É cada uma, eu me achando esquisito e feio, – pensou Theraquiel – aí eu topo com uma tocha ambulante com um lagarto estranho pendurado no ombro.
Os olhares se cruzaram por um instante, Theraquiel sentiu uma energia estranha vida do outro garoto, algo contido, controlado, algo que talvez o próprio portador nem soubesse que estava ali. Algo dizia que devia ir até eles e conversar, tentar uma aproximação, talvez até ser amigos, mas, sua missão exigia que ele corresse sem pausas. Por isso ele queria o caminho mais curto, mais perigoso, mas sem dúvida o mais curto.
Enquanto os dois garotos e a criaturinha entravam na cidade, com todo o barulho dos sinos de alarme e a movimentação das Sentinelas, Theraquiel apertou o passo rumo ao leste, para o tão mal falado Desfiladeiro do Canto.
Não foi difícil para o grupo e com o auxilio do Olho de Midiri de Umnati encontrarem um ponto de transição entre os mundos para escapar daquele lugar caótico. A druidisa agora conseguia transitar entre formas, as vezes utilizando sua forma humana, outras vezes utilizando a de outros animais, mas sempre voltando para seu corpo permanente de corvo. A derrota de Ellumar, marcara o fim dos ataques das criaturas. Os exércitos reunidos em todas as principais cidades do Reinado, saíram em incursão desbaratando completamente as hordas do caos controladas por Tharseus. Os garotos tiveram pouco tempo para descansar e cada um deles ajudou em alguma frente junto com as tropas, onde fosse mais necessário. Theraquiel ficou muito feliz de reencontrar Alice e os dois estabeleceram um relacionamento corrido e quase a distância. A Bruxa era conselheira direta do magistrado, o que causava inveja em alguns nobres e tinha pouco tempo para distrações. Apos um descanso merecido, o
Os garotos se guiavam por aquelas terras, guiados pela nova Umnati, que voejava por todo o canto. A druidisa estava cheia de planos a medida que sua energia magica voltava ao normal. Ela conseguia usar as habilidades de Midiri normalmente e por isso conseguiam evitar encontros que seriam no mínimo perigosos. Ela ficou muito curiosa ao ver alguém que parecia um humano normal como eles. Com os cabelos longos em coque, o estranho trajava uma túnica surrada amarrada com uma faixa cinza, presa a faixa uma espada longa, fina e levemente curva. ele estava calmamente pescando em um pequeno lago, concentrado em sua tarefa, mas olhou diretamente para o corvo assim que notou sua presença. A druida preferiu seguir seu caminho, ignorando-o, não tinha como saber se ele seria perigoso, mas a aura que o envolvia demonstrava perturbação e inquietude.Ela se guiava por uma grande quantidade de energia magica que vagava por ali. Haviam vár
Tharseus não conseguia conter o seu sorriso enorme e louco. Com os olhos arregalados ele conduzia a sombra sinistra do seu mestre através das trilhas tortuosas de Golgoth. Após muitos anos de estudo descobriu os caminhos secretos que levavam aquela prisão eterna e intransponível. Ele havia sacrificado tudo por aquela causa, acreditando piamente que a salvação do mundo estava nas mãos daquele ser incompreendido que poria fim ao legado humano na terra. A natureza iria reinar suprema e as forças magicas retornariam ao que eram antes, inconstantes, imutáveis e livres. Tudo que precisava agora era conduzir seu mestre até os garotos, ele se alimentaria deles, garantindo a sua saída daquele lugar. Era disso que se tratava a profecia afinal. Os sacrifícios.Chegar até o Lorde foi difícil, mesmo para ele. Golgoth não costumava poupar os vivos. Sombras famintas, criaturas gro
Não foi uma viagem agradável com toda certeza.Umnati sentiu como se toda sua energia espiritual fugisse do seu “corpo” etéreo. Durante a queda, sua alma se separou forçadamente de Theraquiel, deixando o garoto desnorteado também. Achava que como espírito poderia controlar a queda e talvez até ajudar os outros, mas mesmo ela não podia ver nada e o impacto na água foi doloroso, como se ela tivesse caído diretamente ao chão.Felizmente não caíram longe uns dos outros e demoraram um pouco para se recuperar. Lochiel, por ter os sentidos mais aguçados pela forma lupina, era o que mais sofria. Com a ajuda de um Benialli aos frangalhos, ele saiu da água, quase inconsciente, vomitando e completamente desnorteado.Após um bom tempo, sentados em uma área terrosa e lamacenta, encharcados, conseguiram observar um pouco as redondezas.Pelo
O clima ali era denso. O ar pesado não era natural, deixava aquela sensação de que algo ruim ia acontecer, que iam ser emboscados a qualquer momento ou que estavam na iminência de algum ataque violento.O cenário contrastava geograficamente com as montanhas que acabaram de atravessar. Era como se a neve e o frio estivessem presos somente na região montanhosa, ou que algo impedia o sol de atingir aqueles picos. Se não fosse a sensação ruim, poderiam até curtir a vista do riacho cortando calmamente por entre as rochas e a cidade em ruinas ao fundo do vale. Dava para ver os resquícios de uma civilização antiga e poderosa. Construções que um dia foram imponentes agora jaziam dominadas pela natureza implacável, areia e pedras. O sol deixava brilhos preguiçosos iluminarem todo aquele cenário, fazendo sombras dançantes em vários pontos.A
Lochiel ainda ficou hesitante ao deixar Alice trabalhando com o magistrado. Balançou a cabeça tentando deixar as preocupações de lado. Sabia que ela poderia fazer muito por eles mesmo a distância e além disso percebia claramente que ela já estava cansada de tudo aquilo, ali no meio da nobreza e de certo luxo era o seu lugar. Ela com certeza saberia se cuidar.Os cavalos foram preparados para partirem sem demora, o magistrado ofereceu uma caravana, mas os garotos preferiram partir sozinhos. Poderiam se locomover mais rápido utilizando ao máximo dos cavalos.A cordilheira era visível ao longe, com seus picos extensos, pontudos e nevados. Os tuneis eram antigos, uma rota de mineiros, que explorou o máximo possível do interior daquelas montanhas atras de riquezas. São muitas as histórias que contam sobre o lugar, tanto sobre os grupos que ali exploraram, quanto sobre as criatur
Último capítulo