Hellen narrando Depois daquela manhã com Sérgio, não consegui encontrar paz dentro de mim. Cada vez que me lembrava do olhar dele, tão carregado de dor e desespero, um aperto me consumia. Eu sabia que havia mentido quando disse não o amar mais. Era falso. A verdade é que cada parte de mim ainda vibrava por ele. Mas eu precisava manter essa farsa, porque amar Sérgio era viver em uma prisão invisível. E eu não podia colocar meu filho nesse cárcere junto comigo. Naquela noite, liguei para Anya. Precisava desabafar. Do outro lado da linha, sua voz saiu carregada de revolta: — Eu te falei, Hellen! Esse homem está te cercando o tempo todo. É um louco! Juro, amiga… dá vontade de enfiar a mão na cara dele, só pra ver se entende de uma vez por todas que você não é propriedade dele. Fechei os olhos, deixando escapar um suspiro cansado. — Calma, amiga… acho que de agora em diante temos que conversar pessoalmente. No próximo fim de semana você estará de folga do plantão, certo? — Sim,

Narrado por Sérgio Dois dias. Dois malditos dias. Nenhuma resposta. Nenhuma ligação atendida. Ela sempre visualizava, sempre. Mesmo calada, eu sabia que estava lá, do outro lado da tela. Mas agora… nada. Silêncio absoluto. O pressentimento me corroía. Peguei o carro e dirigi de volta até Tyler sem pensar duas vezes. No fundo, eu já sabia: alguma coisa estava errada. Quando cheguei, encontrei Frederick no quintal, ajudando a sua pequena irmã com algumas caixas. Ele ergueu o olhar quando me viu, mas não demonstrou surpresa. — Onde está ela? — perguntei direto, sem rodeios, o sangue fervendo. Ele respirou fundo, como quem já esperava por isso, e respondeu calmo demais para o meu gosto: — Hellen não está mais aqui. Aquelas palavras foram como um soco no estômago. Me aproximei, olhos cravados nos dele, e soltei entre dentes: — Não brinque comigo, garoto. Quero saber onde está a minha mulher. Os olhos dele brilharam de fúria. A postura calma mudou num instante. — Pra

Narrado por Hellen Um certo dia, depois de uma manhã exaustiva, fiquei na biblioteca revisando alguns artigos. Os olhos já ardiam quando uma sombra se projetou sobre a mesa. Levantei o olhar e encontrei Alistair, apoiando-se de leve no encosto da cadeira à minha frente. — Você realmente não descansa, não é? — disse ele, num tom leve, mas com um sorriso que não escondia a admiração. — A medicina não é exatamente indulgente com quem gosta de descanso — respondi, tentando soar natural. Ele puxou a cadeira e se sentou. Não pediu permissão, mas também não parecia invasivo. Havia algo no jeito dele que me fazia baixar a guarda, mesmo contra minha vontade. — Sabe que, daqui a uns cinco meses, começa o processo de seleção para as residências — comentou, cruzando os braços. — E, pelo que tenho visto, você será uma das primeiras da lista. Engoli em seco, surpresa. — Não sei… tem tantos alunos brilhantes. — Hellen… — interrompeu, inclinando-se levemente para frente. — Você sabe q

Narrado por HellenLondres já não me parecia tão estranha quanto nos primeiros dias. A faculdade, o hospital, as ruas chuvosas e movimentadas… tudo isso havia se tornado parte da minha nova vida. Eu me sentia, aos poucos, adaptada e até confortável.Maya Alifa, minha amiga de quarto, tinha sido uma bênção. Uma moça doce, sonhadora, com raízes indianas, que sempre encontrava uma forma de me animar mesmo nos dias mais cansativos. Muitas vezes, passávamos horas estudando juntas, revisando exames e protocolos, e ela me ajudava a organizar minha rotina de estudos e meus compromissos médicos, incluindo os cuidados com o bebê.— Hellen, você já pensou em organizar suas anotações sobre cardiologia fetal para a próxima semana? — perguntou Mila, ajeitando os livros sobre a cama.— Já, mas confesso que estou preocupada em conseguir conciliar tudo — respondi, suspirando. — Entre os exames, os estudos e… o bebê, parece que o dia precisa ter quarenta horas.Maya sorriu, me olhando com aquele jeito

Narrado por Hellen A sala estava cheia do burburinho típico antes da aula começar. Alunos folheando apostilas, vozes cruzadas, o ranger das cadeiras contra o chão. Eu tentava me concentrar nas anotações da semana, mas o celular vibrou sobre a mesa, chamando minha atenção. Deslizei a tela sem pensar. E então vi. Um tabloide britânico exibia em letras garrafais: “Após quase 25 anos, Vance e Thorne rompem a aliança empresarial.” As palavras me atravessaram como uma lâmina invisível. Li cada linha sem piscar, como se precisasse confirmar várias vezes a realidade. Desde que os herdeiros Sérgio Vance e Sylvia Thorne se casaram, duas superempresas se fundiram, consolidando um império. À época, dizia-se que o grupo Vance enfrentava dificuldades e que a união fora um acordo estratégico entre famílias. Sylvia, então com apenas 20 anos, e Sérgio, com 22, deram início a uma parceria empresarial que durou quase 25 anos. Agora, em comunicado oficial, as famílias anunciam a separação defi