Cap. 72— E você tá dando aula particular pra um homem que mal olha na sua cara. Isso sim é burrice. Burrice emocional em estágio terminal. Não te ensinaram a ter amor próprio na infância? — Melhor ser burra com esperança do que gênio em coma emocional, Angela — rebateu, se aproximando ainda mais como se estivesse num hotel cinco estrelas. — Vai sonhando que ele vai se apaixonar por você só porque você sabe enrolar um curativo, usar agulhas e fazer cara de quem sofre bonito. — Pelo menos eu não tenho que me espremer na cama dos outros pra chamar atenção. — Eu vim ver se você não tinha morrido — ela respondeu, já bocejando. — Mas confesso que agora estou torcendo pelo contrário.Suspirei fundo, bufando com um meio sorriso. Era impossível odiá-la de verdade. A gente se detestava com tanta dedicação que parecia carinho.O tipo de relação que só faz sentido pra quem já pensou em envenenar o chá da outra, mas também daria um tapa em quem tentasse fazer isso por você. A verdade é que Syll

Cap. 74— Eu… sim, estou melhor. — murmurou, hesitante, os olhos tentando encontrar algo em seu rosto que explicasse aquela visita inesperada. — Um pouco mais forte com as vitaminas.Ele assentiu com um movimento breve de cabeça, os olhos ainda nela enquanto Um silêncio incômodo se instalou entre os dois.— Recuperou a memória?Angela estremeceu por dentro. Seu coração tropeçou por um segundo.— Ainda não. — mentiu rapidamente, evitando os olhos dele.Lúcios soltou um suspiro irônico.— Tanto faz. Em dois dias você vai a um casamento comigo.— O quê? — Ela franziu o cenho, surpresa. — Por quê?Ele deu um passo à frente. Seu rosto estava impassível, como se aquilo fosse apenas mais uma transação sem valor emocional.— Porque é hora de pagar sua dívida.Angela apertou os lençóis com força.— Dívida? Eu não devo nada a você.Ele riu. Um som seco, sem alegria.— Não? — Os olhos dele brilharam com raiva contida. — Não foi por diversão e ganancia que tentou me matar, junto com Rafael? Sem f

Cap. 76Ponto de vista de Ângela.Eu ainda estava ajoelhada quando ele se afastou. Cada palavra era como uma história contada de algo que eu nunca vivi. Eu não me lembrava de nada. Ainda assim... a mágoa dele estava bem viva ali, mas eu não tinha culpa.— Lucios... — balbuciei, tentando encontrar alguma explicação, mas nem mesmo pedir desculpas fazia sentido. Eu não lembrava de nada daquele dia, a não ser do momento em que ele me colocou para fora. — Eu não lembrava... Eu não ficaria com ele se soubesse disso.— Mas aconteceu. E, desde o início, você teve atitudes que, neste momento, nem deveria ter a coragem de me encarar. — Ele disse com aquela voz baixa, grave, que me fazia tremer por dentro — mas, dessa vez, por um motivo completamente diferente.Eu tentei me justificar. Tentei... mas como explicar o inexplicável?— Eu não lembrava... — sussurrei. — Se eu lembrasse, teria...— Teria o quê? — Ele me interrompeu, ríspido. — Teria continuado rindo de mim como fazia naquela época? Não

Cap. 78— Tudo bem... eu te conto... vou escrever o que eu fiz, mas por mensagem. Você lê, mas guarda segredo, ok? — perguntei, com os olhos começando a marejar.Enquanto meus dedos deslizavam pelo celular, digitando os detalhes do que fiz com Lúcios, senti meu corpo todo pesar. A cada palavra escrita, mais minha culpa me sufocava. Quando enviei, não tive coragem de olhar para ele.Mike leu em silêncio. A expressão em seu rosto era difícil de decifrar. E então... eu desabei.— Me desculpa, Mike — solucei, as lágrimas correndo sem controle. — Eu... eu fiz uma merda. Eu não pensei! Eu só... pensei...— Na verdade, você não pensou? — ele perguntou sem conseguir piscar. — Cassete, Ângela, a mamãe vai matar nós três... — disse, dessa vez perdendo a postura, apoiou os cotovelos nos joelhos, com a mão cobrindo o rosto.— Eu sei... mas eu não quero me livrar e fingir que nada aconteceu...— Tudo bem, você está certa. Não vamos nos livrar, ok? Vamos cuidar disso juntos. Eu tenho que ligar para

Cap. 80Ângela subiu as escadas como um furacão. Seus pés batiam contra o chão de mármore como se cada degrau fosse um inimigo a ser vencido. O sangue fervia em suas veias, os olhos arregalados de pura indignação.O teatro entre Lúcios e Sylla tinha ultrapassado todos os limites da paciência que ela, até então, acreditava ter.Ela foi rapidamente ao quarto, pegou um pequeno frasco com algumas agulhas.— Nunca pensei que eu brincaria com o que minha mãe ensinou... mas foram eles que procuraram. Sylla, por me provocar abertamente.Não demorou muito para encontrar Sylla assim que saiu. Ela havia acabado de sair do próprio quarto com algumas peças de roupa na mão, para se trocar no quarto de Lúcios após o banho.— Sylla! — ela gritou ao virar o corredor, a voz ecoando pelas paredes como um trovão.Sylla, que caminhava toda animadinha em direção ao quarto de Lúcios com um vestidinho esvoaçante e sorriso triunfante, virou-se lentamente, como quem pressentia o caos vindo na sua direção. Assi