POV Sophia SinclairMeus pés doíam. Mas era o peito que sangrava. Fechei a porta do quarto com força. Um estalo seco. Um ponto final. Encostei as costas na madeira e deslizei até o chão. A camisola subiu até as coxas, e eu não me importei. Nem com isso. Nem com nada. Eu estava cansada. Cansada de lutar por um amor que me empurra pra longe toda vez que eu chego perto. Cansada de amar um homem que me olha como se fosse o sol... mas vive na sombra. Cansada de carregar o peso de um sentimento que queima, mas não ilumina.Passei as mãos pelo rosto, sentindo a pele quente, os olhos arderem. Eu nem tinha percebido que estava chorando até as lágrimas molharem meus joelhos. Ele voltou. Ele voltou. E mesmo depois de tudo, mesmo com os cortes abertos, com os ossos trincados, com o sangue gritando perigo… ele ainda foi o único lugar onde meu coração quis morar. Mas ele me mandou embora. Outra vez. Disse que estava tentando ser o homem que meu pai queria. Mas eu não quero um homem que obedece. Qu

POV Sophia SinclairAs paredes de vidro pareciam me encarar. Transparentes, frias, imóveis demais, como se todo mundo ali soubesse onde pertencia, menos eu. O notebook aberto exibia gráficos que eu ainda não entendia e planilhas que pareciam falar grego corporativo. Eu estava ali, estagiária da porra de uma das empresas mais influentes do setor… e só conseguia pensar no barulho dos corredores da faculdade.Hoje foi estranho. Voltar para universidade depois de dois meses de férias me deu um choque de realidade. Todo mundo continuava igual… menos eu. As amigas falavam sobre estágios normais, namorados normais, noites normais. E eu estava aqui, estagiando na empresa do homem que era metade do meu apocalipse pessoal e outra metade do que me mantinha viva.As disciplinas novas também me deixaram ansiosa. No meio de tudo isso, Richard decide que é uma boa hora pra me jogar no mundo real. Um estágio. Aqui. Na empresa do Matthias. No império do homem que uma hora me ama, outra me empurra, e s

POV Matthias KaneMansão Sinclair, após o jantarA porta bateu atrás de mim como um tiro. O som ecoou pelo corredor, mas não o bastante pra calar o barulho dentro da minha cabeça. O jantar ainda fervia na minha garganta como veneno engolido à força. Matteo Grecco. O nome sozinho já era um insulto. Mas ver ele sorrindo pra ela… apertando a mão dela… era demais até pro inferno que carrego nas costas.Joguei o paletó na poltrona, o peito subindo e descendo como se eu tivesse corrido quilômetros. Mas não foi o corpo que cansou. Foi a alma. E dessa, eu não posso fugir. “Se tudo correr como o esperado… temos um futuro a selar.” As palavras do Richard martelavam na minha mente. Ele não a criou. Criou uma moeda. Uma peça política. A porra de um bilhete dourado pra selar a paz entre monstros. Mas e ela? Ela, caralho!A forma como ela me olhou. Primeiro surpresa. Depois ferida. No fim, raivosa. E com razão. Eu fui covarde. Voltei e me escondi. Larguei ela para lidar com tudo isso sozinha. E ago

POV Sophia SinclairMansão Sinclair – Dia seguinteO despertador tocou às 5h30. Mas eu já estava acordada. Aliás, acho que nem cheguei a dormir de verdade. Só fechei os olhos e deixei o tempo passar, como se o colchão fosse uma espécie de bote salva-vidas em alto-mar, tentando manter meu corpo à tona enquanto a cabeça afundava. A lembrança da noite anterior ainda estava grudada em mim como perfume barato. Aquele jantar maldito. O vestido vermelho. O nome Grecco pairando como sentença. E, claro… Matthias, com a mala aberta, os olhos decididos, o coração em frangalhos.Levantei devagar. Nada de treino hoje. Eu não queria socar o ar nem correr quilômetros como se estivesse fugindo de mim mesma. Eu só queria um café forte, uma roupa confortável e silêncio. Muito silêncio. Coloquei uma calça jeans, uma blusa branca e um casaco leve. Cabelo preso num rabo bagunçado, quase tão desorganizado quanto meus pensamentos. Desci as escadas devagar, o som dos meus passos ecoando na mansão vazia. Aque

POV Matthias KaneLocalização Confidencial – Missão Ativa O cheiro de mofo, pólvora e medo impregnava as paredes daquele depósito escondido entre galpões abandonados. O tipo de lugar onde o mundo fingia que pessoas não desapareciam, que meninas não gritavam por socorro e que monstros não usavam terno italiano. Era por isso que eu estava ali. Porque eu não sou o herói. Eu sou o cara que encontra esses monstros… e os arrasta até o inferno.A lanterna na minha arma varria o corredor escuro. Cada passo ecoava como uma ameaça. O calor grudava na pele. O ferimento na costela ainda latejava. Ponto mal fechado. Mas eu não podia parar agora.O nome dela piscava na minha mente feito maldição: Vittoria. A conexão ficou clara depois de semanas seguindo rastros podres: transações suspeitas, contas em paraísos fiscais, imagens borradas de uma mulher loira entrando e saindo de containers na fronteira da Polônia. Tudo levava a ela. E ao império da família Grecco, os mesmos que agora queriam selar “l