CAPÍTULO 0051O carro deslizou pela avenida iluminada, mas minha mente estava a quilômetros dali. O motorista de Ethan conduzia o veículo na maior quietude, e eu agradecia por isso. Não tinha energia para conversas, nem mesmo para a simpatia de praxe, ainda que Otávio fosse extremamente gente boa. O banco traseiro me ninava, e eu me deixava embalar pelo balanço discreto do automóvel, como se cada curva fosse capaz de empurrar ainda mais fundo as lembranças que eu insistia em guardar. Antes de vir para casa, ainda tinha passado no hotel para pegar minhas coisas. Foi estranho descer naquele quarto, olhar o ambiente que tanto me trouxe um sentimento de paz e liberdade momentânea . Só havia aceitado a proposta da minha mãe de voltar para casa , porque no fundo me sentia um pouco culpada por estar escondendo algo tão importante dela e do papai. O motorista esperou pacientemente. E, claro, eu me aproveitei da situação. Se já estava ali para me servir, por que gastar com um táxi? Que meu

CAPÍTULO 0053A porta se fechou atrás de nós, abafando o burburinho que ainda ecoava no salão. Minha mão continuava firme no braço de Katherine, e só percebi a força que usava quando ela se mexeu, tentando se soltar. Afrouxei os dedos de imediato, mas não larguei. Não queria largar. Ela estava pálida, os olhos marejados, e aquilo me deixou em fúria novamente. Não por ela — mas por mim. Pelo fato de alguém ter ousado tocar na minha vida privada, expor algo que era só nosso. Não importava que fosse impróprio, que fosse errado, que fosse fruto da nossa incapacidade de resistir um ao outro. Era nosso. E ninguém tinha o direito de espalhar aquilo. Conduzi Katherine até meu escritório, ignorei um dos funcionários que tentou dizer algo e tranquei a porta atrás de nós. O clique da chave ecoou no silêncio. — Sente-se. — A ordem saiu automática e seca. Ela hesitou, mas obedeceu, afundando-se na poltrona diante da minha mesa. As mãos tremiam no colo. Eu sabia que ela estava à beira de uma cr

CAPÍTULO 0055Os dias passaram como um borrão, cada manhã se transformando em uma contagem regressiva que eu não conseguia parar de ouvir ecoando na minha mente: faltam três dias, dois dias, um dia. E então… o dia havia chegado. Meu casamento com Ethan Lancaster. Era estranho até pensar nessas palavras juntas. Meu casamento e Ethan Lancaster na mesma frase. Se uma vidente tivesse me parado na rua para me contar isso – muito provavelmente eu cairia na risada e lhe diria que ela estava completamente louca. Eu estava no Palacete Santa Teresa, um espaço luxuoso no Rio de Janeiro que Helena, a madrasta de Ethan que havia assumido toda a organização, descreveu como “um sonho italiano transportado para o Brasil”. E realmente parecia isso, era um casarão branco com janelas arqueadas, jardins floridos, fontes de mármore e uma sala reservada só para noivas, com lustres de cristal e espelhos altos que refletiam cada ângulo do meu nervosismo. Uma equipe inteira de maquiagem e cabelereiros ti

CAPÍTULO 0057Algumas horas atrás...Eu nunca fui um homem de acreditar em sorte. Para mim, tudo sempre foi resultado de cálculo, ter o controle de tudo e poder. Essa era a forma que encontrei de sobreviver em um mundo onde um passo em falso podia custar muito caro. Mas, naquela manhã, no Palacete Santa Teresa, enquanto eu me arrumava para o meu casamento, percebi que nem tudo estava sob meu domínio. O espelho refletia meu rosto sério, minha expressão impenetrável como sempre, enquanto eu ajustava a gravata com precisão. O terno sob medida caía impecável por sobre meus ombros largos. Por fora, eu era a imagem perfeita de um homem no controle de tudo. Por dentro, havia um incômodo estranho - algo que eu não sabia nomear, algo que só aparecia quando eu pensava em Katherine. Victor e Vlad estavam no salão comigo, bebendo uísque e rindo como dois idiotas. Eles faziam questão de me provocar. — Sabe, Ethan — Victor começou, erguendo o copo e sorrindo de forma irritantemente confiante - Vo

CAPÍTULO 0059Paris não era apenas a cidade das luzes. Para mim, começava a se tornar a cidade das contradições. A cada dia ao lado de Ethan, eu descobria facetas que me desarmavam. O homem frio, calculista e distante que eu conhecia vinha se mostrando mais solícito, mais atencioso, mais… carinhoso. Sempre do seu jeito, sem romantismos explícitos, mas de maneiras que me faziam sentir especial. E isso me assustava. Porque por mais que meu corpo reagisse a cada gesto dele, meu coração começava a se render, e eu sabia o risco que isso trazia. Ethan havia sido claro desde o início que entre nós, não havia espaço para amor. Apenas química e desejo carnal. Todavia o contrato que nos unia deixava isso explícito — o dia em que um de nós se apaixonasse, seria o fim. A simples lembrança disso fazia meu peito apertar, como se eu estivesse correndo contra o tempo e contra mim mesma. Naquela noite, tudo seria diferente. Ethan havia nos levado a tantos lugares em Paris — piqueniques nos jardins,