Mirela, com o sorriso contido e o olhar disfarçadamente afiado, comentou enquanto mexia o cappuccino:— Todos já sabem do casamento, João. Nem precisava fazer tanto alarde...A frase veio como quem solta um comentário casual, mas o veneno estava ali, misturado ao açúcar.Ana, percebendo o leve corte de Mirela, decidiu intervir com sua elegância materna:— Bom, semana que vem a família começa a chegar para o casamento. Estou curiosa… vocês já decidiram onde será a lua de mel?Amanda ergueu os olhos com serenidade e respondeu sem hesitar:— Sim. Vamos para Chopana, no campo das montanhas. Um lugar isolado, calmo… só nós dois.Carla e Ana se entreolharam surpresas. Carla foi a primeira a expressar:— Para lá? Achei que vocês escolheriam algo mais... tropical. Uma praia, quem sabe…Ana completou com leve inquietação no tom:— Um lugar mais... tradicional para lua de mel. Chopana é bonito, mas tão... afastado.João soltou um riso leve, um sorriso meio provocador surgindo em seus lábios. Co

A luz suave do entardecer atravessava as cortinas claras do quarto. Sofia, de robe de cetim, estava sentada diante da penteadeira escovando lentamente os cabelos. O espelho refletia o semblante pensativo e ligeiramente irritado da jovem esposa.José, sentado na poltrona próxima, folheava alguns documentos da empresa, distraído.— Tanta coisa... — murmurou Sofia, como quem falava sozinha.José levantou os olhos.— O que foi, amor?Sofia sorriu de canto, mas sem esconder o leve amargor:— Nada não... só pensando aqui... Quando nós casamos, não teve todo esse alvoroço. Nem vestido de alta costura, nem imprensa, nem joalheria cheia de flashes... — soltou uma risada seca. — Nem festa de uma semana.José largou os papéis no colo e a observou.— Amor... isso tudo é porque a Amanda ficou entre a vida e a morte. Todo mundo quer vê-la feliz depois de tudo que passou.Sofia soltou um suspiro.— Eu sei... só... sei lá. Às vezes parece que ela virou o centro do universo. Até sua mãe não fala de ou

O sol entrava pelas frestas das cortinas, dourando o ambiente com uma luz suave. Amanda ainda estava deitada, o corpo parcialmente coberto pelo lençol branco de linho, os cabelos soltos espalhados pelo travesseiro. Seus olhos estavam semicerrados, mas seu rosto transmitia tranquilidade — um raro momento de descanso em meio à rotina intensa.A porta se abriu devagar, e João entrou, com um leve sorriso nos lábios e uma bandeja nas mãos. Café fresco, torradas com manteiga, morangos cortados e suco de laranja. Ele estava com uma camiseta escura e a calça de moletom, descalço, leve, feliz.— Bom dia, minha marrenta preferida... — disse ele, com a voz baixa e cheia de carinho.Amanda se remexeu lentamente, puxando o lençol contra o peito, mas seus olhos já sorriam para ele.— Você vai me mimar assim todos os dias depois do casamento? — provocou ela, com preguiça doce na voz.— Não. — João respondeu, se aproximando. — Vai ser pior. Vai ser todos os dias da vida.Ele apoiou a bandeja na mesin

O gramado parecia recém-cortado. O vento leve soprava entre as árvores, e o lago refletia o céu claro. Ana apontava animada para os pontos onde seriam montadas a passarela, o altar e as cadeiras.— A cerimônia será aqui — disse ela, sorrindo. — Imaginem, vocês dois vindo do pomar, com as flores pendendo das árvores... romântico, não é?Amanda assentiu com um sorriso discreto. Estava elegante, com os cabelos presos e óculos escuros, observando tudo em silêncio por um instante. Mirela, que caminhava um passo atrás, aproveitou a pausa e soltou:— Vai ser um casamento digno de uma princesa... Tudo tão perfeito. Eu diria até... exageradamente perfeito. Nem parece que foi com o irmão que você cresceu brigando por espaço na casa.Amanda virou o rosto devagar, olhando para Mirela por cima dos óculos escuros:— E você diria isso porque... está com inveja da princesa ou saudade de quando achava que era ela?Ana, que escutava tudo, pigarreou tentando manter a harmonia, mas Amanda continuou, calm

Após o jantar, Amanda se levantou com um sorriso discreto e elegante. A movimentação suave de seu vestido chamou atenção, e, como de costume, João a seguiu pouco depois. Sentados ainda à mesa, os tios e as cunhadas de Ana trocaram olhares cúmplices. Uma delas comentou com um sorriso contido:— Eles são mesmo inseparáveis...Enquanto isso, Amanda caminhava até a varanda da casa, onde a brisa leve da noite acariciava seu rosto. De longe, observava Clara chegando com Bruno, os dois rindo de algo compartilhado no carro. Amanda sorriu levemente, mas logo sentiu braços fortes a envolverem sua cintura. Era João, com aquele toque seguro e carinho inconfundível.— O que minha marrenta está pensando aí sozinha? — perguntou ele, encostando o queixo no ombro dela.Amanda virou-se devagar, ficando frente a frente com ele. Os olhos dela estavam suaves, mas havia um brilho firme, determinado.— Estava pensando que... daqui uma semana, estaremos casados. Casados, João. E o mundo todo vai saber — diss