Um mestre já nasce mestre. É um direito de nascença.Um vicarius, não. Um vicarius se forma.Entre todas as opções de um mestre, o escolhido para ser o segundo no comando é aquele que se mostra mais forte e mais fiel ao clã. E é por isso que é a posição de maior honra entre os nossos.Eu me tornei um vicarius. E faço qualquer coisa pelo meu clã. —--------------- // ----------------------O cheiro dela é um soco no estômago em plena quarta feira. AB-, sem marcação. Tão doce e apelativo que chega a ser violento.Estou pronto para deixá-la entrar na boate e me apresentar, quando o barulho metálico de tiros corta a música e o burburinho da Nox.Um dos projéteis ricocheteia na porta de aço. Quartzo.Caçadores. Isso é o que eu chamo de receção de impacto na cidade… Eu a seguro quando ela desmaia, o corpo mole caindo contra o meu, e o sangue delicioso dela sendo desperdiçado dessa forma quase me faz rosnar. Levo-a para o escritório e reprimo a vontade de lamber a ferida no braço dela. Pode

— Onde vocês estavam? — Cael pergunta, seco, recostado na cadeira de couro onde, em teoria, eu deveria estar trabalhando.A frieza da sua voz colide contra o meu peito, e só o vislumbre do rosto perfeito dele já faz meu corpo inteiro tremer por dentro. Então, engulo as palavras e só encaro o chão.— Só levei Lexi para tomar um café — Zara se justifica, indiferente.— E não achou conveniente que ela colocasse uma roupa antes?As palavras dele me atravessam, e meu olhar salta para o dele. O jeito como Cael me encara, com os olhos estreitos, faz minha nuca esquentar. É vergonha e excitação ao mesmo tempo.— Ela veste mais do que eu.— Eu gostei. — A voz de Samiel é mais uma sacudida, no meio do meu caos interior. Ele está na quina da mesa, braços cruzados, o corpo imenso ocupando espaço demais no escritório. Seu olhar desce cada centímetro de mim, lento, malicioso, até voltar aos meus olhos.Meu instinto é puxar o vestido de lycra para baixo, mas resisto. Não vou deixar que ele perceba

Passei a madrugada pensando em Brinna. Eu queria poder me explicar, mas como dizer para ela que o meu sangue raro foi um passaporte para um mundo de vampiros — filhos de anjos caídos — sem parecer tão louca quanto a minha mãe? Como dizer que ela não pode mais fazer parte da minha vida porque eu não sei o quão perigosa essa vida pode ser daqui para frente — e eu não quero que ela se machuque no caminho do meu segredo? Não sei onde Cael tem passado as noites, mas o apartamento tem sido abastecido só para mim. Tomo café da manhã já no começo da tarde e desço, encontrando Sami em um jogo de sinuca com Zara. Neste instante, estou vestindo uma blusa de malha preta de Cael — que me serve de vestido — e cueca boxers, que improvisei como shorts. Um pouco íntimo demais para alguém que nem dormiu com o dono das roupas, mas não tive opção.— Oi, sexy! — Zara abre um sorriso enorme.Samiel me encara de cima a baixo, um vinco nascendo no meio das suas sobrancelhas.— Se está tentando chocar com

O motor do carro geme quando piso fundo no acelerador. A estrada está deserta, um fio de asfalto se estende à minha frente, e eu não tenho a menor intenção de respeitar o limite de velocidade. O volante vibra nas minhas mãos, a máquina também parece estar querendo mais, como se tivesse sede da mesma coisa que eu tenho no meu peito. Uma hora e meia é a distância do orfanato onde Alexia nasceu, mas em menos de quarenta minutos, estou estacionando em frente ao portão de ferro enferrujado, em um lugar no meio do nada. Toco a corrente grossa que prende o portão com um cadeado grande. Seria mais fácil se eu conseguisse só convencê-lo a abrir, mas minha voz só funciona com os chimpanzés que Ele criou. Puxo o ar com força e arrebento os elos com um puxão. Foi burrice sair sem me alimentar, a fome me deixa mais fraco e mais irritado.Três andares de um prédio cinza, com janelas estreitas e gradeadas, que lembram mais uma prisão do que um lugar para crianças. Só de olhar para isso eu já sei

Radja está no meu colo. Linda, cheirosa, deliciosa em tudo — é o que os humanos chamariam de impecável.E eu só quero que ela saia. Ela toma do meu punho enquanto esfrega a bunda no meu quadril de uma forma nada discreta. Estamos sozinhos no escritório do Exilium, meu outro bar na cidade. O espaço é grande, e quase parece um pub em si — é aqui que eu e Sami fazemos as reuniões com o clã. A diferença entre esse espaço e as instalações da Nox Trium, é que aqui só os nossos entram. Nada de humanos aqui dentro.— Já chega — puxo o punho da boca dela. Não quero ela bêbada pelo excesso do meu sangue.Ela vira o pescoço para mim, mas eu só a coloco no assento do lado, sem responder.— Por quê? — A mágoa na sua voz é uma agulhada irritante. — É por causa dela, não é? A garota nova. Você mal tocou em mim a semana toda.Eu poderia dizer a verdade. Que o cabelo dela é liso demais, os olhos claros demais. Que a pele dela não tem o cheiro que eu quero sentir. Que o sangue dela não desliza na mi