POV Magnus A sala do trono estava fria naquela manhã. Os tochões ardiam nas paredes, mas o vento que vinha das montanhas penetrava até os ossos. Eu estava sentado no trono negro, os cotovelos apoiados nos joelhos, o olhar fixo no chão de pedra. Soldados e conselheiros falavam ao redor, mas suas vozes eram meros zumbidos na minha mente. Desde o casamento forçado com Sayra, minha cabeça latejava com o gosto ácido da traição. Mas pior que isso era a lembrança do corpo quente de Liah sobre o meu na noite anterior. Sua força. Seu olhar escuro e selvagem. Sua possessividade. “Ela não é apenas minha ômega,” pensei. “Ela é minha rainha.” Levantei-me quando os curandeiros entraram, trazendo as crianças para o ritual de consagração. Rael estava enrolado em peles brancas, os olhos fechados, respirando de forma suave e profunda. Ao lado, minha filha dormia num embrulho negro como a noite, a pequena boca entreaberta. Meus punhos se cerraram quando os vi. “Eles… são tudo o que

POV Magnus A sala do trono estava silenciosa, exceto pelo som abafado da neve caindo do lado de fora. Meus generais estavam ajoelhados diante de mim, cabeças baixas em reverência. Mas minha mente não estava ali. Minha mente estava nela. Em Liah. Em seu corpo curvado sob o meu naquela madrugada, nos gemidos roucos que escapavam de sua garganta enquanto meus dentes marcavam sua pele. “Se eu matasse a princesa… você me mataria?” Suas palavras ecoavam em minha mente desde então. Cada vez que lembrava daquele olhar vazio e negro, meu coração falhava um batimento. Não de medo… mas de um desejo tão sombrio que chegava a me enojar. Ela não tinha medo de nada. Nem da morte. Nem de mim. E isso me enlouquecia. — Magnus. A voz de Raegar me arrancou dos pensamentos. Ergui meus olhos para ele, que estava em pé ao meu lado, o rosto sério. — Os clãs orientais querem a confirmação do casamento com Sayra. Dizem que, se não for consumado logo, o tratado de paz será anulado. Meu m

POV Liah A lua negra pairava no céu como um presságio, cobrindo a fortaleza com sombras densas. Eu estava sentada diante do berço de pedra, observando minha filha dormir. Seu rosto sereno, mas seus pequenos punhos cerrados, como se estivesse pronta para lutar contra o mundo desde o ventre. Me inclinei, encostando os lábios em sua testa fria. — Você é mais perigosa do que qualquer lobo que já pisou nessa terra… — sussurrei, sentindo um arrepio percorrer minha espinha. — Mas eu… eu amo cada parte sombria que carrega. As lembranças daquela noite voltaram como lâminas: "Se eu matasse a princesa e causasse uma guerra você me mataria?" Magnus não respondeu com palavras. Ele apenas me puxou para seus braços e me consumiu como se quisesse apagar minha existência e, ao mesmo tempo, gravá-la eternamente na dele. Fechei os olhos, sentindo as dores ainda marcadas em minhas coxas e quadris. Era a única linguagem que falávamos fluentemente: destruição. --------------------------------------

POV Magnus O frio da noite cortava como lâminas de gelo, mas dentro dos muros do castelo, o ar estava denso, carregado com os murmúrios de conspirações e traições. Enquanto os soldados marchavam no pátio, eu permanecia em silêncio no meu escritório, com os olhos fixos no mapa estendido à minha frente. O reino estava prestes a entrar em um novo ciclo, e com ele, novas ameaças surgiam. A união com os clãs do sul, que eu havia aceitado por necessidade, agora era uma faca de dois gumes. Sayra, minha “esposa legítima” perante os clãs, parecia ter outras intenções. Uma aliança política ou uma ameaça de assassinato? Eu não podia mais confiar nela. Ela não era nada mais que uma peça no meu tabuleiro, mas o problema não estava em minha mente. O problema estava em mim: eu desejava que fosse Liah ao meu lado, a única mulher que eu amava e temia ao mesmo tempo. Levantei-me da cadeira, a tensão crescente no meu peito. A tempestade estava mais forte. E os ventos de guerra se aproximavam rapidam

POV Liah Acordei com o gosto de ferro na boca. Não sabia se era do sonho... ou do presságio. Aelyra não chorava. Nunca chorava. Ela apenas observava, como se esperasse o momento certo para despertar algo que nem mesmo eu, sua mãe, ousava nomear. Seus olhos estavam abertos no berço de pedra. Negros. Antigos. Falsamente quietos. Rael dormia ao lado dela, sereno como um raio de sol. Mas ela... ela era tempestade represada. Me aproximei em silêncio, sentindo a pele arrepiar com o frio anormal que envolvia o quarto, apesar da lareira acesa. O fogo queimava, mas o frio vinha dela. Apontei o dedo com hesitação, tocando de leve sua mão minúscula. Aeylra virou o rosto devagar. Não como um bebê, mas como uma rainha que recebe um súdito com desdém. E então... ela sorriu. Um sorriso idêntico ao que vi no rosto de Sayra. Fechei os olhos com força. “Eles querem separá-la de você...” A voz. A mesma. Dentro da minha cabeça. Abri os olhos, arfando. Aelyra dormia. Ou fingia. Me levantei r