Ponto de vista de ScottDizer que precisei me controlar com todas as forças é pouco; não sei explicar o tanto de domínio próprio que precisei ter com a Kelly perfeita naquele vestido curtinho, ainda mais depois que ela sorriu cheia de malícia para mim e não negou que estava fazendo de propósito. Mas deixa estar: hoje tenho um evento beneficente, e decidi convidá-la — ou seja, vai ter volta essa provocação. Por enquanto vou deixar barato; afinal, estamos indo para a escola da Hope e não quero causar mais problemas por lá.Chegamos na escola e nos reunimos com a diretora e o RH. Explicamos a situação da Hope e também a ligação da Hope com a Kelly e seu estado de saúde, que dificultaria a vida acadêmica de Hope. Eles compreenderam que, de fato, a educação em casa era uma opção que pedagogicamente seria melhor para minha filha. Tudo ficou certo.Depois eu e Hope ficamos aguardando enquanto Kelly assinava seus documentos de desligamento. Decidi que íamos na cafeteira como uma família, para

*Ponto de Vista de Scott*Recebi uma mensagem de Kelly um pouco antes de entrar em casa. Acho que ela ouviu o carro chegando."Nos aguarde na sala, desceremos quando estivermos prontas. Não venha no quarto."Ora, quem ela pensava que era... me dando ordens? Eu já estava ficando irado quando chegou outra mensagem:"Por favorzinho, papai."Era a Hope enviando a mensagem. E eu já estava julgando a Kelly. Comecei a refletir e percebi que eu agia mesmo assim com ela: estava sempre armado, pronto para dar uma resposta afiada. Ela me desestabilizava, e perto dela eu me sentia tão “desinteligente”, se é que essa palavra realmente existe.O fato é que Kelly mexia comigo de um jeito novo... nem Lily, nem Mia... era diferente de tudo o que eu já vivi.Tomei meu banho, vesti o smoking que Alex havia providenciado para mim e, depois, desci as escadas para esperar as garotas na sala, conforme haviam pedido.De repente, ouvi uma música tocando no sistema de autofalantes da casa. Uma clara referência

Ponto de Vista de ScottVoltei para a mesa e percebi que o ambiente estava carregado de um clima estranho. Kelly tinha uma expressão de quem podia chorar a qualquer momento, enquanto Hope parecia a professora esperando a resposta certa de uma aluna. Os papéis estavam claramente invertidos, e decidi aliviar o clima com uma piadinha.— Toquei tão mal assim, é? — brinquei.O sorriso de Kelly foi tudo o que eu precisava para salvar o dia. A forma como ela me olhou fez meu coração disparar; foi quase como se tivesse suspirado.— Estávamos apenas conversando coisas de meninas — respondeu, meio que defendendo Hope, o que me agradou. Era bom ver Hope construindo essa conexão novamente com alguém.Antes que pudéssemos continuar, uma garçonete apareceu com uma bandeja e tropeçou, derramando vinho na minha camisa branca. Ela se desculpou várias vezes, visivelmente constrangida, e indicou onde eu poderia me limpar.Enquanto me afastava, notei uma movimentação suspeita na festa e vi o barista que

*ponto de vista de Kelly*A jovem que levou eu e a Hope para o refeitório era muito simpática, na verdade até demais para o meu gosto. Ela falava pelos cotovelos, não parava de explicar sobre o lugar, e a Hope estava gostando da visita guiada como se a moça fosse realmente uma guia de museu explicando as obras de arte. Mas eu... eu estava com a cabeça explodindo. Era muita coisa acontecendo ao mesmo tempo.Eu pensei que a minha vida aqui ia ser mais simples, uma vida normal de professora. Quando saí do Brasil, também estava deixando para trás toda a confusão em que me meti e, acredite, namorar um homem casado era a menor delas.Acontece que o meu pai arrumou uma espécie de estágio para mim logo que fiz dezoito anos. Mesmo fazendo faculdade de pedagogia, ele insistiu que aquela seria uma boa oportunidade de aprendizado — e foi mesmo.Era um programa de aprendiz em um jornal, e eu fui designada para trabalhar com um jornalista com quem ninguém queria trabalhar. No início, eu não entendia

*Ponto de vista de Kelly*Depois de tomar o remédio e o suco, sentei ao lado de Hope, tentando aparentar calma. Ela estava entretida com as atividades, pintando desenhos e montando peças de Lego, mas minha mente não conseguia escapar do turbilhão que havia se tornado a minha vida. A jovem que nos acompanhava parecia não se incomodar com o peso invisível que me envolvia. Após nos guiar até aquela sala, cheia de distrações para Hope, ela finalmente se despediu. Fiquei ali, sozinha, com meus pensamentos e minha crescente inquietação.O vibrar do meu telefone dentro da pequena bolsa que eu carregava me arrancou desse estado. Peguei-o rápido e olhei para a tela. Era minha mãe.— Mãe? — Atendi com um tom preocupado. Minha mãe raramente ligava, ainda mais àquela hora. O relógio marcava quase meia-noite no Brasil, o que tornava a ligação ainda mais estranha.— Você está bem, filha? Eu acordei assustada aqui, liguei a TV e vi sobre uma bomba em Miami. Só quis falar com você e ver se estava bem