POV Sophia Sinclair – Estacionamento, fim das aulasO sol já estava se pondo quando saí do último bloco da faculdade. O céu tingido de laranja e roxo refletia exatamente como eu me sentia: cansada, confusa e com uma pontada de ausência me rasgando por dentro. Os corredores esvaziavam aos poucos, os alunos rindo, combinando bares e festas, e eu... eu só queria encontrar o Gabe e voltar para casa. Ou talvez nem voltar. Talvez correr para longe de tudo isso, me esconder de novo no quarto, como antes de tudo acontecer. Mas mesmo se eu corresse, ele não estaria lá. Matthias.A ausência dele era um fantasma silencioso grudado nos meus ombros. Não era só a falta física. Era a falta de resposta. A falta de presença. Era acordar e não vê-lo no café, era treinar sem ouvir suas instruções ríspidas, era não sentir aquele olhar que sempre parecia ver tudo que eu escondia. Era a porra do silêncio dele que mais doía. Gabe tinha tentado me distrair, ser leve, estar presente e eu era grata, mesmo que

POV Sophia Sinclair – Sala de TreinamentoA sala de treinamento estava mergulhada em penumbra, iluminada apenas pelas lâmpadas direcionais nos cantos e o brilho frio que entrava pelas janelas altas. O piso de madeira rangia sob meus passos e o som do meu próprio coração era alto demais. Vesti a calça preta justa, top esportivo, cabelos presos num rabo de cavalo firme. Luvas nos punhos. Enzo me esperava no centro da sala, braços cruzados, como um mestre ninja moderno com raiva engarrafada.— Chegou no horário. — ele disse, sem sequer me encarar. — Impressionante.— Não estou no clima para suas ironias, Enzo.— Ótimo. Porque hoje não vai ter conversa. Vai ter sangue, suor e alguma parte de você querendo desistir.— Essa parte morreu — respondi, firme. — Em algum lugar entre os relatórios da empresa e as ligações que nunca vieram.Ele arqueou uma sobrancelha e estalou os dedos. Eu me preparei. O som da porta se abrindo atrás de mim quase me distraiu, mas não ousei olhar. Enzo, claro, not

POV Sophia Sinclair – Bar da Cidade AltaA música pulsava nos alto-falantes com força suficiente para fazer o chão vibrar. Era um bar universitário, daqueles meio bagunçados, mas com charme e cheiro de cerveja gelada. Lâmpadas penduradas, gente rindo alto, mesas apertadas e garçons correndo com bandejas lotadas. O tipo de lugar que eu evitava… até hoje.Izzy estava empolgada como se fosse ano novo.— Um mês, Sophia! UM MÊS! — ela gritava, com os braços erguidos, como se a formatura já fosse amanhã. — E a gente sobreviveu, caralho!— Ainda tem o TCC — lembrei, mas ela me ignorou, puxando meu braço com força.— Cala a boca e comemora, desgraçada!Noah já estava na terceira cerveja e contava uma história absurda sobre seu novo namorado, um francês, designer de interiores, viciado em incenso e playlists de música clássica. Ninguém sabia se ele era real ou uma criação artística do próprio Noah, mas isso pouco importava. O riso era leve. E eu precisava daquilo como quem precisa de ar.— E e

POV Matthias KaneEla ainda estava ali, com aquele maldito brilho nos olhos. Ciúmes. Uma chama arrogante que queimava mais do que o necessário, mas que me arrancava um sorriso interno. Porque, mesmo depois de tudo, ela ainda se importava. Ainda reagia. Ainda era minha tempestade disfarçada de herdeira.A pasta nas mãos dela parecia um escudo patético contra tudo que estava prestes a acontecer.— Você está com ciúmes — repeti, cruzando os braços, me apoiando na lateral da mesa.— Estou observando — ela retrucou, nariz erguido, queixo duro, mas os olhos… ah, os olhos estavam entregues.Dei um passo. Outro. Parei diante dela, invadindo o espaço que ela tentava manter como defesa.— E o beijo? — sussurrei. — O beijo em Matteo? Foi só uma observação também?Ela estremeceu. Pequeno. Quase imperceptível. Mas eu vi. E aproveitei.— Achei que você não se importasse — disse, com a voz baixa, carregada de veneno e saudade.— Eu não me importo. — Mas a voz dela falhou na última palavra.Inclinei

POV Matthias KaneSaí do escritório de Richard com o peso da conversa ainda grudado nos ombros. Não havia solução fácil, não havia como sair limpo. Ou entrava de cabeça nessa guerra, ou aceitava que o nome dela continuaria na maldita lista.O corredor da mansão estava silencioso, mas quando passei pela porta do quarto de Sophia, senti o olhar dela. Não precisei virar para saber. Aqueles olhos sempre me encontravam. Continuei andando. Se eu parasse, não sairia dali.Segui até os fundos da casa, para onde ninguém ia a essa hora da noite. Tirei o celular do bolso e disquei o número.— Enzo. — Minha voz saiu seca, firme. — Quero você reunindo homens de confiança. Nada de amadores. Gente que saiba seguir ordens e sumir sem deixar rastros.Do outro lado, silêncio. Ele já sabia que isso não era sobre negócios comuns.— Vai ser grande? — ele perguntou.— Grande o suficiente pra mudar o mapa. Vamos começar a cortar a raiz da rede de tráfico. Preciso de equipe em campo e olhos em cada movimenta