*Ponto de vista de Scott*Aquela garota estava me comparando com a pior espécie de homem… e, de repente, minha mente viajou para meu próprio passado. Lembrei do meu pai e de como seu temperamento artístico custava caro à minha mãe. Em segundos, me vi adolescente, no conservatório de música, tentando aumentar minha autoestima através das notas e das partituras. Eu era um jovem triste, e agora entendia que havia mais ali do que conseguia explicar na época.Meus pais acreditavam naquele tipo de casamento que “deveria durar até a morte nos separar”, mesmo que a convivência fosse insuportável. Meu pai era horrível com minha mãe e um conquistador nas ruas; ela sabia de suas escapadas e engolia tudo, temendo o julgamento alheio. Um casamento arranjado, cheio de interesses familiares, onde o único verdadeiro elo era o amor que sentiam por mim. Mas amor de filho não preenchia o vazio do dia a dia: gritos, brigas, violência… eu me refugiava na música, nos fones de ouvido, no meu próprio mundo.

*ponto de vista de Kelly*A segunda-feira parecia normal, até que não foi. Eu tinha acabado de terminar a chamada quando a coordenadora entrou na sala, pedindo que eu a acompanhasse. A turma inteira ficou em silêncio, e eu senti aquele frio no estômago que só aparece quando sabemos que algo ruim vem pela frente.Na sala da direção, o choque. O oficial da imigração — aquele mesmo que havia me abordado de forma grosseira e insistente dias atrás — estava lá, de pé, com os braços cruzados e um olhar que deixava claro: aquilo era perseguição.— Recebemos uma denúncia séria — a diretora disse, sem me encarar por muito tempo. — E, para evitar complicações legais, decidimos dispensá-la. Fique apenas até o final desta semana.As palavras ficaram martelando na minha cabeça. Dispensada. Como se eu fosse descartável.O homem sorriu de canto, satisfeito. Ele não precisava dizer nada — a ameaça estava feita.Saí dali com os papéis na mão, sentindo o peso do mundo nos ombros. Restava-me uma semana,

Ponto de vista de ScottQuando cheguei na porta do apartamento de Kelly, meu coração estava prestes a explodir. Cada segundo sem ela parecia arrastar a minha paciência e minha sanidade para um limite que eu não queria atingir. Bati na porta com força, chamando seu nome, e por um instante, nada.— Kelly! — gritei novamente.A porta se abriu lentamente, e a cena que me esperava me atingiu como um soco. Kelly e Mateo estavam próximos demais. Próximos de um jeito que não deveria acontecer. Vi a mão dela tocando o braço dele, o corpo encostado, o ar carregado de uma tensão que queimava. Meu estômago se revirou.A raiva misturava-se à preocupação. Eu queria atravessar a porta e afastar Mateo com a força de um tsunami, mas não podia. Não agora. Hope estava doente, e a prioridade era ela.— Ela... está no hospital! — quase gritei, sem conseguir controlar a urgência na voz. — Não para de chamar por você!Kelly piscou, surpresa e assustada, e naquele instante percebi o quanto ela me confiava, o

*Ponto de vista de Kelly*O dia seguinte seguiu tranquilo, Hope não teve mais febre e após alguns exames foi liberada para ir pra casa, estive no escritório de Scott para rever alguns pontos sobre o homescholling e tudo o que eu ia precisar, quando o dia acabou, passei na cafeteria como de costume e Mateo já estava terminando seu turno, então se sentou comigo para um café.— E então, como foi no trabalho com o popstar? — Ele perguntou curioso.— Ah, sim, foi tudo bem, é complicado. — Respondi.— Eu estou confuso, sabe? — Ele me olhou de um jeito estranho... antes do Scott, eu teria gostado daquele olhar quase predatório, mas agora eu havia ficado desconfortável.— Eu pensei que você estava interessada em mim, sabe, mas aí te vi com ele, e não me diga que não existe nada entre vocês.— Como eu disse, é complicado... muitas coisas envolvidas, sabe, mas você tem razão.— Em qual das duas coisas? Que você gosta de mim, ou que tem algo com ele?— O olhar dele ainda era assustador, parece que

*Ponto de vista de Scott*Ouvi umas batidinhas leves na porta e, quando abri, a vi ali, de camisola rosa fininha. Essa mulher ia acabar me enlouquecendo.— Tudo bem? — perguntei, preocupado, e vi os olhos dela vermelhos de tanto chorar.— Posso ficar aqui? Estou com muito medo, Scott. — Ela falou, e eu reconheci o desespero que já vira antes, quando a encontrei na portaria do prédio.— Claro. Entra. — Abri a porta de vez, e ela entrou, indo direto deitar-se na minha cama. Achei estranho — não era o jeito habitual dela — e então percebi: claro, eu estava sonhando. Mas já que era um sonho, por que não deixar rolar, não é?Deitei ao lado dela. Ela se aconchegou no meu peito; comecei a acariciar suas costas enquanto os dedos dela percorriam meu tórax e desciam até a borda da minha calça. Meu corpo reagiu, e ela, percebendo, levantou um pouco a cabeça para me olhar com um sorriso malicioso.— O que acha de me fazer esquecer de tudo, Scott? — os olhos dela brilhavam, mostrando que ela me qu