A gente ficou se encarando.Longos segundos que pareciam séculos.Por um instante, juro que pensei em me inclinar, encostar meus lábios nos dela.Mas não fiz.Agora era tudo campo minado. Qualquer passo em falso e eu explodia com ela.Então, quase sem coragem, levantei a mão e toquei o braço dela. Bem de leve, como se ela fosse quebrar.— Você tá gelada — falei, puxando um sorrisinho pra não demonstrar o pânico. — Parece um picolé.— Culpa sua. Me fez ficar do lado de fora de madrugada.— Ah, claro, foi toda minha culpa. A princesa Allie nem teve escolha, foi sequestrada pelas pedrinhas assassinas.Ela riu abafado e empurrou meu ombro.— Idiota.Abri um sorriso maior.— Mas uma idiota fofa. Admite.— Tá sonhando alto demais.Fiz cara de chocada.— Uau. Que brutalidade. Vou anotar no meu diário.E ela gargalhou.De verdade.O som preencheu o quarto, pree

O resto da aula foi um borrão. Eu até fingia prestar atenção no professor de história, mas tudo que me vinha à cabeça era o rosto da Allie quando leu meu bilhete. Não que eu tivesse certeza de como foi, mas imaginei mil vezes. E cada vez meu peito doía num lugar diferente.Quando o sinal finalmente tocou, senti o corpo inteiro relaxar, como se eu tivesse segurado a respiração o tempo todo. Joguei o caderno na mochila sem nem olhar e quase corri pra fora da sala.Mas antes de conseguir me livrar dali, levantei o olhar e dei de cara com ela. Parada na porta, meio sem jeito, os olhos me procurando. Por um segundo, nossos olhares se encontraram, e eu senti o estômago despencar. Foi culpa, foi desejo, foi arrependimento, tudo misturado. Eu devia me

Por um segundo, todo o deboche sumiu. Merda, ela não fazia ideia do que aquilo significava pra mim. Segurei o queixo dela com cuidado, deixando o polegar passar de leve pelo lábio inferior.— Então foi um puta privilégio ser a primeira. — Tentei jogar o deboche pra aliviar, mas meus olhos entregaram. Eu não ia esquecer aquilo nunca. Mesmo que tudo fosse pelos ares depois.Ela riu fraco, empurrou meu ombro, mas voltou logo a se encaixar no meu peito. E ali, com ela grudada em mim, eu soube: fodeu. Eu tava muito mais entregue do que queria admitir.Ficamos em silêncio, trocando carinhos lentos. Passei os dedos pelo cabelo dela, dei beijos leves na testa, só gravando cada detalhe. O cheiro, o peso dela em mim, a re

Passei a aula inteira distraída. Meus pensamentos viajavam de volta pra ela. O toque. O beijo. O riso nervoso. E a ausência dela me rasgava.Quase no fim da aula, o professor apresentou uma nova aluna. Linda. Estonteante. Sentou ao meu lado. Sorriu.Mas eu não via nada além de um par de olhos castanhos que me assombravam.O som do sinal ecoou pelo pátio como uma sirene de alerta. Caminhei para fora, forçando um sorriso ao lado da Stacia, rindo de algo que nem prestei atenção de verdade. Eu precisava manter a encenação. Fingir que tudo estava bem, que Allie não significava nada. Mas, assim que meus olhos a encontraram, o sorriso morreu. Ali estava ela, encostada no muro, parecendo tão pequena e ao mesmo tempo tão forte ao lado daquela loira que eu já odiava. Essa vadia não dá um tempo, só fica cercando. E agora eu já tinha uma informação importante, ela era louca e queria a Allie a qualquer custo.Levantei a mão discretamente, chamando-a. Ela travou. Por um segundo, achei que não viria