Hunter Knoefel Quando Edward foi solto, eu sugeri a Maitê que adiássemos tudo, casamento, batizado, qualquer evento que pudesse nos expor. Mas ela não aceitou. No fundo, talvez estivesse certa: parar a nossa vida por causa dele não era uma boa ideia. Ainda assim, a situação me incomodava. O ruim era conviver daquela maneira, meu medo estava aprisionando a Maitê, como se fosse a própria Presidente da República, sempre cercada de seguranças, dentro e fora de casa. Só o amor que ela tinha por mim era capaz de suportar a perda da liberdade que isso a causava. Nenhum bem material no mundo pagava a felicidade que Maitê me dava, mas, mesmo assim, preparei duas surpresas. Como a aliança original dela havia se perdido e agora estava em posse de alguém que preferíamos esquecer mandei fazer novas alianças a partir da minha. Além disso, comprei uma gargantilha idêntica à que ela sempre usava, mas que também desaparecera no dia do seu sequestro. Quando cheguei em casa, encontrei-a no jardim. U

Hunter Knoefel Tentei baixar a guarda, ao menos dentro da minha cabeça. Em casa, porém, não conseguia. Continuava transformando meu lar em uma fortaleza, onde fazia de tudo para proteger minha esposa e meu filho. Eu não queria ser o paranoico da história, mas era impossível simplesmente ignorar o risco. Ainda assim, fiz um esforço para esquecer Edward. Afinal, o desgraçado parecia ter desaparecido de vez, como se tivesse evaporado no ar. Não pressionei a polícia. Estava deixando que eles ficassem à vontade em sua lerdeza habitual, buscando o marginal do meu irmão no ritmo deles, lento, quase preguiçoso. Eu sabia que, se dependesse de mim, Edward já estaria atrás das grades. Mas precisava guardar energia para minha família. Voltei a clinicar, e isso, de certa forma, era uma terapia. Operar, atender, salvar vidas… era como retirar de mim a tensão que carregava e passar a energia para outro propósito. Eu precisava disso. Precisava também aprender a curtir, de verdade, minha esposa e

Hunter KnoefelAbri os olhos com dificuldade. O frio me perfurou primeiro; depois veio a névoa na visão, como se alguém tivesse passado algodão por cima das minhas retinas. Ainda grogue, tentei entender onde estava. A cabeça latejava, a boca com gosto metálico, sinais claros: tinha sido dopado. Lembrei, com horror, de nomes de drogas: citalopram sozinho não faria aquilo, mas juntos a cetamina... sim. A mente ainda custava a ligar, então fechei os olhos de novo, tentando me acostumar à pouca claridade.Senti o corpo: sentado numa cadeira, as costas eretas, as mãos amarradas para trás, as pernas presas às do assento. Tentar se mover causava mais vertigem; respirações curtas e controladas foram tudo o que consegui fazer por um instante.Abri os olhos de novo. O ambiente confirmou o pavor: estava em um necrotério. Metais frios, azulejos claros demais, cheiro de produtos de limpeza misturado a um odor indefinido que só corredores hospitalares conseguem ter. A mesa de inox dominava o centr

Maitê MoreliEdward tirou a própria vida. Eu deveria me importar, não é isso que pessoas boas fazem? Sentem pesar, lamentam, rezam pela alma do falecido? Mas eu não conseguia. Dentro de mim só havia uma certeza: aquele desgraçado, antes de se atirar no inferno, tentou me destruir levando o amor da minha vida consigo.Corri até Hunter, desesperada, e me joguei sobre o corpo dele, sentindo o calor do sangue que manchava minha roupa, o cheiro metálico e sufocante da dor impregnando o ar. Segurei o rosto dele com as mãos trêmulas, as lágrimas borrando minha visão.— Desculpa, amor da minha vida… — minha voz falhou, engasgada. — Eu não consegui te salvar. Acho que piorei tudo. Eu não sei viver sem você…O choro me dominava, soluços rasgavam meu peito, até que senti algo inesperado: um leve toque em meus cabelos. Ergui os olhos, atônita, e encontrei o olhar dele, cansado, mas vivo.— Não chora, Mi Cielo… — a voz de Hunter saiu fraca, quase um sussurro. — Eu não morri. O disparo pegou no omb

Hunter KnoefelRichard corria, tropeçando nos próprios passinhos curtos, e logo atrás vinha Maitê, aflita, temendo que ele caísse. Com pouco mais de um ano de vida, o equilíbrio ainda era frágil, e cada corrida dele despertava um misto de riso e apreensão.Eu já conhecia bem aqueles lugares, mas revê-los ao lado da minha esposa e do meu filho tinha um sabor diferente. Gostava de observar o brilho nos olhos de Maitê quando descobria paisagens novas, como se fosse a primeira vez que alguém as enxergasse com tanta intensidade. Até então, o país que mais a havia tocado era a Espanha. Eu também tinha uma queda especial por lá — um lugar belíssimo, cheio de história e emoção.Ainda não tínhamos encontrado o negócio que buscávamos nessa caminhada de quatro meses pela Europa. Antes de chegar ao Vaticano, passamos pela Eslovênia, um país pequeno e curioso, que nos surpreendeu pela beleza. Depois, em Roma, a imensidão espiritual do Vaticano nos envolveu.O Vaticano, apesar de ser um microestado