POV Liah A dor rasgava meu ventre como lâminas quentes. Cada contração era um terremoto que partia meus ossos por dentro, me deixando cega de agonia. O cheiro de sangue se misturava ao cheiro frio da noite que entrava pelas frestas da janela. “Não… ainda é cedo…” Meu corpo tremia sem controle. Maeve segurava minhas mãos, sua voz rouca entoando cânticos antigos em línguas que eu não conhecia. Lágrimas rolavam pelo meu rosto, caindo na pedra fria sob mim. — Magnus… — gemi baixo, a voz falhando enquanto outra onda de dor me consumia. — Por favor… eu preciso dele… “Ele não virá.” Meu coração gritou essas palavras. Mas parte de mim ainda esperava que a porta se abrisse, que aqueles olhos vermelhos me encontrassem no meio da dor, que suas mãos calejadas segurassem as minhas. Mesmo que fosse para me xingar. Mesmo que fosse para me odiar. Eu só… precisava dele. ------------------------------- POV Magnus Os gritos ecoavam pelos corredores como uivos de um lobo ferido. Cada som

POV MagnusO salão estava tomado pelo cheiro de sangue, incenso e medo. As chamas das tochas tremulavam contra as paredes de pedra negra, lançando sombras grotescas que dançavam como espíritos famintos. Meus soldados ajoelhados em silêncio, as testas encostadas no chão frio, como se estivessem diante de um deus furioso. Os curandeiros tremiam enquanto seguravam suas bacias de água quente e panos tingidos de vermelho. E eu… eu sentia o mundo inteiro desmoronar ao meu redor.Olhei para o menino em meus braços. Rael. Seu nome ecoava em minha mente como um canto sagrado entoado pelos anciões em rituais antigos. Sua pele era quente, pulsante de vida. Seu choro preencheu o salão como trovões anunciando a tempestade após um longo período de seca. Quando seus olhos se abriram pela primeira vez, pequenos, escuros, mas brilhantes como duas luas novas, eu senti meu peito arder. Era como olhar para o sol nascer após anos de uma noite interminável. Ele era cura. Poder. Profecia viva. O meu herdeir

POV Curandeiro Kael A sala do templo estava silenciosa, exceto pelo som das velas estalando contra o frio. Os anciões estavam reunidos ao meu redor, rostos cobertos por capuzes negros. Todos olhavam para o pergaminho aberto em minha frente, a profecia antiga desenhada em tinta escura. “Quando o filho do Lobo de Sangue nascer, o mundo tremerá. Mas se a lua negra surgir após o sol, haverá dois, não um. O primeiro curará o mundo. O segundo queimará o mundo até as cinzas.” — Não podemos permitir que essa menina cresça — disse o ancião Morhan, sua voz rouca ecoando nas pedras. — O Alfa jamais concordará em sacrificá-la, mas é isso ou o fim de todos nós. — Kael — outro sussurrou —, você é o curandeiro real. Ninguém desconfiaria se ela morresse de forma… natural. Minhas mãos tremiam. Matar um bebê? Mesmo com medo do que ela poderia se tornar, meu estômago se revirava só de pensar. — Amanhã, no ritual de purificação — decidi, em voz baixa. — Prepararei uma infusão de beladona

POV Magnus O trovão rasgou o céu cinzento enquanto eu observava o campo de treinamento, meus soldados alinhados sob a chuva fria. Raegar estava ao meu lado, silencioso, como sempre. No centro do pátio, Rael, meu filho, agora com quase um ano, estava de pé. Seus cabelos negros colavam-se à testa molhada, os olhos tão escuros quanto os de Liah. Mas havia algo nele… algo que queimava. Quando um dos soldados se aproximou para pegá-lo no colo, o menino apenas encostou a pequena mão em sua perna. Em segundos, o guerreiro caiu de joelhos, o peito arfando, feridas antigas fechando-se sob a armadura. Os outros soldados ofegaram. Alguns fizeram o sinal de proteção dos Deuses. Eu apenas sorri. “Ele será minha arma mais poderosa.” Mas então, atrás de mim, ouvi o choro dela. Aelyra. Minha filha. Olhei por cima do ombro. Ela estava sentada no chão de pedra, tremendo de frio, as pequenas mãos cerradas, os olhos negros baixos. Liah a segurava contra o peito, tentando aquecê-la. Se

POV Magnus O templo estava gelado, mesmo com centenas de velas queimando nos altares. As vozes dos sacerdotes ecoavam contra as paredes de pedra negra, entoando cânticos antigos sobre união, aliança e submissão. Submissão. A palavra me fez ranger os dentes. Havia pouca honra em alianças forçadas, mas era necessário manter o domínio dos clãs do sul. Mesmo assim, meu lobo rosnava de desgosto, faminto por outra. Minha verdadeira esposa. Meus olhos percorreram o salão até encontrarem Liah. Ela estava parada no fundo, envolta em um manto grosso para esconder o corpo fraco do pós-parto. Mas nada escondia seus olhos negros, fixos em mim com um misto de dor e fúria contida. Quando o sacerdote se aproximou, segurando o cálice de prata, a princesa Sayra deu um passo à frente. Usava um vestido dourado, pesado, bordado com runas protetoras. Seu cheiro era doce e agressivo, como flores podres misturadas a perfume caro. Ela me olhou com aquele sorriso vitorioso que me deu náusea