AngelO elevador até o 27º andar parecia desafiar todas as leis da física, como se o próprio prédio conspirasse para me dar tempo de recuar. Mas não recuei. Observei meu reflexo nas portas metálicas, ajustando o blazer azul com as mãos firmes, embora os dedos dissessem o contrário. O "ding" soou suave, mas meus ombros enrijeceram como se tivesse sido um alarme. O corredor estava vazio, silencioso como o interior de uma igreja prestes a sediar um funeral. O piso de mármore refletia minhas pernas como em um espelho embaçado, tornando tudo mais dramático.Encostada à parede, à esquerda da porta de acesso ao escritório de Iolanda, estava ela: Carolina. Impecável como sempre, maquiagem precisa, blazer bege claro, postura de quem nasceu para julgar. Os braços cruzados sobre o corpo magro e os olhos claros analisando cada centímetro meu, como uma avaliação fria de estoque.— Demorou — disse ela, afastando-se da parede com a leveza ensaiada de quem vive para aquele tipo de cena.— Tinha trab

(Sala de Reuniões da Figueiredo,   16h55)LucasA sala de reuniões estava iluminada demais para uma segunda-feira de manhã. A luz fria atravessava as janelas de vidro e se derramava sobre a mesa comprida onde os diretores da Figueiredo S/A se acomodavam em silêncio calculado.Era mais do que uma reunião comum. O clima no ar era diferente, estava tenso, como antes de uma tempestade. Iolanda, sentada à cabeceira como um general prestes a anunciar uma campanha militar, cruzava as mãos sobre a mesa e lançava olhares meticulosos para cada um de nós.Leonardo, ao meu lado, estava quieto. Angel, dois lugares depois, folheava distraidamente o relatório do marketing, mas eu conhecia bem cada pequeno gesto dela. Os dedos

(Sala de Reuniões da Figueiredo,   14h30) Angel A sala de reuniões da Figueiredo estava cheia, mas o ar parecia estagnado, pesado. Eu sentia o olhar dos diretores sobre mim enquanto ajustava o projetor, os dedos tremendo levemente. Não tinha medo. Era raiva.Lucas estava a milhares de quilômetros de distância, com ela grudada nele como uma segunda pele,. Carolina era perigosa, mas ela não vai ganhar essa batalha. Enquanto isso, estou aqui, em uma sala lotada de homens mais velhos, engravatados, com expressões que variavam entre o tédio e o julgamento.E Iolanda. Sentada à cabeceira da

AngelA pergunta ficou pairando entre nós.Porque eu sabia a resposta.Lucas era intenso, impulsivo, às vezes até cruel quando se sentia traído. Mas assediar Carolina?— Por que você está me contando isso agora? — perguntei, desviando.Igor respirou fundo.— Porque eu não quero que você se machuque achando que ele é algo que não é.O coração bateu forte no meu peito.— E por que se importa?Ele segurou meu olhar, e pela primeira vez, vi algo nele que não era apenas lealdade ou amizade.— Você sabe o porquê.O refeitório, os colegas, o barulho, tudo desapareceu por um segundo.Até que meu telefone vibrou na mesa.Era Lucas."Liguei pra você mais cedo. Tá tudo bem?"Olhei para a mensagem, depois para Igor, e pela primeira vez, uma dúvida minúscula se instalou na minha mente.E se ele estiver certo?Mas eu não podia deixar que isso acontecesse. Não assim.— Obrigada por tentar me proteger — falei, levantando-me com a bandeja na mão. — Mas eu conheço Lucas melhor do que qualquer um.Igor

(Apartamento do Lucas, 20h15)AngelEu fiquei em silêncio por um instante, como se minha mente precisasse de segundos a mais para processar o que estava acontecendo.— Eu quero falar com o Lucas. — Mantive a voz firme, mesmo sentindo meu estômago revirar.— Ele está... dormindo. — O sorriso dela foi sutil, calculado. — Longo dia, reuniões exaustivas, você entende. Achei melhor não incomodá-lo.O silêncio do outro lado da linha parecia uma provocação a mais. Eu me inclinei para frente, meu tom saiu firme, carregado de raiva contida.— Passa o telefone para ele. Agora.Carolina arqueou uma sobrancelha, fingindo um espanto debochado.— E quem exatamente você pensa que é para dar ordens? — Ela provocou, com aquele tom teatral que ela adorava usar para me provocar.Meu coração batia tão forte que eu mal conseguia controlar o volume da minha voz.— Eu sou a namorada dele, e ou você passa o telefone para ele agora, ou vai se arrepender amargamente de ter sequer tocado no celular dele.Do out