Capítulo 10David Bellerose NetoO sol já começava a subir quando entrei no chalé. Ainda sentia o gosto dos lábios dela, o perfume da pele dela grudado em mim. Cada lembrança daquela noite me fazia sorrir sozinho, como um idiota.Era como se o mundo finalmente fizesse sentido.Depois de tanto tempo tentando negar o que eu sentia, depois de tanto medo, tanta confusão... finalmente tínhamos nos encontrado.Eu e Lavínia.Mas bastou eu abrir a porta do quarto pra o chão sumir sob meus pés.Clarisse saiu do banheiro, com o cabelo bagunçado e os olhos vermelhos.Na mão dela, um pequeno bastão branco.Um teste de gravidez.Fiquei alguns segundos sem conseguir respirar.— O que é isso, Clarisse? — minha voz falhou, mesmo eu tentando soar firme.Ela segurava o objeto com tanta força que os dedos dela estavam brancos.— É o que você tá pensando, Neto. — disse, com a voz embargada. — Eu tô grávida, é isso.Senti um frio subir pela espinha. Por um instante, achei que tinha escutado errado.— O qu

Capítulo 12David Bellerose NetoA chuva virou uma forte tempestade de repente, com o som dos trovões misturado ao vento que batia nas janelas.Era o tipo de noite que, se eu pudesse, me esconderia dentro de mim mesmo.Mas não dava. A casa estava cheia, e o destino era um velho debochado, parecia disposto a me torturar mais um pouco.A luz piscou uma, duas vezes, até apagar de vez.— Droga! — Ben resmungou. — E justo quando a parte boa do filme ia começar!— Parte boa? — Lilly riu. — Você dorme em todas as partes!A confusão começou leve. Alexa, prática como sempre, apareceu com uma caixa de velas e lanternas.Rose e Antony, claro, já estavam juntos no sofá, enrolados num cobertor, como se o mundo lá fora não existisse.E então veio Oliver, segurando uma garrafa de vinho e um sorriso arteiro.— Se é pra ficar no escuro, que seja bebendo. — disse, abrindo a garrafa com um estalo.— Apoiado! — Antony respondeu, pegando as taças. — Pelo menos o vinho não precisa de eletricidade.Ficamos

Capítulo 14Lavínia Brown BelleroseO barulho das risadinhas ecoava corredor afora.Quando Lilly e Alexa saíram, fiquei ali parada, com o rosto escondido entre as mãos, desejando que o chão me engolisse, estava envergonhada, e sabia que o caos estava instaurado.— Eu juro que não fiz nada. — murmurei, ainda sem coragem de levantar.Oliver bocejou, coçando a nuca. — Eu sei. Mas tenta explicar isso pra eles.— Eles quem? — perguntei, já sabendo a resposta.Ele deu um meio sorriso cansado. — Todos.Revirei os olhos, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Alexa voltou com uma xícara de café e um olhar daqueles que atravessam a alma.— Bom dia, Bela Adormecida. — disse, cruzando os braços. — Quer contar o que aconteceu ou a gente pode usar a imaginação?— Nada aconteceu. — respondi firme. — A gente só conversou.— Conversou? — Lilly apareceu na porta com uma sobrancelha arqueada. — Com a cabeça no colo dele?— Eu adormeci, e tinha bebido tá? — falei, tentando manter a calma. — Eu esta

Capítulo 16Alguns dias depoisLavínia Brown BelleroseDesde que voltamos do chalé, tenho evitado encontrar com o Neto. Quase não vou mais à casa dos meus pais, e é melhor assim. A turnê logo vai recomeçar, e estarei bem longe daqui quando a “família feliz” receber o herdeiro...É o que eu digo a mim mesma, o que tento acreditar, mas o que sinto dentro de mim é grande demais. E o pior... é doloroso demais.Segundo minha mãe, o Neto decidiu assumir a criança, mas eles não estão juntos. Não que isso faça diferença. Eu não sou forte o suficiente pra vê-lo ser pai, pra vê-lo com ela. Eu sei que minha mãe passou por isso, e fugiu, e talvez seja o mesmo que eu tenha que fazer. Eu me conheço. Eu não conseguiria.Prefiro voltar para os palcos, continuar viajando o mundo e guardar tudo o que sinto lá no fundo, onde ninguém mais pode tocar. Talvez essa seja mesmo a minha sina: seguir sozinha.Eu até pensei em ficar. Em largar a vida pelos palcos e assumir a escola da tia Scarlett, dar aulas, aj

Capítulo 18Lavínia Brown BelleroseO coração disparou antes que minha mente entendesse o motivo.O perfume amadeirado que invadiu o camarim era uma lembrança viva de um amor simples, meu primeiro amor, primeiro namoro.Quando girei lentamente na cadeira, ele estava ali.Ben.O mesmo sorriso torto. O mesmo olhar castanho-dourado, capaz de acender memórias que eu achei já ter apagado.— Achei que você nunca fosse olhar pra mim — ele disse, com um sorriso leve, encostado à porta, segurando um buquê de lírios brancos. — Ainda gosta delas, né?A voz dele soava igual e diferente. Igual porque ainda carregava aquele tom calmo e melodioso.— Você... o buquê do último espetáculo… — comecei, e ele assentiu.— Fui eu. Achei que não fosse descobrir.Dei um meio sorriso, sentindo as pernas bambearem, era bom ser vista, ser lembrada.— Por que não colocou o nome?— Porque eu não queria que o mérito do teu sorriso fosse meu. — Ele deu um passo à frente, os olhos fixos em mim. — Só queria te ver fel